Fundação mantenedora da mais antiga escola de jornalismo do Brasil reduz salários, demite professor veterano e desperta movimento estudantil numa faculdade particular sem grande tradição de luta política. Em solidariedade ao colega Edson Flosi, o professor Caio Túlio Costa pediu demissão da faculdade. Em carta uma destinada à instituição, ele critica a demisssão e as condições de trabalho e de ensino na faculdade.
São Paulo - A Faculdade Cásper Líbero teve, na manhã e na noite desta segunda-feira, as primeiras assembleias gerais de alunos de sua história recente. Cerca de 500 alunos se reuniram em um saguão da faculdade em dois encontros, um realizado para os alunos do período matutino e outro para o período noturno.
A movimentação foi uma reação aos fatos ocorridos na última semana, e serviu para que os alunos discutissem como se comportariam dali em diante e, principalmente, quais seriam suas reivindicações.
Bola de neve
Na quarta-feira, o Centro Acadêmico Vladimir Herzog foi comunicado que dois professores haviam se desligado da instituição. O professor Edson Flosi foi demitido sob a alegação de que não correspondia mais a suas funções. Com 16 anos de casa, o professor lutava há dois contra o câncer. Já não dava aula, mas assessorava a diretoria em assuntos pedagógicos e também grupos de estudantes durante seu projeto de conclusão de curso.
Em entrevista ao Centro Acadêmico, o professor afirmou: “Não deram nenhum motivo pra demissão. Não tentaram nenhum acordo, nada. Eu nem sabia que eu ia ser demitido. Eles até vão pagar o aviso prévio, como também a semestralidade, as férias, tudo. Mas o que me magoou não foi a demissão, porque a empresa tá no direito dela. Câncer não gera estabilidade. O que magoou foi o tratamento tão repugnante a um professor que trabalhou por 16 anos. De repente eles chegam e falam que eu estou despedido. A maneira que eu fui tratado me magoou muito.”
Em solidariedade ao colega Flosi, na quinta-feira o professor Caio Túlio Costa pediu demissão da faculdade. Em carta destinada à instituição, ele explicou o porquê de sua decisão:
“A primeira e fundamental razão está ligada à demissão do professor Edson Flosi após 16 anos de dedicação total à Faculdade. As outras razões são muitas e, entre elas, faço questão de dizer que me surpreenderam a redução do salário dos professores orientadores de TCCs; a quantidade de alunos espremidos em salas despreparadas para receber quase 60 deles nos cursos matinais do quarto ano de jornalismo; a falta de salas de aula climatizadas; a falta de salas de aula com proteção acústica, a falta de lousas adequadas, a falta de incentivos a parcerias com outras instituições ou a inexistência total e absoluta de um sistema de mérito.”
Mesmo com assembleia já marcada para a segunda, para discutir esses fatos, o estudantes organizaram na sexta-feira um protesto em frente à entrada da faculdade. Com cartazes como “Cá$per Vergonha”, “Cadê meu TCC?”, gritos em apoio aos professores e aos pontos levantados por Caio Túlio, cerca de 150 alunos ocuparam a escadaria e a calçada do número 900 da Avenida Paulista.
Assembleia
Nos encontros foram aprovadas as propostas de que os alunos escrevessem uma carta endereçada à Fundação e aberta à imprensa, ressaltando a necessidade de reformulação do Regimento Interno da faculdade, de modo a garantir uma maior participação decisória do corpo discente nas decisões pedagógicas; que a Fundação tenha uma maior transparência na gestão de suas contas, com a publicação de um balanço mensal detalhado com valores percentuais e absolutos; e que os salários dos professores orientadores de TCC fossem colocados em ordem, uma vez que os alunos continuam pagando suas mensalidades.
Os estudantes pretendem que a Fundação sinta-se pressionada a, pelo menos, abrir um diálogo para discutir as questões pedagógicas e estruturais da Faculdade. Reclamam, assim como Caio Túlio, da falta de investimentos na infra-estrutura da faculdade, não condizente com o aumento das mensalidades e o corte dos salários, e também com o descaso da Fundação, mantenedora da faculdade, quanto aos assuntos estritamente pedagógicos, como a qualidade dos professores contratados.
