sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O AMOR É UMA FOTO NO CORAÇÃO

As seis Marias da minha vida
magno martins


Minha rotina, embora corrida, felizmente tem permitido ficar mais presente ao lado dos meus pais em Afogados da Ingazeira. As viagens ao sertão têm apenas esse sentido: curtir a presença deles. Ontem, ao regressar de mais uma cobertura de Dilma no Nordeste, fiz, novamente, uma escala na casa dos meus pais.

E encontrei minha mãe abatida, sofrendo a perda de mais uma irmã: a Luiza. Aos 81 anos, Maria Luiza não suportou uma cirurgia para retirada de um rim e veio a falecer no Recife. Com a sua perda, já se foram para a eternidade quatro das sete Marias da minha vida: Maria Cornélia, minha avo, mãe de mamãe; Maria José, tia; Maria de Lourdes, tia, e agora Maria Luiza, também tia. Ou seja, minha avó e mais três tias, todas com o nome batismal de Maria.

Meus avos maternos – Severo e Maria Cornélia – eram católicos fervorosos e devotos de Santa Maria, a mãe de Jesus. Daí a razão de tantas Marias. Das seis Marias, três nos dão a alegria da sua convivência bem joviais e alegres – Maria Margarida (minha mãe), Maria do Carmo (tia) e Maria Lídia (tia) .

Maria Luiza, a que encerrou a sua missão aqui na terra no dia de ontem, era uma mulher destemida. Morena jambo, traços indígenas, nasceu em Afogados da Ingazeira como todas as irmãs e se criou no Recife depois de se casar com um servidor da Sudene, que nas horas vagas ganhava uns trocados como taxista.

Todas as minhas tias por parte de mãe têm uma incrível disposição de trabalho. Maria Luiza não era diferente. Teve oito filhos, dos quais um jogador de futebol que fez sucesso em Portugal, mas para a tristeza dela nunca mais deu sinal de vida. Até hoje, nenhum dos meus primos sabem do seu paradeiro.

Criou e educou a família dando duro. Chegou até a lavar roupa e fazer bicos para ajudar na renda de casa. Mas nunca perdeu a dignidade, nunca se abateu, lutou bravamente, porque dizia que queria dar aos filhos o que não conseguiu quando jovem: educação.

Já tia Maria José, que faleceu antes de Luiza, há pouco mais de um ano, era professora e uma exímia costureira em Afogados da Ingazeira. As roupas que eu usava nas festas de fim de ano em Afogados da Ingazeira na pré-adolescência eram feitas por ela. Chamávamos – Marcelo, meu irmão mais velho um ano, de par de jarros, porque eram iguais. Até a meia tinha que ser da mesma cor.

Quanto à tia Maria de Lourdes, a primeira a morrer das seis Marias, não tinha apenas traços de índia. Era uma índia na expressão da palavra. Casou-se com um homem rude, daqueles que não levam desaforo para casa. Mas era apaixonada e a ele foi submissa a vida inteira, mesmo reclamando de hostilidades, inclusive diante de nós, seus sobrinhos.

Das três Marias vivas, uma delas, a Maria Lídia, que é a caçula, mora em Vitória da Conquista, paraíso dos migrantes afogadenses. Por lá, tem comerciantes prósperos que foram tangidos pela seca em nosso torrão que se deram bem, entre os quais familiares de minha mãe. Maria Lídia, por exemplo, ficou viúva de Zizi, que fez fortuna no comércio de Conquista se estabelecendo na condição de retirante afogadense.

Maria do Carmo, hoje morando em Afogados da Ingazeira, também já escreveu páginas da sua história em Vitória da Conquista. Ficou viúva de João de Freitas Neto, o Freitas, baiano de nascença e pernambucano de coração. Pense num homem de personalidade e de convicções! E, o mais importante: apaixonado pelo nosso sertão, o Pajeú.

Por fim, deixei para falar da última Maria, a Maria Margarida, minha mãe. Aos 84 anos, é a mais parecida com o meu avô Severo: braba, sua palavra não volta atrás. Rigorosa e dura na criação dos filhos. Quando garotos, Marcelo e eu, criados juntos, tínhamos mais medo dela do que de papai.

Meu próprio pai, aliás, também morria de medo dela e, vez por outra, ainda leva uns puxões de orelha. Mas nunca encontrei uma mãe tão dedicada aos filhos, apaixonada pelos netos e bisnetos. Doce no trato, conservadora nas amizades, disciplinada nos afazeres domésticos. Uma mãezona!

As seis Marias são um retrato na parede. Não na de Drummond, que dói, segundo ele. Mas na parede da casa de minha mãe em Afogados da Ingazeira, conforme fiz questão de reproduzir. É uma imagem das reminiscências delas, que são também nossas, dos seus filhos amados.

Sem nenhuma dor. Só de boas recordações da jovialidade das Marias de minha vida.

Detalhe: minha mãe, a mais bonita, claro, é a segunda sentada da direita para a esquerda.

fonte:blogdomagno

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