domingo, 23 de janeiro de 2011

Entre o ''fervor socialista'' e os atropelos de Chávez


Governo aprofunda ocupação do espaço público e político; democracia e economia balançam

Quente, quente, a primavera será quente. Os franceses costumam gritar isso quando começam uma nova fase de lutas. Na Venezuela, em 2011, esqueçam as estações: todo o ano será quente. De um lado, Hugo Chávez e seu partido querem aprofundar a revolução socialista; de outro, a oposição promete ir às ruas para reconstruir a democracia. A solução desse drama está nas eleições de 2012, mas tanto o desfecho eleitoral quanto o desenrolar do processo são um enigma.


O Instituto de Investigação de Conflitos Internacionais de Heildberg deu nota 3 para a Venezuela, que, em 2010, só perdeu para a guerra do narcotráfico no México. Mas o dado novo, desde o dia 5, é a presença da oposição na Assembleia e as medidas que o partido do governo tomou para evitar que ela tenha poder.

Foram 25 leis em dezembro e, se considerarmos Chávez como um cavaleiro andante, podemos entendê-las melhor. Vinte e quatro delas formam seu escudo porque se destinam a neutralizar a oposição, a imprensa, os partidos e universidade. Uma delas é a lança: a chamada Lei Habilitante que permite a Chávez governar 18 meses por decreto, sem dar satisfação aos deputados. É tão autoritária que já foi criticada numa só semana pela OEA (Organização dos Estados Americanos), por meio de seu secretário-geral, José Miguel Insulza, e pela Conferência Episcopal Venezuelana, que considera a medida "um passo para o comunismo".


O que pode incendiar os conflitos políticos, com a força de muitos barris de gasolina barata, é a economia. A Venezuela decresceu em 2010 e a inflação no país foi uma das maiores do mundo: 27%. Entre os 32 países da América do Sul e Caribe, é o único que não tem perspectiva de crescimento em 2011. Sua produção de petróleo caiu a um nível mais baixo do que 2003 e, segundo os cálculos internos, só pode cobrir 12% das exportações, o que equivale a um déficit de US$ 41 bilhões. Por isso, no ranking internacional dos que, potencialmente, não poderão honrar sua dívida, a Venezuela é a segunda entre dez: na frente apenas da Grécia.


Fonte: O Estadão de São Paulo

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