Papelão
Após a repercussão desses fatos, positiva para os professores e estudantes e negativa para a Fundação, a faculdade publicou uma carta onde convidava o professor Flosi a retomar o seu cargo, ironicamente “em consideração ao trabalho desenvolvido pelo professor Edson Flosi na Instituição e atendendo a demanda dos alunos, convida, publicamente, o docente a reassumir suas funções. A Fundação e a Faculdade agradecem as manifestações de apoio ao Prof. Edson Flosi, em especial a do Prof. Caio Túlio Costa."
O professor Edson Flosi, entretanto, recusou o convite e disse que ele não passava de uma “manobra para esvaziar o movimento dos estudantes”.
Segue a íntegra de sua carta encaminhada à imprensa
“Tomei conhecimento pela Imprensa do convite da Fundação Cásper Líbero e da Faculdade Cásper Líbero para reassumir minhas funções naquela instituição de ensino, onde lecionei por 16 anos, até ser demitido em meio a grave doença que me acometeu. Minha resposta: não volto, não posso e não devo voltar.
Não volto porque a manifestação estudantil não acontece apenas pela minha volta ou pela volta do Prof. Caio Túlio Costa, que se demitiu solidário à injustiça que sofri. Não volto porque a manifestação estudantil, conduzida pelo Centro Acadêmico Vladimir Herzog, tem o objetivo maior de lutar por melhores condições de ensino na Faculdade Cásper Líbero.
Comigo e o Prof. Caio Túlio dentro ou fora da Faculdade, a luta dos estudantes deve continuar até que a Mantenedora e a Faculdade se dignem a atender suas reivindicações, principalmente a transparência entre a receita das mensalidades pagas pelos alunos e outras taxas, e o valor investido no ensino. Além da solidariedade que me emprestou, a falta de estrutura na Faculdade, que reflete no ensino deficiente, foi a bandeira levantada pelo Prof. Caio Túlio na sua carta de demissão.
Os estudantes devem continuar lutando até conquistarem o que lhes é de direito. Agradeço comovido a manifestação estudantil que também acontece a meu favor e a favor do Prof. Caio Túlio. Mas o objetivo maior dessa juventude que paga mais de mil reais por mês para estudar deve ser perseguido até o fim. Qualquer manobra para esvaziar o movimento dos estudantes deve ser repudiada energicamente. A luta continua. Todo poder aos estudantes.”
A movimentação foi uma reação aos fatos ocorridos na última semana, e serviu para que os alunos discutissem como se comportariam dali em diante e, principalmente, quais seriam suas reivindicações.
Bola de neve
Na quarta-feira, o Centro Acadêmico Vladimir Herzog foi comunicado que dois professores haviam se desligado da instituição. O professor Edson Flosi foi demitido sob a alegação de que não correspondia mais a suas funções. Com 16 anos de casa, o professor lutava há dois contra o câncer. Já não dava aula, mas assessorava a diretoria em assuntos pedagógicos e também grupos de estudantes durante seu projeto de conclusão de curso.
Em entrevista ao Centro Acadêmico, o professor afirmou: “Não deram nenhum motivo pra demissão. Não tentaram nenhum acordo, nada. Eu nem sabia que eu ia ser demitido. Eles até vão pagar o aviso prévio, como também a semestralidade, as férias, tudo. Mas o que me magoou não foi a demissão, porque a empresa tá no direito dela. Câncer não gera estabilidade. O que magoou foi o tratamento tão repugnante a um professor que trabalhou por 16 anos. De repente eles chegam e falam que eu estou despedido. A maneira que eu fui tratado me magoou muito.”
Em solidariedade ao colega Flosi, na quinta-feira o professor Caio Túlio Costa pediu demissão da faculdade. Em carta destinada à instituição, ele explicou o porquê de sua decisão:
“A primeira e fundamental razão está ligada à demissão do professor Edson Flosi após 16 anos de dedicação total à Faculdade. As outras razões são muitas e, entre elas, faço questão de dizer que me surpreenderam a redução do salário dos professores orientadores de TCCs; a quantidade de alunos espremidos em salas despreparadas para receber quase 60 deles nos cursos matinais do quarto ano de jornalismo; a falta de salas de aula climatizadas; a falta de salas de aula com proteção acústica, a falta de lousas adequadas, a falta de incentivos a parcerias com outras instituições ou a inexistência total e absoluta de um sistema de mérito.”
