Estudos feitos na África mostram queda de pelo menos 62% no risco de contágio entre casais
REUTERS - Medicamentos contra a Aids, designados para o tratamento do HIV, podem também ser usados para reduzir drasticamente o risco de infecção entre os casais heterossexuais, indicaram dois estudos conduzidos na África e divulgados nesta quarta-feira, 13.
A descoberta é mais uma evidência de que os remédios prescritos desde meados da década de 1990 para tratar as pessoas já infectadas podem ser peça chave para diminuir ou mesmo parar a propagação de doenças sexualmente transmissíveis.
As pesquisas com casais do Quênia, Uganda e Botswana mostraram que receitar medicamentos de uso diário reduz o risco de contágio em pelo menos 62% se comparado com a administração de um placebo.
"Ferramentas efetivas para a prevenção do HIV não necessárias urgentemente e estes estudos podem ter enorme impacto na prevenção do contágio em relações heterossexuais," declarou Margaret Chan, diretora geral da Organização Mundial da Saúde, em um comunicado.
Em uma indicação da importância destes resultados, Chan disse que as Nações Unidas irão trabalhar junto aos países para implantar novas estratégias de proteção.
O estudo mais extenso examinou 4.758 casais no Quênia e Uganda, um dos indivíduos era positivo para o HIV e o outro não. As pessoas que não apresentavam o vírus foram medicadas com tenofovir, produzido pela empresa Gilead. O resultado foi uma queda de 62% nos contágios.
Para os casais medicados com Truvada, outro medicamento da Gilead, que combina tenofovir e emtricitabine, o risco de infecção caiu cerca de 73% durante os testes, que foram conduzidos por pesquisadores da Universidade de Washington.
O estudo foi financiado pela Fundação Bill & Melinda Gates. O diretor da área de HIV e Tuberculose da fundação, Stefano Bertozzi, disse que isto representa um marco na busca do desenvolvimento de novas medidas de prevenção contra o HIV.
O segundo estudo, que envolveu cerca de 1.200 homens e mulheres sexualmente ativos de Botswana, descobriu que a administração diária de Truvada reduz o risco de infecção por HIV em 62,6%.
Este conceito de prevenção ganhou impulso no ano passado, após resultados de outras pesquisas mostrarem uma queda nas taxas de infecção entre homens homossexuais que tomavam remédios contra a Aids.
No entanto, este tipo de abordagem sofreu um revés quando um estudo do início deste ano falhou em demonstrar efeito satisfatório de proteção em um grupo de mulheres de alto risco de contágio. Esta última evidência deve restaurar a confiança neste método de prevenção.
"Hora da virada" na luta contra o HIV
Cerca de 33 milhões de pessoas no mundo todo têm o vírus da imunodeficiência humana (HIV, na sigla em inglês), causador da Aids, a maior parte delas vive na África e na Ásia. Apenas cerca da metade destas pessoas sabe que carrega o vírus e a Organização Mundial da Saúde espera que a notícia sobre o sucesso no método de prevenção encoraje mais pessoas a fazerem o teste de HIV.
Michel Sidibe, responsável pelo programa de HIV/Aids das Nações Unidas, disse que estes estudos "poderão nos ajudar a alcançar a 'hora da virada' na epidemia de HIV."
O estudo mais extenso, feito no Quênia e Uganda, estava programado para ser realizado até o fim de 2012, mas foi interrompido recentemente porque a evidência de sua eficácia era muito forte.
Os resultados do estudo em Botswana, conduzido pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, seriam revelados na próxima semana, em um congresso internacional sobre a Aids, em Roma, mas foi divulgado antes para coincidir com a apresentação dos estudo da Universidade de Washington.
Durante o tratamento de HIV/Aids, os antirretrovirais são geralmente usados em coquetéis de três ou mais medicamentos. O novo método de prevenção, que usa apenas uma pílula, é bem mais conveniente, e as drogas são encontradas em forma de genéricos em diversos países pobres a preços reduzidos.
Os preços podem cair ainda mais e o suprimento do remédio pode aumentar a partir do acordo fechado com a empresa Gilead Sciences, empresa líder na produção de remédios de combate ao HIV, que compartilhará os direitos de propriedade intelectual de seus medicamentos em um novo pool de patentes. O grupo californiano se tornou a primeira farmacêutica a assinar o Pool de Patentes de Medicamentos, nesta terça-feira, dia 12.
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