A crise do euro começou nos países de menor importância econômica: Irlanda, Portugal e Grécia e agora atinge economias maiores como Espanha e Itália, já apontando a França como a nova bola da vez. Sobraria como país importante só a Alemanha, que ainda pensa que está imune à crise. Fato é que sua sorte depende fundamentalmente da saúde desses países em recessão no seu intercâmbio comercial e nos reflexos que poderão vir do colapso do sistema financeiro de algum desses países. O artigo é de Amir Khair.
Cada dia aumenta a oscilação no humor dos mercados acompanhando os anúncios do sobe e desce da crise europeia. No último dia 30 veio a notícia que os bancos centrais dos Estados Unidos, Europeu (BCE), Canadá, Grã-Bretanha, Japão e Suíça concordaram em reduzir o custo das linhas existentes em suas operações, a partir do próximo dia 5.
O objetivo desses bancos centrais é “a aliviar as tensões nos mercados financeiros e, assim, mitigar os efeitos de tais apertos sobre a oferta de crédito às famílias e empresas, e assim ajudar a promover a atividade econômica”.
Eles acordaram em facilitar e ampliar até fevereiro de 2013 os intercâmbios de divisas entre si, a um juro reduzido de 0,50% e em alguns casos, prosseguir com suas operações de refinanciamento a três meses até nova ordem.
São decisões para garantir liquidez e evitar que os mercados de crédito travem, o que já estava ocorrendo nos bancos europeus devido a dúvidas sobre a capacidade da região de lidar com a crise da sua dívida.
Essas notícias impulsionaram dia 30 as bolsas de valores mundo afora, tendo a nossa chegado a crescer acima de 4%, fechado a 2,85%.
Creio que há um viés otimista numa parte das análises sobre o desenrolar da crise da zona do euro. Elas apostam que haverá solução para essa crise apesar dos agudos problemas econômicos, fiscais e financeiros, devido à impossibilidade de absorver ou dar garantia à montanha de títulos podres que carregam os bancos. Esses títulos se referem à dívida soberana dos governos que estão entrando em forte recessão que agravou as finanças publicas, e com sérios problemas sociais inerentes ao aperto fiscal, que sofreram.
A realidade vem indicando o agravamento crescente do quadro europeu. No dia 25 último veio a notícia de que a crise de confiança chegou afinal ao coração da Europa, a Alemanha, maior economia do bloco e sócio mais importante da união monetária. O sinal de alerta soou na quarta-feira (24), quando o Tesouro alemão só conseguiu vender 65% dos títulos no valor de €6 bilhões oferecidos ao mercado, e assim mesmo, com o Banco Central Alemão (Bundesbank) comprando parte desse total.
A crise do euro começou nos países de menor importância econômica: Irlanda, Portugal e Grécia e agora atinge economias maiores como Espanha e Itália, já apontando a França como a nova bola da vez. Sobraria como país importante só a Alemanha, que ainda pensa que está imune à crise. Fato é que sua sorte depende fundamentalmente da saúde desses países em recessão no seu intercâmbio comercial e nos reflexos que poderão vir do colapso do sistema financeiro de algum desses países.
A cegueira alemã consiste na sua intransigência em não apoiar os planos de socorro do BCE para comprar de forma mais intensa os títulos soberanos dos países com sérias dificuldades de honrá-los.
As agências de classificação de risco, com grande atraso, repetindo o ocorrido na crise de 2007/2008 acordaram para a crise europeia e agora começam a rebaixar as notas de classificação de risco de governos e bancos em profusão.
Em face desse quadro creio que há condições para se instalar uma recidiva da crise de 2007/2008, porém mais grave por envolver simultaneamente o sistema financeiro europeu e, dadas as relações estreitas com o sistema financeiro americano, pode contaminar ele.
Se essa avaliação for correta é de se esperar um mergulho mais profundo das economias europeia e americana, com redução expressiva do consumo de suas populações devido ao desemprego em níveis mais elevados em relação aos atuais, com aprofundamento da crise social durante vários anos. As ditas economias desenvolvidas passarão a ser chamadas de economias estagnadas. Suas moedas serão desvalorizadas e elas serão cada vez mais dependentes da exportação, disputando com países que têm custos mais baixos, como os do leste da Ásia. A situação é difícil e poderá exigir a redução de salários para enfrentar a concorrência internacional.
