sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Os protestos públicos que mudam a face do Brasil com e além das greves

O ano de 2012 foi altamente produtivo em termos de protestos públicos no Brasil, tendo alguns deles inspirados em experiências estrangeiras como  famosos Occupy Wall Street. Agora contamos também com as ativistas do grupo FEMEN, que ficaram conhecidas por protestar seminuas com palavras de ordem em favor de liberdades civis.

(Foto: reprodução da internet)

Com muita roupa ou quase em roupa, os protestos públicos desnudam a face autoritária de uma sociedade aonde é preciso utilizar as ruas para ao menos sermos ouvidos e mostrarmos a nossa insatisfação ou descontentamento nas mais diversas áreas.

Mas a maioria desses protestos deles são tipicamente forjados no nosso País, como os clássicos protestos de trabalhadores, de estudantes, de sem-tetos, de sem-terra, de organizações comunitárias e tantos outros que lutam por questões específicas no campo dos direitos das mulheres, dos homossexuais, dos negros, dos credos religiosos, do meio ambiente, dos direitos humanos, etc. 

Dois movimentos importantíssimos de Recife que surgiram em 2012 apontam os direitos urbanos como um novo espectro para os movimentos urbanos e os protestos públicos, como é o caso do Ocupe Estelita e do Ocupe Agamenon, que transformam a mobilização entre pessoas de diversas tribos num ponto em comum a todos, a cidade, seja na questão da mobilidade urbana, seja na questão da melhoria da qualidade de vida com  a criação de uma cidade mais humanizada para que as pessoas possam se encontrar, se comunicar e compartilharem do mesmo espaço público. A luta por mais espaços de convivências, de áreas verdes, de vias próprias para a locomoção além do carro e de  um debate público sobre a cidade tem ganhado relevo.           


Nas cidades ao entorno de Recife viramos uma semana com inúmeros protestos nas cidades de Abreu e Lima e Nazaré da Mata com os trabalhadores da Refinaria e da Arena da Copa lutando por melhorias das condições de trabalho, mas as notícias que chegam até nós  pela mídia só apresenta baderna, confusão e briga entre as lideranças por espaço no sindicato. Só quem trabalha lá deve saber do assédio moral, da obrigação de horas extras sem o devido ressarcimento, da hostilização que sofrem dos encarregados para ferir contratos de trabalho etc.

Em Recife diversos funcionários públicos tomaram as ruas para protestar no seu sagrado direito de deflagrar greve enquanto os governos não se mostraram sensíveis em atender nem um terço das reivindicações apresentadas, o que indica que no horizonte de 2013 e 2014 novas greves virão em com eles os protestos e manifestações públicas dos trabalhadores.

No caso das universidades federais, o que vemos é o acúmulo de problemas históricos que se avolumam junto aos novos que surgem, porque os recursos públicos são mal distribuídos e aplicados, os processos de democracia interna ainda estão estabelecidos a partir de regras e estatutos dos tempos da ditadura, os estudantes passam por verdadeiras provas de fogo para entrar, permanecer e sair dos cursos e os novos professores ainda são tratados como estudantes pelos professores mais antigos. Sem contar a infra-estrutura deficiente e mal direcionada para as atividades acadêmicas.

Um movimento que marcou a UFPE em 2012 foi os protestos no Centro de Educação da UFPE, onde a direção da unidade resolveu tirar os ventiladores de teto antes de instalar os aparelhos de ar-condicionado de todas as salas e as pessoas sendo obrigadas a conviver com um calor total por meses. Aí quando os bebedouros também deixaram de funcionar os estudantes já pensaram se tratar de criar um inferno na terra para eles e foram protestar no famoso “Saunas de Aula”. Esse assunto caiu nas mãos no novo diretor, que mal tomou posse e já teve de enfrentar um problema que já havia.



Eu particularmente acredito que os protestos tendem a se acentuar mais adiante, porque quanto mais acesso às informações e aos seus direitos os cidadãos se beneficiam, vão estar muito mais dispostos a lutar por eles.

Muitos protestos que vemos por aí não são oriundos de movimentos organizados, mas de iniciativas de um grupo pequeno de pessoas que acaba envolvendo tantas outras, como é o caso do Ocupe Estelita em Recife, sem contar protestos cuja iniciativa e militância gira em torno de uma só pessoa, como foi o caso do Professor Henrique Carneiro na USP que subiu em uma árvore e ficou ali protestando para que ela não fosse podada agressivamente, o que já havia ocorrido com tantas outras.


(Foto: reprodução da internet)

O que ocorre com esses protestos é que eles mudam a cena do lugar, transformam pontos de vista recuados em pontos de vista dotados de criticidade, formam diversas faixas etárias para a cidadania e produzem transformações que até podem parecem pequenas, mas que somam quando isso se transforma em algo mais concreto, permanente e que se alia a ondas de mudanças.

Também temos marcos importantes em 2012 que vai refletir mais adiante na deflagração de novos movimentos e protestos, como é o caso do início da aplicação da Lei da Ficha Limpa nas eleições desse ano, da Lei do Direito à Informação,  a instalação das Comissões da Verdade e o julgamento do chamado “Mensalão”, porque falamos de acúmulos de experiências e de lutas que vão se constituindo na sociedade e formando novos ambientes e novas posturas.

Com isso se espera que a omissão, o medo e a falta de coragem de participar da vida democrática em sua plenitude tende a diminuir. Estamos nesse caminho.

*Otávio Luiz Machado é educador, pesquisador, escritor e documentarista.

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