quarta-feira, 21 de março de 2012

Poeta renuncia a menção honrosa no Prêmio Moacyr Scliar

Polêmica na Literatura

Eduardo Sterzi discorda da transferência da cerimônia de premiação para o Rio de Janeiro

Poeta renuncia a menção honrosa no Prêmio Moacyr Scliar Divulgação/Editora 7Letras
Escritor Eduardo Sterzi considera premiação "promíscua" Foto: Divulgação / Editora 7Letras
Carlos André Moreira

Um dos homenageados pelo Prêmio Moacyr Scliar de Literatura, o gaúcho Eduardo Sterzi renunciou oficialmente à menção honrosa que receberia.

Entre os motivos para a renúncia, comunicada na sexta-feira, está o que Sterzi chama de "promiscuidade" do prêmio.

Ovencedor do prêmio, anunciado em fevereiro, foi o poeta Ferreira Gullar, com sua coletânea de poemas Em Alguma Parte Alguma. Jornalista, crítico literário e poeta, Eduardo Sterzi divulgou sua renúncia em uma carta aberta enviada ao diretor do Instituto Estadual do Livro (IEL) e mais tarde postada em seu perfil no Twitter. Sterzi usou a palavra "absurdo" para se referir a três fatos: a cerimônia de premiação será realizada no Rio de Janeiro, na Fundação Biblioteca Nacional, no dia 29 de março, com a presença do governador Tarso Genro; um coquetel de comemoração será oferecido pela José Olympio, editora do livro vencedor; e um dos jurados, Antônio Carlos Secchin, escreveu um dos prefácios incluídos no livro de Gullar. Secchin é, também, um dos principais comentaristas da obra de Gullar.

De acordo com Sterzi, o fato de o prêmio se deslocar até o Rio é um demérito para o próprio concurso.

– O que se quer? Conferir prestígio ao novo prêmio com uma meia dúzia de fotos de autoridades sul-riograndenses ao lado do "grande poeta"? Pois o resultado, a meu ver (e não só meu), foi precisamente o contrário. O prêmio se desvaloriza, o nome do seu patrono é desrespeitado, e a imagem do Rio Grande do Sul, que é o meu Estado, sai diminuída.

Por seu lado, o diretor do Instituto Estadual do Livro, o também poeta Ricardo Silvestrin, argumenta que a decisão de realizar a cerimônia no Rio é apropriada por levar o nome de um autor de ressonância nacional, e de fato foi tomada porque Gullar comunicou que não viaja de avião.

– Não viajou, por exemplo, para Lisboa quando foi o escolhido para receber o Prêmio Camões, que foi entregue a ele também na Biblioteca Nacional. Como o governador Tarso Genro estaria no Rio em função de atos do governo, no dia 29, data prevista pelo edital, o governo, a Secretaria de Cultura e o IEL decidiram aproveitar a oportunidade para fazer a entrega. Embora realizado por uma Secretaria de Estado do Rio Grande do Sul, embora leve o nome de um dos maiores escritores nossos, trata-se, também, de um prêmio nacional que leva o nome de um dos maiores escritores nacionais – diz Silvestrin, também por e-mail. De acordo com ele, a renúncia de Sterzi foi recebida e aceita.

Antônio Carlos Secchin, por sua vez, diz que não considera que sua presença no júri tenha influenciado a vitória de Gullar:

– Fico muito espantado com essa reação de Eduardo Sterzi. Esse é um concurso para o qual se convidam pessoas que tenham certa experiência com o objeto literário. Já integrei praticamente todos os júris de poesia no Brasil, e com mais de 30 anos de carreira universitária e literária é impossível não conhecer os poetas. Quando recebi o convite, não sabíamos quem havia se inscrito. Dentre os 152 concorrentes, aliás, talvez eu tenha escrito prefácios para mais de 20 deles. Escrever uma apresentação é uma coisa. Ter a consciência ética de julgar é outra. O livro foi agraciado por unanimidade, logo, meu voto não pesou a favor.

fonte:zerohora

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