Nesse cenário, as economias dos países emergentes seriam afetadas pela redução das exportações e enxugamento do mercado de crédito. A saída delas é se apoiar na ampliação dos seus mercados internos. Isso ajudaria a direcionar parte dos produtos antes destinados ao mercado externo para serem usados e consumido no país. Além disso, existe a possibilidade de usar políticas públicas de redistribuição de renda e de redução dos custos que mais pesam nas camadas de renda média e baixa como: alimentação, habitação, transporte, saúde e educação. Isso amplia o poder aquisitivo delas estimulando o desenvolvimento econômico, além do maior atendimento na área social.
Os países emergentes poderão ampliar seu poder de competição externa na evolução desse processo, devido aos salários mais baixos, e ampliação da produção devido ao crescimento do mercado interno, o que reduz os custos devido à economia de escala.
O Brasil tem boa munição para o enfrentamento dessa recidiva. Goza de situação fiscal confortável, reservas internacionais de US$ 350 bilhões, depósitos compulsórios dos bancos no Banco Central (BC) superior a R$ 400 bilhões, além de ter juro básico elevado, que pode ser rebaixado, reduzindo despesas do governo federal e, taxas de juros do sistema financeiro elevadas, que reduzem o consumo e que podem baixar se o governo quiser.
Preocupado com a desaceleração da economia, o governo anunciou nesta quinta-feira novo pacote de medidas para estimular os empréstimos dos bancos para a população e, consequentemente, aumentar o consumo das famílias.
O governo decidiu reduzir o Imposto Sobre Produtos Industrializados sobre os produtos da linha branca, como geladeiras, fogões e máquinas de lavar. Além disso, a alíquota do Imposto Sobre Operações Financeiras para pessoas físicas está sendo reduzida de 3% para 2,5% ao ano. Com isso, está sendo revertido, parcialmente, o aumento do tributo efetuado em abril.
Recentemente a presidente Dilma Rousseff tem pedido aos brasileiros que continuem consumindo e que as empresas mantenham sua produção.
No dia 25 último, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reuniu-se com representantes de entidades ligadas à indústria e ao varejo e afirmou que “nós estaremos tomando medidas para continuar estimulando o consumo, para que ele volte ao patamar adequado para manter a economia crescendo entre 4% e 4,5%”.
Infelizmente o BC vai agindo em contradição ao que tem manifestado seu presidente e em suas atas e relatórios quanto à preocupação com os reflexos da crise europeia. A parcimônia com que vem reduzindo a taxa básica de juro é preocupante. Continuamos praticando a maior taxa do mundo. Isso desestimula os investimentos, impede o equilíbrio fiscal e artificializa o câmbio reduzindo a competitividade de nossas empresas. É hora de mudar isso para completar o arsenal de defesa do País para enfrentar a crise que já está em nossa porta.
O objetivo desses bancos centrais é “a aliviar as tensões nos mercados financeiros e, assim, mitigar os efeitos de tais apertos sobre a oferta de crédito às famílias e empresas, e assim ajudar a promover a atividade econômica”.
Eles acordaram em facilitar e ampliar até fevereiro de 2013 os intercâmbios de divisas entre si, a um juro reduzido de 0,50% e em alguns casos, prosseguir com suas operações de refinanciamento a três meses até nova ordem.
São decisões para garantir liquidez e evitar que os mercados de crédito travem, o que já estava ocorrendo nos bancos europeus devido a dúvidas sobre a capacidade da região de lidar com a crise da sua dívida.
Essas notícias impulsionaram dia 30 as bolsas de valores mundo afora, tendo a nossa chegado a crescer acima de 4%, fechado a 2,85%.
Creio que há um viés otimista numa parte das análises sobre o desenrolar da crise da zona do euro. Elas apostam que haverá solução para essa crise apesar dos agudos problemas econômicos, fiscais e financeiros, devido à impossibilidade de absorver ou dar garantia à montanha de títulos podres que carregam os bancos. Esses títulos se referem à dívida soberana dos governos que estão entrando em forte recessão que agravou as finanças publicas, e com sérios problemas sociais inerentes ao aperto fiscal, que sofreram.
A realidade vem indicando o agravamento crescente do quadro europeu. No dia 25 último veio a notícia de que a crise de confiança chegou afinal ao coração da Europa, a Alemanha, maior economia do bloco e sócio mais importante da união monetária. O sinal de alerta soou na quarta-feira (24), quando o Tesouro alemão só conseguiu vender 65% dos títulos no valor de €6 bilhões oferecidos ao mercado, e assim mesmo, com o Banco Central Alemão (Bundesbank) comprando parte desse total.
