Por Fernando Castilho,
Agora que as prévias do PT se encerraram e o prefeito João da Costa se declarou oficialmente o candidato à reeleição para o cargo de prefeito do Recife, cabem dois tijolos de conversa sobre como o partido, que está no poder da capital do estado que mais cresce no Brasil, deixou se envolver nessa luta fraticida.
E porque, sem cumprimentos dos vencidos e vencedores inclusive e o risco de intervenção nacional no processo, expôs a comunidade pernambucana, a absurda luta de facções internas capazes de pensamentos, palavras e atos que nem mesmo a oposição seria capaz de perpetrar no pleito de outubro próximo.
Esse raciocínio vale em razão de, a despeito de tudo que o PT faz de diferente nacionalmente, expondo suas vísceras em público e se destratando pela mídia, o caso Recife remete à máxima de que “roupa suja se lava em casa”, trocada pela de que “roupa suja se lava aonde existe água”.
O que se viu no Recife está a quilômetros do que se viu, em 1996, quando PT se dividiu, e muito mais da briga do PMDB de Pernambuco na década de 80. Naquele episódio, o diretório municipal presidido pelo advogado Zelândio Marques negou ao principal líder do partido, Jarbas Vasconcelos, o direito de ser candidato obrigando-o a se bandear para o PSB criado especialmente para lhe dar guarida e pelo quando venceu a eleição.
O caso do PT do Recife é especialmente interessante, pois não esteve em discussão pelos candidatos nenhuma proposta de mudança na orientação estratégica da cidade que o partido cuida há 12 anos. Não existiu o confronto de formatos de administração ou de orientação estratégica. Até porque, poucas semanas atrás todos estavam no mesmo barco.
Também não se pode dizer que o prefeito João da Costa tenha mudado qualquer programa ou projeto do seu antecessor ou não tenha dado continuidade a todas as grandes ações e todo o programa de obras de gestão da cidade. A administração de João da Costa é tão fiel ao modelo desenhado por João Paulo que ele quase adotou mesmo slogan "a grande obra é cuidar das pessoas". E é, exatamente por manter a proposta original do antecessor, que João da Costa vem tendo níveis de aprovação medíocres e abaixo da crítica. João da Costa é farinha do mesmo saco de João Paulo.
Certo, pode-se dizer que João da Costa não tem gestado a Prefeitura do Recife politicamente. Que se isolou e que não dividiu o poder com o arco de partidos que detém na Câmara. Mas pode-se dizer que por isso pagou a conta politica da má avaliação.
E então, o que leva ao PT se esfaquear em praça publica? Talvez pela perspectiva de poder de um grupo que não acredita que o projeto do PT gerenciado por João da Costa possa ser reprovado pelo eleitor. O medo não é de perder pela proposta de gestão, mas pela personalidade do gestor. Como se Rands fosse diferente de João da Costa. Não é. E se tem virtudes ou defeitos, tem a mesma origem política.
Entretanto, para tentar entender essa desastrada disputa de Maurício Rands é preciso voltar à briga travada na cozinha e no quintal do partido, pelos dois lideres do partido do Recife. É preciso ver como a frustração de um líder com seu liderado pode levar um partido como PT, sócio do governador Eduardo Campos na gestão da cidade, a uma luta quem em nenhum momento teve a ver com o destino da cidade.
A briga de João Paulo com João da Costa é coisa pequena. Briga de egos de quem achava que por ter dado ao um obscuro e tarefeiro militante um mandato de deputado e a seguir, o cargo de prefeito, poderia governá-lo à distância. Como se a cadeira de prefeito do Recife e as responsabilidades administrativas com a cidade não o obrigasse a ações e atitudes bem acima de qualquer acordo político.
João Paulo, em nenhum momento, acusou João da Costa de corrupção. Em nenhum momento, acusou-o de trair os objetivos sociais e econômicos de sua administração. Também em nenhum momento acusou-o de não ter cumprido qualquer compromisso político que ambos negociaram com a frente de partidos que ajudou a construir sua maioria na Câmara Municipal.
Não se pode imaginar que João Paulo esteja queixando-se de algum tipo de compromisso não republicano que, por ventura, eles tenham acertado. Até agora, tanto um como o outro não deram qualquer sinal de que misturam o interesse público com o privado. Pelo menos, não há denúncias. Não é crível, nem justo com eles, ligar essa briga a esse tipo de interesse.
Então, por que João Paulo destrata, em privado, João da Costa e, sequer, pronuncia seu nome em público? Por acaso seu desejo era de que João da Costa fosse uma espécie de Dmitry Medvedev que, eleito por Vladimir Putin, guardou seu lugar até que ele voltasse ao poder? Que espécie de democrata é ele, a ponto de mirar-se num exemplo tão ruim para a democracia?
Ninguém, até que um deles diga o que provocou essa briga, saberá. Mas, o absurdo é que o PT com todas as suas lideranças tenha embarcado na disputa das prévias quando o partido está no poder. E que essa disputa tenha sido disputada no clima fraticida que se viu. O que é absurdo é como lideranças como Humberto Costa, Pedro Eugênio e, até mesmo intelectuais e demais parlamentares, tenham entrado numa aventura que tem origem numa briga pessoal de criador e criatura onde o primeiro, queixando-se, ter sido expulso do paraíso.
Essa briga de Joãos não tem nada a ver com o destino do Recife e do PT de Pernambuco e da aliança que governa a cidade. E as lideranças do PT não tinham o direito de se deixar levar por essa disputa pessoal. Faltou, a elas, a coragem cívica para dar um basta e seguir em frente.
Terminado esse pleito interno com a vitória de João da Costa, como voltam para o diretório as lideranças que apoiaram Rands? E se o PT nacional reconhecer os resultados para evitar mais desgaste? As feridas? Cicatrizaram apenas com o unguento das urnas? Ou eles ruminarão a amargura de ter entrado numa aventura, que desde o inicio sabiam ser difícil no qual o maior prejudicado seria como foi indiscutivelmente o senador Humberto Costa na sua meta de se candidatar ao governo em 2014? Agora importa pouco o resultado porque João da Costa terá que marchar sozinho. Ou quase assim.
Talvez, cheguem à conclusão que foi um equívoco deixarem-se levar pelos queixumes de João Paulo que, pelos seus interesses, inventou João da Costa, negou a Humberto Costa a chance de ser candidato a prefeito e levou o Partido dos Trabalhadores a uma briga que só fez fragilizá-lo e dividi-lo. Talvez, entendam que, no fundo, a grande obra de João Paulo tenha sido mesmo a de separar as pessoas.
fonte:JORNAL DO COMMERCIO
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