quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Seguridade será desfalcada mas social leva meio orçamento até 2015

Senado aprova em definitivo e, com Câmara, promulga nesta quarta regra que libera governo para gastar livremente 20% da receita até 2015. Seguridade será maior atingida. Plano Plurianual também aprovado pelo Congresso nesta terça reserva 56% do orçamento ao social até 2015. Juro da dívida terá cerca de 8% da receita e custará um mínimo por brasileiro ao ano.



BRASÍLIA – O Congresso Nacional, em sessão conjunta de deputados e senadores, vai promulgar nesta quarta-feira (21) uma mudança na Constituição que permitirá ao governo usar como quiser, durante quatro anos, 20% de tudo que coletar com tributos. No período em que a autorização estiver em vigor, o governo deverá arrecadar R$ 5,5 trilhões, dos quais mais da metade será investida na área social, cerca de um quarto em obras de infra-estrutura e algo entre 8% e 9%, no pagamento de juros da dívida pública.

Essa distribuição dos recursos federais consta de uma espécie de orçamento de quatro anos, válido para o período de 2012 a 2015, que o governo Dilma Rousseff tinha proposto ao Congresso em agosto e foi aprovado nesta terça-feira (20), penúltimo dia de trabalho parlamentar em 2011. O chamado Plano Plurianual (PPA), cujo relator, senador Walter Pinheiro (PT-BA), acrescentou mais R$ 100 bilhões na previsão de gastos, foi à sanção da presidenta Dilma Rousseff.

Dentro da área social, o setor que de longe ficará com mais recursos será a Previdência Social (55% do total). A segunda colocada, que é a saúde, levará 12%. Os dois orçamentos poderiam até ser maiores, caso o Congresso não promulgasse nesta quarta-feira (21) a autorização para o governo usar como quiser 20% das receitas.

A permissão foi pedida pelo próprio governo, em projeto que renova a chamada Desvinculação de Receitas da União (DRU). Com a DRU, que existe há mais de 15 anos, ainda que com outro nome, o governo pode aplicar livremente parte do que arrecada, e a área mais desfalcada é a seguridade social, composta, pela Constituição, por saúde, previdência e assistência.

A DRU atual vence dia 31 de dezembro e, para governo, prorrogá-la era a votação mais importante dos primeiros 12 meses da gestão Dilma. A última votação da DRU, que precisou de duplo aval de deputados e senadores, ocorreu também nesta terça-feira (20). O Senado aprovou-a por 55 votos a favor e 13 contrários. Há duas semanas, tinha aprovado em votação inicial por 59 a 12.

De acordo com o governo, manter a DRU por mais quatro anos era fundamental por duas razões básicas. A primeira é que o mecanismo oferece a oportunidade de o governo canalizar recursos para ações que considera mais importantes, num determinado momento, do que orientações previstas na Constituição. Por exemplo: a construção de casas populares, que até 2015 levará um terço do dinheiro separado no PPA para a área de infra-estrutura.

A outra razão é a crise econômica global. O governo conta com a DRU para continuar tendo como arranjar dinheiro para pagar valores elevados de juros da dívida pública, o chamado superávit primário. Com países europeus sofrendo com dívidas que têm com o sistema financeiro, seria bom, diz o governo, não levantar dúvidas de que o Brasil consegue pagar a sua.

Em 2012, a DRU vai garantir cerca de R$ 15 bilhões só para esta finalidade. Até 2015, segundo o PPA, o superávit primário receberá cerca de R$ 450 bilhões da arrecadação prevista, e a DRU é essencial para isso.

Esta despesa projetada com juros da dívida pública significa que, nos próximos quatro anos, cada brasileiro vai pagar cerca de um salário mínimo por ano para que o governo faça superávit primário.

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