A crise do euro começou nos países de menor importância econômica: Irlanda, Portugal e Grécia e agora atinge economias maiores como Espanha e Itália, já apontando a França como a nova bola da vez. Sobraria como país importante só a Alemanha, que ainda pensa que está imune à crise. Fato é que sua sorte depende fundamentalmente da saúde desses países em recessão no seu intercâmbio comercial e nos reflexos que poderão vir do colapso do sistema financeiro de algum desses países.
A cegueira alemã consiste na sua intransigência em não apoiar os planos de socorro do BCE para comprar de forma mais intensa os títulos soberanos dos países com sérias dificuldades de honrá-los.
As agências de classificação de risco, com grande atraso, repetindo o ocorrido na crise de 2007/2008 acordaram para a crise europeia e agora começam a rebaixar as notas de classificação de risco de governos e bancos em profusão.
Em face desse quadro creio que há condições para se instalar uma recidiva da crise de 2007/2008, porém mais grave por envolver simultaneamente o sistema financeiro europeu e, dadas as relações estreitas com o sistema financeiro americano, pode contaminar ele.
Se essa avaliação for correta é de se esperar um mergulho mais profundo das economias europeia e americana, com redução expressiva do consumo de suas populações devido ao desemprego em níveis mais elevados em relação aos atuais, com aprofundamento da crise social durante vários anos. As ditas economias desenvolvidas passarão a ser chamadas de economias estagnadas. Suas moedas serão desvalorizadas e elas serão cada vez mais dependentes da exportação, disputando com países que têm custos mais baixos, como os do leste da Ásia. A situação é difícil e poderá exigir a redução de salários para enfrentar a concorrência internacional.
Nesse cenário, as economias dos países emergentes seriam afetadas pela redução das exportações e enxugamento do mercado de crédito. A saída delas é se apoiar na ampliação dos seus mercados internos. Isso ajudaria a direcionar parte dos produtos antes destinados ao mercado externo para serem usados e consumido no país. Além disso, existe a possibilidade de usar políticas públicas de redistribuição de renda e de redução dos custos que mais pesam nas camadas de renda média e baixa como: alimentação, habitação, transporte, saúde e educação. Isso amplia o poder aquisitivo delas estimulando o desenvolvimento econômico, além do maior atendimento na área social.
Os países emergentes poderão ampliar seu poder de competição externa na evolução desse processo, devido aos salários mais baixos, e ampliação da produção devido ao crescimento do mercado interno, o que reduz os custos devido à economia de escala.
O Brasil tem boa munição para o enfrentamento dessa recidiva. Goza de situação fiscal confortável, reservas internacionais de US$ 350 bilhões, depósitos compulsórios dos bancos no Banco Central (BC) superior a R$ 400 bilhões, além de ter juro básico elevado, que pode ser rebaixado, reduzindo despesas do governo federal e, taxas de juros do sistema financeiro elevadas, que reduzem o consumo e que podem baixar se o governo quiser.
Preocupado com a desaceleração da economia, o governo anunciou nesta quinta-feira novo pacote de medidas para estimular os empréstimos dos bancos para a população e, consequentemente, aumentar o consumo das famílias.
O governo decidiu reduzir o Imposto Sobre Produtos Industrializados sobre os produtos da linha branca, como geladeiras, fogões e máquinas de lavar. Além disso, a alíquota do Imposto Sobre Operações Financeiras para pessoas físicas está sendo reduzida de 3% para 2,5% ao ano. Com isso, está sendo revertido, parcialmente, o aumento do tributo efetuado em abril.
Recentemente a presidente Dilma Rousseff tem pedido aos brasileiros que continuem consumindo e que as empresas mantenham sua produção.
No dia 25 último, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reuniu-se com representantes de entidades ligadas à indústria e ao varejo e afirmou que “nós estaremos tomando medidas para continuar estimulando o consumo, para que ele volte ao patamar adequado para manter a economia crescendo entre 4% e 4,5%”.
Infelizmente o BC vai agindo em contradição ao que tem manifestado seu presidente e em suas atas e relatórios quanto à preocupação com os reflexos da crise europeia. A parcimônia com que vem reduzindo a taxa básica de juro é preocupante. Continuamos praticando a maior taxa do mundo. Isso desestimula os investimentos, impede o equilíbrio fiscal e artificializa o câmbio reduzindo a competitividade de nossas empresas. É hora de mudar isso para completar o arsenal de defesa do País para enfrentar a crise que já está em nossa porta.
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