Com Chávez, petista acompanhou desfile partidário-militar e ouviu discursos contra o capitalismo
Hugo Chávez (na frente, à direita, com a faixa
presidencial), Nicolás Maduro (à esquerda) e José Dirceu logo atrás (de
branco, última fileira)
(Alexandre Schneider)
No segundo dia do Foro de São Paulo, realizado no hotel Alba, em Caracas, o que valeu foram os passeios externos. Logo de manhã, uma comitiva saiu para um ato no Palácio da Assembleia Nacional. Entre eles estava o petista JOSÉ DIRCEU, que faz sua última viagem ao exterior antes do início do julgamento do mensalão.
No salão da câmara, o chanceler Nicolás Maduro deu um longo discurso sobre os 201 anos de independência da Venezuela, os quais ele explica como sendo uma luta constante, com outros países da América Latina, para tentar evitar golpes de estado promovidos pela burguesia e pelos americanos. O presidente venezuelano Hugo Chávez ainda aproveitou a atenção para atacar a elite, o capitalismo e o império.
De lá, o grupo seguiu de ônibus para a área militar de Fuerte Tiuna. No tradicional desfile da independência, funcionários do governo envolvidos em missões assistencialistas, civis que receberam treinamento militar, soldados, tanques e caças desfilaram para um público vestido de vermelho, a cor do partido de Chávez. A todo momento, gritavam-se urras ao presidente venezuelano, que está em plena campanha eleitoral. Foi um ato partidário-militar.
Apesar das cirurgias que teriam extirpado um câncer e uma reincidência, Chávez mostra-se bem disposto. Embora ande um pouco devagar, sobe e desce escadas sem ajuda, apenas dando a mão para uma de suas filhas.
Na abertura do desfile, Chávez disse que os golpes militares da América Latina não foram feitos por militares. Foram, isso sim, obras da burguesia capitalista insuflada pelos Estados Unidos. Ao final do desfile, outro discurso e mais ataques contra a burguesia, o capitalismo e o império americano. Cantou um pouquinho, acompanhado de uma banda, e ainda conseguiu contextualizar tudo usando o que aprendeu lendo o filósofo alemão Friedrich Nietzsche: “e tem a coisa do eterno retorno, como dizia o Federico”. Então, renovou os ataques contra a burguesia, o capitalismo e o império americano.
Na mesma fileira de Chávez estava o chanceler Nicolás Maduro, que foi flagrado em um vídeo reunindo-se com militares paraguaios no Palácio de Lopez, em Assunção. Maduro ordenou que eles impedissem a votação no Senado, que mais tarde destituiria o ex-presidente Fernando Lugo. Os chefes das forças armadas recusaram-se a cumprir a ordem externa e preservaram a democracia. Sobre o vídeo que mostra o encontro, divulgado pela ministra de defesa do Paraguai, María Liz García, Chávez fez mistério. “Tem muita coisa por trás disso que eu nem posso dizer. Se um dia eu for contar tudo, nossa!”, disse ele. Explicar, nem precisa. O povo já entendeu tudo. Uma das expectadoras mais afoitas foi direta: “Chávez, te necessito!”.
Pouco atrás de Chávez estava Piedad Córdoba, a ex-senadora colombiana que foi flagrada dando conselhos para as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e teve os direitos políticos cassados pela Justiça. Algumas fileiras mais atrás sentou-se o petista José Dirceu, de camisa branca.
À noite, Dirceu participou discretamente da inauguração do Foro de São Paulo, de volta ao hotel Alba. O secretário de relações internacionais do Partido dos Trabalhadores, Valter Pomar, foi um dos que falou no ato. “Mas a direita tem alguma dúvida de que a esquerda latino-americana apoia Hugo Rafael Chávez Frias?”, disse Pomar.
fonte:veja
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