Por mais otimista que a gente seja em relação ao Brasil e ao Rio, e eu sou, há momentos em que pessimismo e desânimo baixam sobre nós, como agora. Diante do sofrimento dos parentes e amigos das vítimas de Santa Maria e em face das irregularidades e transgressões que reinam no Rio, onde poderia ter acontecido o mesmo, como manter viva a esperança?
Se o estado e a prefeitura não conseguem fiscalizar suas próprias casas, como foi mostrado aqui pelo repórter Luiz Felipe Reis, imagina a dos outros. No levantamento solicitado pelo jornal às autoridades, foi constatado que, dos 56 espaços culturais do município, 36 estão funcionando sem autorização do Corpo de Bombeiros, e, dos 23 estabelecimentos de responsabilidade estadual, 13 não possuem o certificado da corporação.
Se foi possível realizar com tanta rapidez esse levantamento, por que não se fez antes? Da mesma maneira, prefeitura e estado conseguiram logo uma inspeção completa nos equipamentos de diversão. Por que só agora?
Secretários alegaram surpresa, desconhecimento, falta de tempo para tomar providências etc Contando eleição e reeleição, Sergio Cabral está no governo há sete anos e Eduardo Paes há quatro na prefeitura. Será que o tempo não foi suficiente para tomarem conhecimento da situação do nosso universo de entretenimento — salas de teatro, cinema, boates, restaurantes?
Na escala de responsabilidades do poder público no caso, seria importante descobrir qual a parte que cabe ao Corpo de Bombeiros e aos gestores das áreas. O prefeito Eduardo Paes disse: “Nossa posição continua a ser ‘fecha antes e pergunta depois.’” Muito bem. A pergunta também continua: por que esse rigor repentino, só agora?
O fato é que se as providências de vistoria e fiscalização tivessem sido tomadas sistemática e regularmente no seu devido tempo, e não na correria e de uma só vez, nessa espécie de blitz ou mutirão passageiro, poderia ser evitado o que está ocorrendo agora: depois da revelação do GLOBO (se não tivesse havido a denúncia, provavelmente não se saberia de nada), dezenas de espaços culturais com irregularidades foram suspensos ou fechados.
Isso significa que a cidade vai ficar praticamente sem programação artística por pelo menos 20 dias, um castigo por privação para o público e os artistas, que vão pagar pela negligência e o descaso do estado e da prefeitura.
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Para aumentar o desânimo, mais um baque, esse moral: a eleição de Renan Calheiros para presidente do Senado. O nome dos 56 parlamentares que possibilitaram isso deveria ficar gravado na memória nacional.
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