Não há nada por acaso no mundo da política, assim como ninguém cede à pressão sem uma contrapartida. Acostumada a reinar quase absoluta no PT paulistano quando o assunto era prefeitura, a senadora Marta Suplicy demorou a aceitar a ideia de ceder o lugar ao novato “companheiro” Fernando Haddad, ex-ministro da Educação e incensado por Lula como candidato do partido ao comando da maior cidade brasileira.
Em um primeiro momento a senadora petista enviou sinais de que uma volta à Esplanada dos Ministérios compensaria sua saída de cena na corrida ao trono paulistano. Nada aconteceu e Marta voltou a endurecer o jogo. A segunda tentativa de negociação surgiu com a possibilidade de a senadora assumir uma embaixada brasileira, possivelmente em Washington, o que explica sua participação na comitiva oficial da presidente Dilma Rousseff, que recentemente visitou o colega Barack Obama.
Como até agora nada ficou definido, Marta Suplicy voltou à carga contra a decisão do PT de manter a candidatura de Fernando Haddad, um neófito em termos de eleição e que está empacado nos 3% de intenção de voto. Enquanto Lula insiste em endossar Haddad, a senadora petista dispara contra o candidato que já foi seu assessor na prefeitura de São Paulo.
Durante homenagem ao ex-presidente Lula, na Câmara Municipal de São Paulo, na noite de segunda-feira (21), Marta disse que na disputa eleitoral que se avizinha “não basta o novo”, mas é preciso “um programa novo” para a capital dos paulistas.
“Nós temos grandes desafios na campanha eleitoral de São Paulo, uma grande campanha com forças de oposição em São Paulo. Essas forças são muito claras, onde houve oito anos de exclusão. Agora nós estamos nesse embate, embate difícil, onde a disputa será voto por voto. Não basta o novo na cidade, temos de ter programa novo, porque São Paulo não é qualquer cidade” declarou Marta durante discurso no Legislativo paulistano.
Enquanto companheiros de legenda presentes ao evento interpretaram a fala da senadora como um duro recado ao ex-presidente Lula e um ataque frontal ao candidato Haddad, o que se depreende do discurso é que Marta Suplicy deseja ver sua situação definida. Como nada do que foi combinado nos bastidores aconteceu, a senadora pode voltar à cena com a tese de que tem condições de enfrentar o tucano José Serra, que a derrotou em 2004 na disputa pela prefeitura de São Paulo.
Se o PT ceder às pressões de Marta Suplicy, o ex-presidente Lula sairá da disputa com seu cacife político abalado. E isso dificilmente acontecerá, pois qualquer decisão nesse sentido depende da anuência da cúpula da legenda. Se for vencida, o que deve acontecer, Marta passará os próximos dois anos dando estocadas em Lula e na presidente Dilma Rousseff, que não atenderam aos seus pedidos.
Por sua vez, Lula, que voltou a criticar as chamadas elites, tentou minimizar o estrago provocado pela senadora. “A Marta Suplicy, digo isso para todo mundo, é a maior vitima de preconceito de uma parte da elite de São Paulo, porque ousou governar para os pobres dessa cidade. Isso não era aceito por parte da elite, é um preconceito secular”, afirmou o ex-presidente.
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