Clinton hipnotiza a platéia
por Eliakim Araújo
O ex-presidente Bill Clinton refutou cada argumento dos republicanos e
afirmou que Obama tomou todas as medidas para modificar uma economia
deixada em frangalhos pelo ex-presidente George Bush.
O
impressionante discurso do ex-presidente na noite desta quarta-feira em
Charlotte, na Convenção Nacional Democrata, durou 48 minutos e empolgou a
platéia de delegados e convidados. A emoção chegou ao clímax quando, ao
fim do discurso, Obama entrou no palco para abraçar Clinton.
Analistas
consideraram o discurso de Clinton extremamente feliz porque soube
responder didaticamente a cada uma das críticas dos republicanos, numa
linguagem simples e emotiva que fizeram dele um dos melhores
comunicadores políticos de sua época.
Lembrando a difícil
situação econômica herdada por Obama ao assumir o cargo em janeiro de
2009, Clinton declarou em meio a aplausos estridentes: "Nenhum
presidente – nem eu, nem qualquer um dos meus antecessores - poderia ter
reparado totalmente todos os danos que ele encontrou, em apenas quatro
anos”.
No final, os jornalistas conservadores da Foxnews
procuravam e não encontravam brechas no discurso de Clinton. Alex
Castelhanos, estrategista republicano da CNN, afirmou: “se Obama for re-eleito, eu acho que esta noite terá sido uma boa razão para isso”.
A Convenção Nacional do Partido Democrata termina nesta quinta-feira
com o discurso de Barack Obama. Ele tem a dura missão de apresentar
alguma coisa nova, em matéria de economia, que traga de volta a
esperança dos que votaram nele em 2008.
Sem dúvida, a economia é o grande obstáculo que se lhe apresenta. Os
republicanos cobram explicações sobre o desemprego, que teima em
permanecer alto, e o déficit público que passa dos 15 trilhões de
dólares.
Por outro lado, a 60 dias da eleição, há uma polarização em torno dos
temas que dividem a sociedade estadunidense. E é inegável que o país
avançou, e muito, na discussão e na aceitação de questões, que eram
inexpugnáveis tabus há poucos anos.
Obama foi grandemente responsável por esse avanço. Foi graças a ele,
que os gays deixaram de ser discriminados nas Forças Armadas, com o fim
da famigerada lei do “don’t ask, don’t tell” (não pergunte, não fale),
que permitiu a aceitação dos homossexuais desde que eles mantivessem em
segredo sua orientação sexual.
A influência de Obama foi decisiva no debate sobre o casamento gay.
Atualmente, nove Estados já o permitem e em outros dez é aceita a união
civil, como forma de parceria entre pessoas do mesmo sexo. O tema é
altamente explosivo e pode funcionar contra ou a favor de Obama.
Do mesmo teor controverso, é o direito ao aborto, defendido por Obama
embora ele ressalte sempre que o “governo não deveria se intrometer em
assuntos da intimidade familiar”. Mas sua posição ostensiva em favor da
liberdade da mulher escolher o que for melhor para ela, pode também
trazer-lhe prejuízo ou lucro na escolha do eleitor.
E por último, mas não menos importante, a questão da imigração. Obama
teve os dois primeiros anos de governo com maioria nas duas casas do
Parlamento, mas falhou e não conseguiu aprovar uma reforma migratória.
Nos dois últimos anos, perdida a maioria na Câmara dos Deputados,
tentou correr atrás do prejuízo. E baixou em junho último, sem consultar
o Legislativo, uma norma que legalizou temporariamente os filhos de
imigrantes que entraram ainda crianças nos EUA (menos de 16 anos) e até
agora temiam o fantasma da deportação. Argumentando que esse segmento
jovem não poderia ser penalizado por uma atitude errada dos pais, Obama
permitiu a legalização de todos os que estavam nesse limbo jurídico, com
direito a um visto de trabalho por dois anos, durante os quais são
suspensos processos de deportação contra eles. A medida beneficia cerca
de 2 milhões de pessoas.
Esse foi um gol de placa de Obama que pegou de surpresa os
republicanos. Obama foi eleito em 2008 com 66% dos votos dos hispânicos.
Este ano informa-se que são 12 milhões de hispânicos aptos a votar e
tudo indica que Obama manterá o mesmo percentual.
O negócio é como montar esse quebra-cabeças. Certamente há latinos
que são contra o direito ao aborto, como haverá os que são contra o
casamento gay. Deve haver os que criticam a maneira como Obama conduziu a
economia, mas são a favor do direito ao aborto e ao casamento gay,
coisas que Romney e os conservadores abominam.
Enfim, o que será que o eleitor vai levar em conta na hora de
escolher o candidato? Duvido que alguém saiba até porque as pesquisas
insistem em mostrar um rigoroso empate entre os dois candidatos. Só
saberemos mesmo depois de 6 de novembro.
Um detalhe importante. Não sei se os leitores que acompanharam as
convenções dos dois partidos perceberam. Na convenção republicana podia
se contar a dedo a presença de negros. Na democrata, ao contrário, eles
eram tantos que quase faziam frente aos brancos.
Isso também pode fazer a diferença.
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