O Brasil caminha a passos lentos em termos de um desenvolvimento sustentável coordenado e abrangente. Esta foi a conclusão de Francisco Costa, diretor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), e Maurício Serra, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), durante o debate “Há uma Política Brasileira de Desenvolvimento Sustentável?”, realizado na UFRJ.
Rio de Janeiro - Se é que possui, o Brasil caminha a passos lentos em termos de um desenvolvimento sustentável coordenado e abrangente. Esta foi a conclusão de Francisco Costa, diretor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), e Maurício Serra, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), durante o debate “Há uma Política Brasileira de Desenvolvimento Sustentável?”. O painel fez parte do XVII Encontro Nacional de Economia Política, que, apesar da greve das instituições federais de ensino superior em todo o país, está sendo realizado até sexta-feira (8) na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Reconhecendo ser um conceito amplo, Maurício Serra tende a definir desenvolvimento sustentável como “aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras coordenarem as suas próprias necessidades”. Assim sendo, às vésperas da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio + 20, segundo o professor, “está inserida a ideia de que desenvolvimento e meio ambiente não são objetivos contraditórios”.
Para o professor, o problema passa a ser tornar esses temas viáveis a partir de políticas públicas, afinal de contas,“não há porque ter desenvolvimento se esse desenvolvimento não for direcionado para a dimensão social, na qualidade de vida e no bem-estar das pessoas”, diz ele.
Serra defende a mensuração como ferramenta básica para se medir esse desenvolvimento, e reconhece que o país ainda tem um longo caminho a percorrer. “O Brasil tem desde 2002 os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (Ids), e dá para se fazer, com todas as imprecisões, um retrato da sustentabilidade em nosso país. Apesar dos avanços, verificamos, por exemplo, indicadores gritantes, como o saneamento. A parte de esgoto é extremamente complicada quando se sai das capitais em direção às partes rurais”, aponta o professor.
“Então, a meu ver não existe essa política de desenvolvimento sustentável. Fizemos avanços, não tenho dúvida, mas avanços pouco agregados. No nível de municipalidade você não consegue fazer grandes coisas. Há que se ter um esforço maior nessa direção para que isso possa integrar políticas e gestão pública”, defende Maurício Serra, acrescentando que nem sempre o problema é só de execução regional. “O que o ministério do Meio Ambiente faz muitas vezes está na contramão dos interesses do ministério da Agricultura, ou do próprio ministério da Fazenda”, ilustra.
Amazônia
O diretor do Ipea, Francisco de Assis, faz coro à visão de Serra de que o Brasil deixa a desejar na questão ao citar a Amazônia como exemplo. “A resposta óbvia é não! Na Amazônia não tem! Você tem alguns mecanismos de política atuante, mas de contenção, não de atuação para o desenvolvimento”, afirma.
Assis é de opinião de que dada a sua complexidade, o desenvolvimento sustentável deve ser visto como um ideário. Mesmo assim, passível de passos concretos, ainda que esses passos entrem na não menos indefinida e suspeita “economia verde”. “Uma economia verde criativa significa você ter a capacidade de, para além do ‘business as usual’, reconhecer as propriedades presentes e fazê-las economicamente eficientes em todos os sentidos. Pensar a Amazônia exige um outro conjunto de estrutura, que não se manifesta em capacidade econômica de troca imediata. É a economia de baixo impacto, de serviços ambientais, com capacidade de inclusão inerente dos indivíduos e estruturas que fazem parte dela. Mas está difícil falar de desenvolvimento sustentável neste contexto”.
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