Foto: Clemilson Campos/JC Imagem
Inês Calado, do NE10
A Compesa esteve no centro do #debatetvjornal com os candidatos a
prefeito do Recife Geraldo Julio (PSB), Daniel Coelho (PSDB), Humberto
Costa (PT) e Mendonça Filho (DEM). O embate foi realizado, na noite
desta terça-feira (25), no auditório do Sistema Jornal do Commercio de
Comunicação, no Recife. Logo no primeiro bloco, quando os candidatos
fizeram perguntas entre si, o tema veio à tona, com críticas ácidas dos
opositores ao socialista e ao Governo Eduardo Campos.
Humberto começou os ataques perguntando a Mendonça o que ele achava da
PPP da Compesa. O candidato do DEM disparou: "Sou absolutamente contra a
privatização da Compesa. A gente tem que ter o compromisso de avançar
no investimento. No entanto não vimos ao longo dos 12 anos nenhum grande
movimento neste sentido". Humberto, então, aproveitou a deixa para
criticar, segundo ele, a privatização da Compesa. "Não somos contra PPP,
mas contra essa PPP. Vai provocar desequilíbrio na Compesa ou vai
aumentar a tarifa de água".
Mendonça, então, criticou o rompimento do PT e PSB, até então aliados
políticos no Recife, onde o vice-prefeito de João da Costa, atual
prefeito do PT, é o socialista Milton Coelho. "Brigaram internamente e
agora brigam publicamente em torno do poder. O que se assiste aqui é a
velha briga entre o PT e o PSB. O PT não pode falar de privatização.
Privatizou mais rodovias do que o governo anterior. Vamos deixar essa
briga de lado e enfrentar a ausência de políticas públicas que levam
saneamento básico à população."
O candidato do DEM, que foi vice-governador do Estado durante oito anos,
na gestão Jarbas Vasconcelos, criticou a postura do agora tucano Daniel
Coelho de negar sua história ao emplacar a política do novo, falando,
inclusive, do pai do candidato, João Coelho, que foi vereador e deputado
estadual. "Estreei na Câmara sendo líder da oposição, na Assembleia
briguei com meu antigo partido para ficar na oposição. Foi exatamente
Maurício Rands (PT) que defendeu a PPP."
A polarização entre Geraldo e Humberto continuou. Em resposta a Daniel
Coelho, o socialista disse que o PT não aproveitou a ajuda do Governo do
Estado para cuidar melhor da cidade. "Nós tentamos ajudar o PT, mas
eles não aproveitaram essa ajuda", enfatizou.
SEGUNDO BLOCO - O segundo bloco começou com o direito de um
minuto de resposta a Geraldo Julio pelos ataques do candidato Humberto
sobre a PPP da Compesa. A comissão jurídica do debate cumpriu
determinação do desembargador do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PE)
Roberto Morais que proibiu, nesta terça-feira, peças publicitárias em
que o petista acusa Geraldo de defender a privatização da Compesa por
induzir o eleitor ao erro.
"Não há chance da Compesa ser privatizada. Tocar nesse assunto é atitude
de quem está deseperado e só que atacar", respondeu o socialista.
Com a proibição de relacionar a PPP da Compesa com privatização, o
debate acalmou com perguntas de temas livres dos telespectadores aos
postulantes, enviadas anteriormente e selecionadas pela produção do
debate.
Questionado sobre um possível armamento da guarda municipal, Geraldo se
posicionou contra e ressaltou resultados do Pacto Pela Vida, programa
com o qual disse querer garantir a segurança na cidade. Medonça comentou
e prometeu dobrar o efetivo. Na segunta pergunta de eleitores, em
relação a políticas públicas para a área da tecnologia da informação, a
primeira farpa. "O Porto Digital foi feito no Governo Jarbas, não foi
Geraldo que fez", brincou Mendonça. O democrata aproveitou para falar do
Recife Antigo e dos projetos de revitalização para a região. Humberto
comentou dizendo que tributos na área já foram baixados, em resposta à
promessa anunciada por Mendonça.
"Não sou a favor de salários astronômicos", disse Humberto, quando
questionado sobre o aumento salarial dos vereadores do Recife. "Prefeito
não tem poder de vetar esse tipo de decisão e, sim, a Câmara",
justificou o senador.
Sobre a revitalização dos mercados públicos, Daniel apresentou propostas
de parceria com a inciativa privada para poupar dinheiro da gestão.
