quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Clinton hipnotiza a platéia


por Eliakim Araújo

O ex-presidente Bill Clinton refutou cada argumento dos republicanos e afirmou que Obama tomou todas as medidas para modificar uma economia deixada em frangalhos pelo ex-presidente George Bush.

O impressionante discurso do ex-presidente na noite desta quarta-feira em Charlotte, na Convenção Nacional Democrata, durou 48 minutos e empolgou a platéia de delegados e convidados. A emoção chegou ao clímax quando, ao fim do discurso, Obama entrou no palco para abraçar Clinton.

Analistas consideraram o discurso de Clinton extremamente feliz porque soube responder didaticamente a cada uma das críticas dos republicanos, numa linguagem simples e emotiva que fizeram dele um dos melhores comunicadores políticos de sua época.

Lembrando a difícil situação econômica herdada por Obama ao assumir o cargo em janeiro de 2009, Clinton declarou em meio a aplausos estridentes: "Nenhum presidente – nem eu, nem qualquer um dos meus antecessores - poderia ter reparado totalmente todos os danos que ele encontrou, em apenas quatro anos”.

No final, os jornalistas conservadores da Foxnews procuravam e não encontravam brechas no discurso de Clinton.  Alex Castelhanos, estrategista republicano da CNN, afirmou: “se Obama for re-eleito, eu acho que esta noite terá sido uma boa razão para isso”.
A Convenção Nacional do Partido Democrata termina nesta quinta-feira com o discurso de Barack Obama.  Ele tem a dura missão de apresentar alguma coisa nova, em matéria de economia, que traga de volta a esperança dos que votaram nele em 2008.
Sem dúvida, a economia é o grande obstáculo que se lhe apresenta. Os republicanos cobram explicações sobre o desemprego, que teima em permanecer alto,  e o déficit público que passa dos 15 trilhões de dólares.
Por outro lado, a 60 dias da eleição, há uma polarização em torno dos temas que dividem a sociedade estadunidense.  E é inegável que o país avançou, e muito, na discussão e na aceitação de questões, que eram inexpugnáveis tabus há poucos anos.
Obama foi grandemente responsável por esse avanço. Foi graças a ele, que os gays deixaram de ser discriminados nas Forças Armadas, com o fim da famigerada lei do “don’t ask, don’t tell” (não pergunte, não fale), que permitiu a aceitação dos homossexuais desde que eles mantivessem em segredo sua orientação sexual.
A influência de Obama foi decisiva no debate sobre o casamento gay. Atualmente, nove Estados já o permitem e em outros dez é aceita a união civil, como forma de parceria entre pessoas do mesmo sexo. O tema é altamente explosivo e pode funcionar contra ou a favor de Obama.
Do mesmo teor controverso, é o direito ao aborto, defendido por Obama embora ele ressalte sempre que o “governo não deveria se intrometer em assuntos da intimidade familiar”.  Mas sua posição ostensiva em favor da liberdade da mulher escolher o que for melhor para ela, pode também trazer-lhe prejuízo ou lucro na escolha do eleitor.
E por último, mas não menos importante, a questão da imigração. Obama teve os dois primeiros anos de governo com maioria nas duas casas do Parlamento, mas falhou e não conseguiu aprovar uma reforma migratória.
Nos dois últimos anos, perdida a maioria na Câmara dos Deputados, tentou correr atrás do prejuízo. E baixou em junho último, sem consultar o Legislativo, uma norma que legalizou temporariamente os filhos de imigrantes que entraram ainda crianças nos EUA (menos de 16 anos) e até agora temiam o fantasma da deportação. Argumentando que esse segmento jovem não poderia ser penalizado por uma atitude errada dos pais, Obama permitiu a legalização de todos os que estavam nesse limbo jurídico, com direito a um visto de trabalho por dois anos, durante os quais são suspensos processos de deportação contra eles. A medida beneficia cerca de 2 milhões de pessoas.
Esse foi um gol de placa de Obama que pegou de surpresa os republicanos. Obama foi eleito em 2008 com 66% dos votos dos hispânicos. Este ano informa-se que são 12 milhões de hispânicos aptos a votar e tudo indica que Obama manterá o mesmo percentual.
O negócio é como montar esse quebra-cabeças. Certamente há latinos que são contra o direito ao aborto, como haverá os que são contra o casamento gay. Deve haver os que criticam a maneira como Obama conduziu a economia, mas são a favor do direito ao aborto e ao casamento gay, coisas que Romney e os conservadores abominam.
Enfim, o que será que o eleitor vai levar em conta na hora de escolher o candidato? Duvido que alguém saiba até porque as pesquisas insistem em mostrar um rigoroso empate entre os dois candidatos. Só saberemos mesmo depois de 6 de novembro.
Um detalhe importante. Não sei se os leitores que acompanharam as convenções dos dois partidos perceberam. Na convenção republicana podia se contar a dedo a presença de negros. Na democrata, ao contrário, eles eram tantos que quase faziam frente aos brancos.
Isso também pode fazer a diferença.

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