sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Diplomata do Itamaraty tem reunião com brasileiro agredido na Espanha

Maestro pernambucano Israel de França atribui a violência ao racismo.
Cônsul-geral adjunto Cícero Garcia encontrou-se com ele em Granada.


Israel de França (Foto: Reprodução) 
Israel de França encontrou-se com cônsul-geral
adjunto do Brasil em Madri (Foto: Reprodução)

O cônsul-geral adjunto do Brasil em Madri, Cícero Garcia, encontrou-se, na tarde desta quinta-feira (27), com o violinista e maestro pernambucano Israel de França, que denunciou, no último dia 25, uma agressão sofrida na cidade de Granada, que teria sido cometida por policiais espanhóis. O músico atribui a violência ao racismo. De acordo com a assessoria de imprensa do Itamaraty, em Brasília, Garcia pôde verificar como o brasileiro estava e ouvir pessoalmente a narrativa dos fatos. O G1 tentou contato por telefone com o maestro, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
Além do encontro com França, Cícero Garcia também se reuniu com a chefia da polícia e com o prefeito de Granada, para formalizar o pedido do governo brasileiro para que haja uma investigação profunda sobre o ocorrido. Também nesta quinta, em Madri, o cônsul do Brasil, João Almino, acompanhado por outros funcionários da embaixada, fez reuniões com autoridades policiais espanholas para reiterar esse pedido de apuração completa.
Por fim, em Brasília, o secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Ruy Nogueira, que está atuando como ministro interino em função das férias do titular da pasta, Antonio Patriota, encontrou-se com o embaixador da Espanha, Emanoel de la Cámara Hermoso, para fazer a mesma solicitação, pedindo uma investigação que não deixe dúvidas sobre o que aconteceu em Granada.
Ainda segundo com a assessoria de imprensa do Itamaraty, Israel de França precisou ficar internado, inicialmente, mas foi liberado em seguida; além disso, ele já constituiu advogado e prestou queixa formal junto aos órgãos competentes espanhóis.
Entidades policiais locais também foram procuradas pelas autoridades brasileiras - especialmente os órgãos que têm função de corregedoria - para averiguar as circunstâncias da agressão. A assessoria do Itamaraty informou ainda que as autoridades espanholas estão conduzindo investigações, que se encontram em nível preliminar e nada definitivo foi repassado, até o momento.
Entenda o caso
Israel de França rege a Orquestra da Câmara da Granada, cidade onde vive há 22 anos. Na segunda-feira (24), ele afirmou ter sido agredido por policiais enquanto estava num bar com um amigo brasileiro, no domingo (23). De acordo com Israel, o amigo, de cor branca, foi liberado em seguida. Ele foi levado pelos policiais para o prédio de uma delegacia nas proximidades do bar, onde teria sido espancado sem justificativa.
Por telefone, ele disse que pode haver muitas explicações, mas acredita em uma hipótese em especial. "Pode ser perfeitamente racismo ou preconceito. Pode ser pela minha cor, porque o outro rapaz não foi espancado", pontuou.
O músico já havia sofrido preconceito ainda adolescente, morando no Recife. Na década de 1980, ele correu para pegar um ônibus com um violino na mão quando foi abordado por policiais. Os agentes exigiram a prova de que ele soubesse tocar o instrumento. "Toquei 'Jesus, alegria dos Homens', de Bach", relembrou.
Israel não acredita que os dois casos tenham alguma relação. "Aqui foi diferente. Aí não me pegaram, não me espancaram. Aqui não; nem os documentos no momento eles queriam", conta o músico.
História
Em 1982, Israel de França fez sua estreia como solista de violino em uma apresentação com a Orquestra Sinfônica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no Teatro de Santa Isabel, no Recife. Depois, viajou para São Paulo, onde trabalhou na Orquestra Sinfônica de Campinas. Ainda no Brasil, trabalhou na Orquestra Sinfônica da Paraíba.
Israel foi para a Europa porque conseguiu uma bolsa de estudos da Embaixada Brasileira em Portugal e um emprego na cidade do Porto. De lá, seguiu para Granada, na Espanha, onde estudou regência e ajudou a fundar a orquestra da câmara da cidade.
Israel mora em Granada há 22 anos e não esconde sua história de vida e nem as agressões que sofreu no Recife e na Espanha. Ele crê que pode se identificar com muitos jovens brasileiros. "Eu faço questão de relembrar, falar publicamente. Dizer que minha vida foi assim porque eu sei que tem muitas crianças nesse Brasil que também pensam a mesma coisa: não tem nada que possa impedir você de ser um grande músico, um grande pintor, sabe, um artista", concluiu.
FONTE:G1

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