O único momento tenso do bloco partiu do candidato Geraldo Julio, que
disparou contra Daniel Coelho. "Uma cidade boa de visitar é boa de
morar", disse o socialista. A frase, muito semelhante a outra dita pelo
tucano em um outro debate, foi o gancho para Daniel ironizar. "Geraldo
provou estar atento ao que dizemos. O concorrente decorou nossa frase e
mostrou que não tem nenhuma proposta, nada de concreto. Enrolou e não
disse nada", falou.
TERCEIRO BLOCO - Novo embate com candidato perguntando a
candidato. Geraldo Julio escolheu Daniel Coelho e pediu para que o
tucano apresentasse suas propostas para combater os alagamentos da
cidade. Em sua réplica, o socialista foi agressivo quando afirmou que,
com Daniel, o velho está vestido de novo. "Daniel e seu pai estão há
anos na política, assumiram cargos comissionados e nunca fizeram nada na
cidade. Ele não explicou o que vai fazer. Alagamento a gente combate
com obras de drenagem forçada. Daniel fala, mas não faz nada." Daniel
retrucou: "Vamos respeitar o telespectador. Você não diz que é o
candidato paz e amor?"
Novos ataques quando Mendonça perguntou a Humberto o que ele fará para
melhorar a educação do Recife. O candidato do DEM aproveitou a resposta
para "jogar" no colo do petista o ex-governador Joaquim Francisco (na
época PFL, hoje PSB), seu suplente no Senado. "O senador Humberto gosta
tanto dos meus aliados que colocou Joaquim Francisco como suplente à
vaga". E Humberto replicou: "O debate é político e administrativo, não é
pessoal, tenho respeito a Roberto Magalhães, mas tenho que dizer como o
PT avançou."
Humberto questionou Geraldo sobre seu "silêncio" com relação à
participação do PSB na gestão João da Costa. "Qual a sua posição sobre a
atual gestão que, na prática, está te ajudando na campanha?", perguntou
o petista. E Geraldo foi novamente duro: "O PSB participou da gestão e
você sabe disso, sabe que o PSB passou mais de R$ 70 milhões nos últimos
três anos para o Recife. Mas, às vezes, a gente quer ajudar uma pessoa e
essa pessoa não quer ser ajudada. A sua candidatura foi imposta por São
Paulo, num processo antidemocrático e está em oposição à atual gestão
da prefeitura. A minha candidatura é a única que não vem de raposas da
velha política. Todos os outros representam raposas."
Humberto foi enfático: "A primeira qualidade de um líder político é a
humildade. Arrogância não leva a nada. O PT briga mesmo, pelo povo
pobre, pelo direito das pessoas. Quando Jarbas brigou com Arraes (avô de
Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco) e Eduardo no caso dos
precatórios eu briguei por ele. Seu ministro Fernando Bezerra, quando
foi atacado pela mídia nacional, eu briguei por ele no plenário, e por
Ana Arraes no TCU", afirmou o petista.
Na tréplica, novos ataques: "Não vou entrar nesse jogo, nessa briga. O
povo do Recife cansou das brigas da PT, o povo sabe o que você fez com
João Paulo, com Maurício Rands e com o prefeito João da Costa. Não
queremos mais isso, não queremos ver o Recife descendo a ladeira.
Precisamos mudar, junto com o Governo do Estado, que é testado e
aprovado", disse Geraldo.
O momento mais tenso aconteceu quando Geraldo saiu do habitual estilo
"paz e amor" para adotar um tom mais agressivo, disparando contra todos
os candidatos.
Sobre Humberto: "O PT viveu uma briga e sua candidatura veio imposta de
São Paulo, num processo anti-democrático. Na verdade, a minha
candidatura é a única que não é das raposas políticas. Um tem 40 anos de
política (sobre Humberto); outro também veio de família de políticos e
já está na política há muito tempo (contra Mendonça); o outro soma os
mandatos do pai, assessoria política e cargos comissionados. É da velha
política, de Fernando henrique Cardoso, José Serra (acusando Daniel
Coelho)."
ÚLTIMO BLOCO - O tema PPP da Compesa voltou no quarto e último
bloco, mesmo o assunto tendo sido proibido pelo TRE-PE. Na última parte
do encontro, os jornalistas do Sistema Jornal do Commercio de
Comunicação fizeram perguntas. Ciro Bezerra, da TV Jornal, questionou
Daniel Coelho (PSDB) se ele é a favor ou não das privatizações. O
jornalista lembrou que o tucano critica a PPP, mas o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso, que é da sua legenda, teve um governo marcado
por privatizações.
"A gente não tem nada para privatizar na Prefeitura. Eu pelo menos não
conheço nenhum órgão que precise privatizar. A PPP é importante quando
beneficia a população. O que não podemos permitir é a PPP que
prejudique. Quem levantou o caso da PPP fui eu, no meu mandato como
deputado", respondeu, ressaltando a privatização da telefonia do governo
FHC e a mais recente, dos aeroportos, feita pela presidente Dilma
Rousseff (PT).
