quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Poesia Declamada


O Natal traz à lembrança dos homens, um menino que nasceu em pobreza sendo ele, dono das riquezas do eterno. O Cristo veio para todos, mas nem todos o receberam. Os Profetas, na antiguidade, o anunciavam, e, desde o seu aparecimento nenhuma outra voz profética se levantou: para aqueles que o receberam, ele é o cumprimento das escrituras para salvação do homem.Há, ainda, uma categoria que ignora essa dádiva divina.

Nesses dias conturbados, da cidade com suas vias entupidas de tráfego e gente; das veias entupidas de estresse e desemprego , dos fast foods, das contas à pagar, o Natal é uma metáfora mercantilista e cruel que atua diretamente no cortejo da emoção da sociedade, observem: ela atua no consumismo desenfreado, trazendo luzes que encandeia sentido verdadeiro do olhar natalino e um tempo de confraternização baseado no comércio que precisa prosperar; então, criam-se novos mitos. Existe uma multidão que, ano após ano, vive na espera da chegada do Papai Noel: e ele não vem! Não é difícil constatar essa mesquinharia social, seja no Recife em seus rio e ruas de indiferença, transeuntes com rostos vestidos de mormaço, fantasia inaceitável, pintada pelas oligarquias ambiciosas, já fatigada na falência, desejando tirar dos pobres o que eles não têm. A festejar com seu capitalismo dilacerante, que olham o povo de cima para baixo; mas não aquece o coração da humanidade e, em meio as luzes que acendem árvores, edifícios e pontes, nos bancos das praças ornamentadas, quando o movimento das ruas dá lugar à madrugada fria e solitária, embaixo das marquises das igrejas do centro antigo da miséria, debaixo de lonas de plástico preto (que não se chama lar), os excluídos da festa comercial só podem esperar por uma sopa que aplaque a fome visceral que os come perene e lentamente. Mas, e o espírito? Como apaziguar o fundamento que, soprado no barro que somos, pela divina inspiração,deu-nos a consciência humana.

O que se ver? o quadro da política, imersa num rio caudaloso de escândalos de corrupção que, um após outro, parecem não ter limites de cinismo, mas é tão-só porque esse quadro merece uma abordagem mais profunda que o tema aqui – O Natal – não deve deixar encoberto; e não deixará! Afinal essa podridão é fator secular em nosso País, que acentua as desigualdades sociais. É preciso se fazer um conserto entre todas instâncias políticas, judiciárias, governamentais, da sociedade civil organizada, e, principalmente, um novo “concerto” em nossos corações e mentes para que nessa época e em todos os dias do ano, possamos olhar o irmão, abraçá-lo ou estender as mãos, cumprindo o mandamento que Jesus Cristo anuncia: O Amor.

Ontem, cruzando o Recife num táxi, parado em mais um engarrafamento, no rádio tocava uma música: “Então é Natal! E o que você fez?...” Entre os carros, uma criança maltrapilha, de olhar apagado e perdido, estendia a mão vagarosamente, com a pouca esperança de ser atendido por algum motorista, ou pelo Papai Noel que não vem nunca.

Portanto, afirma-se: igualmente aos palhaços dos circos que se apresentam nas cidades do interior, que hoje não tem espetáculo.Hoje nenhuma alma ambiciosa é irmã de DEUS.E finalizando vou no que afirmou o queridíssimo poeta Geraldino Brasil, em seu poema:”...enquanto houver uma criança assistindo ao domingo de outra criança,perdoe-me Deus, mas nem eu quero entrar nos reinos dos céus.”E com este cenário que se assiste, diga-se:Pode mandar a morte que eu tenho coragem de vivê-la.O caixão será o berço da manjedoura.a Injustiça a cova.E busque-se um NATAL para sempre e para todos.

Flávio Chaves, Membro da Academia Pernambucana de Letras, Associação Brasileira de Imprensa, Poeta e jornalista.

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