Mesmo com assembleia já marcada para a segunda, para discutir esses fatos, o estudantes organizaram na sexta-feira um protesto em frente à entrada da faculdade. Com cartazes como “Cá$per Vergonha”, “Cadê meu TCC?”, gritos em apoio aos professores e aos pontos levantados por Caio Túlio, cerca de 150 alunos ocuparam a escadaria e a calçada do número 900 da Avenida Paulista.
Assembleia
Nos encontros foram aprovadas as propostas de que os alunos escrevessem uma carta endereçada à Fundação e aberta à imprensa, ressaltando a necessidade de reformulação do Regimento Interno da faculdade, de modo a garantir uma maior participação decisória do corpo discente nas decisões pedagógicas; que a Fundação tenha uma maior transparência na gestão de suas contas, com a publicação de um balanço mensal detalhado com valores percentuais e absolutos; e que os salários dos professores orientadores de TCC fossem colocados em ordem, uma vez que os alunos continuam pagando suas mensalidades.
Os estudantes pretendem que a Fundação sinta-se pressionada a, pelo menos, abrir um diálogo para discutir as questões pedagógicas e estruturais da Faculdade. Reclamam, assim como Caio Túlio, da falta de investimentos na infra-estrutura da faculdade, não condizente com o aumento das mensalidades e o corte dos salários, e também com o descaso da Fundação, mantenedora da faculdade, quanto aos assuntos estritamente pedagógicos, como a qualidade dos professores contratados.
Papelão
Após a repercussão desses fatos, positiva para os professores e estudantes e negativa para a Fundação, a faculdade publicou uma carta onde convidava o professor Flosi a retomar o seu cargo, ironicamente “em consideração ao trabalho desenvolvido pelo professor Edson Flosi na Instituição e atendendo a demanda dos alunos, convida, publicamente, o docente a reassumir suas funções. A Fundação e a Faculdade agradecem as manifestações de apoio ao Prof. Edson Flosi, em especial a do Prof. Caio Túlio Costa."
O professor Edson Flosi, entretanto, recusou o convite e disse que ele não passava de uma “manobra para esvaziar o movimento dos estudantes”.
Segue a íntegra de sua carta encaminhada à imprensa
“Tomei conhecimento pela Imprensa do convite da Fundação Cásper Líbero e da Faculdade Cásper Líbero para reassumir minhas funções naquela instituição de ensino, onde lecionei por 16 anos, até ser demitido em meio a grave doença que me acometeu. Minha resposta: não volto, não posso e não devo voltar.
Não volto porque a manifestação estudantil não acontece apenas pela minha volta ou pela volta do Prof. Caio Túlio Costa, que se demitiu solidário à injustiça que sofri. Não volto porque a manifestação estudantil, conduzida pelo Centro Acadêmico Vladimir Herzog, tem o objetivo maior de lutar por melhores condições de ensino na Faculdade Cásper Líbero.
Comigo e o Prof. Caio Túlio dentro ou fora da Faculdade, a luta dos estudantes deve continuar até que a Mantenedora e a Faculdade se dignem a atender suas reivindicações, principalmente a transparência entre a receita das mensalidades pagas pelos alunos e outras taxas, e o valor investido no ensino. Além da solidariedade que me emprestou, a falta de estrutura na Faculdade, que reflete no ensino deficiente, foi a bandeira levantada pelo Prof. Caio Túlio na sua carta de demissão.
Os estudantes devem continuar lutando até conquistarem o que lhes é de direito. Agradeço comovido a manifestação estudantil que também acontece a meu favor e a favor do Prof. Caio Túlio. Mas o objetivo maior dessa juventude que paga mais de mil reais por mês para estudar deve ser perseguido até o fim. Qualquer manobra para esvaziar o movimento dos estudantes deve ser repudiada energicamente. A luta continua. Todo poder aos estudantes.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário