A lamentável despolitização da política
por Mário Augusto Jakobskind
A despolitização da política é uma das marcas desta campanha
eleitoral para a escolha de prefeitos e vereadores nos 5.556 municípios
brasileiros.
No Rio de Janeiro, cidade que mais resistiu à ditadura, o panorama é
constrangedor, para não dizer vergonhoso. Basta ver a propaganda
eleitoral pela televisão para constatar o baixo nível com pleiteantes
aparecendo até com nariz de palhaço, em uma tentativa grotesca de
repetir o fenômeno paulista do parlamentar federal mais votado do país, o
Tiririca.
É preciso analisar o motivo pelo qual a política brasileira e mesmo
mundial decaiu com o surgimento de figuras como Silvio Berlusconi, Mario
Monti, Angela Merkel e por aqui Geraldo Alckmin, Sergio Cabral, Eduardo
Paes, entre outros. São produtos do mercado e com discursos enganadores
e muito apoio de grupos empresariais dos mais variados conseguem iludir
até gente bem intencionada.
A decadência da política partidária tem também como parcela de culpa
os próprios meios de comunicação que fazem o possível e o impossível
para evitar debates permanentes e não apenas de candidatos a postos
executivos com regras absurdas visando impedir o confronto de ideias.
Os grandes temas são escamoteados e quando surge algum tipo de
confronto aparecem os colunistas de sempre com críticas do gênero senso
comum objetivando evitar o aguçamento do espírito crítico da cidadania.
A continuar assim, as próximas eleições poderão ser ainda mais mornas
do que a atual e sem que o eleitor possa conhecer de fundo o verdadeiro
ideário dos candidatos, sobretudo daqueles que prometem mundos e
fundos, mas quando eleitos fazem exatamente o contrário das promessas.
Há casos notórios de candidatos vinculados a grupos econômicos dos
mais variados, no caso do Rio de Janeiro, o mais forte deles o da
especulação imobiliária, o mesmo setor que descaracterizou a arquitetura
da cidade com a permissão concedida por prefeitos, nomeados ou eleitos,
da quebra de gabarito dos prédios.
Os mais velhos lembram que na época da ditadura, grupos como o de
Sérgio Dourado se fizeram com a ajuda de prefeitos como Marcos Tamoio,
por exemplo.
Naquele período, por total falta de liberdade, era até arriscado
contestar tal estado de coisas. E isso no Rio de Janeiro, que dirá em
outros municípios afastados dos grandes centros.
Esperava-se que com a abertura, mesmo acordada de forma a evitar
eventuais confrontos, o processo de conluio entre representantes do
mundo político e o poder econômico fosse pelo menos reduzido.
Não aconteceu. A única diferença é que agora, ao contrário da época
da ditadura, pode-se denunciar picaretagens, como fazem alguns veículos
midiáticos, mas em geral desde que não afetem setores econômicos
vinculados aos proprietários.
Mas com o advento e o fortalecimento da internet, muitas vezes o que a
mídia de mercado tenta esconder é divulgado e de forma a provocar
impacto.
Ainda no Rio de Janeiro, tal raciocínio se confirma em fatos
concretos, como no caso das tentativas da Prefeitura do Rio de Janeiro
em remover mais de 500 famílias na área do Autódromo, na Barra da
Tijuca.
A turma do Prefeito Eduardo Paes tentou em um primeiro momento
remover os moradores sob a alegação de que poderiam representar perigo
para os atletas que participarão das Olimpíadas de 2016. Mentira, a Vila
Autódromo é um dos poucos bairros populares do Rio de Janeiro onde não
atuam as milícias ou os narcotraficantes.
Não satisfeito com a mentira que circulou algum tempo pela mídia de
mercado, como em função da mobilização dos moradores e dos movimentos
sociais a Prefeitura perdeu a parada, novas tentativas de remoção
ocorreram.
A alegação posterior, que também caiu por terra, era de que a
ocupação provocaria danos à lagoa de Jacarepaguá. Provou-se que o
argumento servia apenas de pretexto para a remoção.
Além do mais, os moradores da Vila Autódromo estão lá legalmente e
durante décadas se organizaram visando a urbanização do bairro. Tanto
assim que o projeto vencedor de concurso internacional Parque Olímpico
manteve os moradores no local.
Mas a Prefeitura não se deu por vencida. O argumento atual é de que
será necessário remover cerca de três mil habitantes do local para dar
passagem a Transcarioca. Pergunta-se então, por que o projeto não pode
ser deslocado para outra área e com isso manter o local como está,
inclusive com as melhorias já feitas levando em conta a preservação do
meio ambiente e tudo mais.
Para matar a charada que confirma o conluio entre a Prefeitura e
setores imobiliários é necessário divulgar o que é escondido pela mídia
de mercado carioca.
Segundo denúncias, Paes quer legitimar a remoção e entregar a área de
1,18 milhões de m2 para o consórcio privado Odebrecht-Andrade
Gutierres-Carvalho Hosken, sendo que pelo menos 5% seriam destinados à
construção de condomínios de alta renda.
Agora, na antevéspera da eleição, a Prefeitura carioca prometeu dar
um parecer sobre plano de urbanização desenvolvido pela comunidade em
parceria com especialistas do Instituto de Pesquisa e Planejamento
Urbano e Regional (Ippur) da UFRJ e do Núcleo de Estudos e Projetos
Habitacionais e Urbanos )(NEPHU) da UFF.
E assim caminha o Rio de Janeiro em plena campanha municipal. Na
campanha que aparece na televisão, Paes e outros como Rodrigo Maia e
Otavio Leite preferem evitar essa informação. Até porque, basta
verificar quem financia a campanha dos referidos candidatos.
E os grupos imobiliários, claro, não pregam prego sem estopa.
Financiam campanhas sim, mas vão querer de volta favores a serem
concedidos.
Ou vocês acham que a investida contra a comunidade da Vila Autódromo
por parte do Prefeito Eduardo Paes visa o bem estar da população?
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