Na réplica, o jornalista perguntou se o tucano terá o apoio do
governador Eduardo Campos, caso seja eleito. "Não queremos brigar com o
governador. Independente de ele ter outro candidato, ele não vai
abandonar o Recife. Na verdade, quando a eleição acabar, vamos contar
com o apoio de Geraldo, que vai voltar para o Governo do Estado; com
Humberto no Senado e Mendonça na Câmara Federal. Nossa política é de
convencê-los e não de derrotá-los".
Humberto Costa seguiu no debate o mesmo tom crítico que vem pontuando
sua campanha nas duas últimas semanas. Questionado por Sérgio Montenegro
Filho se as farpas atuais contra Eduardo Campos e seu afilhado político
é uma antecipação do embate PT X PSB no futuro, o senador aproveitou
para trazer de volta o assunto da PPP. "Esse assunto da PPP, já que
Geraldo proibiu a palavra privatização, é uma proposta que diz garantir o
saneamento, mas áreas como morros vão ficar de fora dessa urbanização. A
parte boa, lucrativa, vai ficar com quem ganhar a licitação. Ou o
Governo vai prejudicar ou vai aumentar. O saneamento interessa a cidade.
Dilma está destinando investimento para saneamento das cidades.
Pretendo fazer parcerias sem trazer prejuízos para a população",
destacou.
Sobre a participação de secretários do PT na gestão Eduardo Campos,
Humberto, mais uma vez, não respondeu diretamente. "Nós estamos tendo
uma disputa municipal. O PSB também tem gente na prefeitura. Não
queremos nacionalizar essa disputa. Se dependesse de nós, estaríamos
juntos. Mas foi Eduardo Campos que foi buscar Jarbas Vasconcelos.
Romperam comigo para se unir a quem sempre atacou. Sou amigo de Eduardo,
fui secretário dele e quero trabalhar com ele como prefeito na cidade
do Recife."
E novamente a PPP da Compesa na pergunta de Jamildo Melo, do Blog de
Jamildo, para Mendonça Filho. O jornalista comparou a criticada
privatização da Compesa com a venda de 30% da Caixa Econômica Federal no
governo FHC, até então aliado político do antigo PFL, hoje DEM.
Mendonça saiu pela tangente. "Como todas as empresas estatais do Brasil.
A Petrobras tem milhares de acionistas. Não havia risco do controle de
uma companhia como a Compesa passar para a iniciativa privada. Toda
negociação que se deu no nosso governo se deu entre a Compesa e a CEF
(Caixa), ambas públicas."
RAPOSAS - Sobre a acusação de Geraldo, que chamou os demais
candidatos de "velhas raposas da política", a comissão jurídica do
debate concedeu direito de resposta a Mendonça, Daniel e Humberto.
"Até uma brincadeira é bem-vinda, mas comparar um candidato a uma
rapousa é rebaixar o nível. Aquele que está acompanhando em casa quer um
debate de alto nível. O que quero é usar minha história de vida para
melhorar a qualidade de vida na cidade do Recife", disse Mendonça.
Daniel foi mais duro: "É lamentável que numa oportunidade de discutirmos
ideias sejam feitas agressões. Ele diz que é da paz, na prática foi o
único que conseguiu agredir os três ao mesmo tempo. Tenho muito respeito
por todos. Não queremos destruir, queremos convencê-los para contar com
a colaboração deles. Quem vai decidir é o eleitor e espero que o
eleitor decida por nossa candidatura."
Humberto usou sua tragetória política para responder às acusações. "Na
política, a primeira coisa fundamental é o respeito e a humildade. Tenho
uma reputação honrada, limpa, vereador mais votado, como senador tive a
coragem de ser relator do caso Demóstenes. Exijo respeito à minha
trajetória, fui ministro de Lula, secretário e colega de Geraldo Júlio,
portanto ele deve me tratar como igual, com respeito."
ENTENDA A POLÊMICA - A Parceria Público-Privada (PPP) ambiciona
universalizar o saneamento no Grande Recife. Toda a polêmica do caso foi
gerada em torno das acusações que o candidato à prefeitura do Recife
Humberto Costa tem feito em sua campanha, afirmando que o candidato
Geraldo Julio, do PSB, pretende privatizar a companhia.
A Compesa divulgou uma nota de esclarecimento, nesta terça-feira (25),
na qual garante que o projeto não é uma privatização e nega reajuste na
conta de energia.
fonte:jornaldocommercio