terça-feira, 12 de julho de 2011

Um mergulho na obra de J.D Salinger

Biografia segue a pista de Holden Caulfield

Salinger uma vida, biografia de J.D Salinger, assinada por Kenneth Slawenski (Editora Leya, 416 páginas, R$44,90) é a primeira publicada no Brasil do controvertido escritor, mesmo que o autor se ocupe mais de sua obra do que do autor. No entanto, ocupando-se de sua obra, ela acaba por contar muito sobre um dos mais discutidos autores do século 20. E poucos deles se valeram tanto de experiências pessoais para criar uma obra. Salinger uma vida poderia também ser intitulado Na pista de Holden Caulfield, o adolescente confuso e rebelde de O apanhador em campo de centeio, o livro mais conhecido de J.D Salinger.

Frequentemente, ao longo da construção do personagem Caulfield criador e criatura se confundem. A partir de 1953, quando comprou uma propriedade numa encosta de uma montanha, na vila de Cornish, em New Hampshire, a 300 km de Nova Iorque, Salinger foi tornando-se cada vez mais recluso. Em O apanhador em campo de centeio, Holden Caulfield diz: “Com o dinheiro que fosse ganhando, construiria uma cabaninha para mim em algum lugar e viveria lá o resto da vida. Ia fazer a cabana bem pertinho de uma floresta, mas não dentro do mato, porque ia fazer questão de ter a casa ensolarada pra burro o tempo todo”. Exatamente como procedeu J.D Salinger, que até o final da vida morou na casa que construiu em Cornish (morreu em 27 de janeiro de 2010, aos 91 anos).

O livro de Kenneth Slawenski levou oito anos para ser finalizado. Admirador do escritor, Slawenski não perseguiu parentes, amigos, desafetos para desvendar o mistério do recluso Salinger. Embora se utilize de artigos, depoimentos, e livros sobre seu biografado. Em um site batizado de Dead Caulfields, (http://deadcaulfields.com), ele montou o quebra-cabeças a partir de pequenas peças, pesquisas, leitura nas entrelinhas dos contos e novelas, comparações entre episódios na ficção, e fatos reais da vida do autor. Não foi fácil. diz-se sempre de J.D Salinger que ele passou um terço da vida tentando se firmar como alguém no mundo da literatura, e o restante dela tentando fugir da fama.

Sonny, como os pais o chamavam, nasceu numa família classe média judia. De 1919, ano do nascimento de Jerome, até 1928, os Salinger ascenderam rapidamente de posição social. Mudaram-se da Broadway para o endereço mais requintado de Nova Iorque, Park Avenue, num apartamento com vista para o Central Park. Não param por aí as semelhanças com Holden Caulfield, que também é de classe média alta, e cujo apartamento assemelha-se ao de Salinger. O escritor foi mau aluno. entrou e saiu de várias escolas. Uma destas, a Valley Forge Military Academy foi inspiração para a escola em que seu personagem Caulfield estuda no início de O apanhador em campo de centeio.

A revista New Yorker era, como ainda é, a mais prestigiosa publicação literária deste tipo dos Estados Unidos. Muitos contos de J.D Salinger, no início da carreira, foram recusados pela New Yorker, vários do quais se perderam para sempre. A maioria do seu trabalho nos anos 40 foi publicada pelas chamados slicks magazines, ou revistas de cetim (pelo papel com o qual eram impressas), a Cosmopolitan, ou Saturday Evening Post. Publicações que o tornaram o irascível autor, que deixava até de falar com editores que ousavam mexer em títulos de seus contos, e que pedissem para que cortasse trechos de histórias que consideravam muito longas. Em 1947, ele iria ter o que todo escritor sonhava: um contrato de exclusividade com a New Yorker, o que equivalia a um salário de US30 mil dólares, independente da publicação ou não da história. O acordo entre as partes obrigava o escritor oferecer o que escrevesse em primeira mão à revista. Até o final da vida ele seria exclusivo da New Yorker, e pela revista publicaria a maior parte da sua obra.

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