FIM DE ANO DOS SEM FESTA
O Natal traz à lembrança dos homens, um menino que nasceu na pobreza,
sendo ele, dono das riquezas do eterno. O Cristo veio para todos, mas
nem todos o receberam. Os Profetas, na antiguidade, o anunciavam, e,
desde o seu aparecimento nenhuma outra voz profética se levantou: para
aqueles que o receberam, ele é o cumprimento das escrituras para
salvação do homem.Há, ainda, uma categoria que ignora essa dádiva
divina.
Nesses dias conturbados, da cidade com suas vias na alegoria de gente veloz e algoz; das veias entupidas de estresse e
desemprego , dos fast foods, das contas à pagar deixando todos abatidos no desassossego. o Natal é uma metáfora
mercantilista e cruel que atua, diretamente, no cortejo da emoção da
sociedade. Observem: ela atua no consumismo desenfreado, trazendo luzes
que encandeiam o sentido verdadeiro do olhar natalino.Imprime um tempo de
confraternização baseado no comércio que precisa prosperar; então,
criam-se novos mitos. Existe uma multidão que, ano após ano, vive na
espera da chegada do Papai Noel: ele nao chega, ele não vem! Não é difícil constatar
essa mesquinharia social.
No Recife, em seus rios e ruas, de
indiferença, transeuntes com rostos vestidos de mormaço, fantasia
inaceitável, pintada pelas oligarquias ambiciosas, já fatigada na
falência, desejando tirar dos pobres o que eles não têm.Marca o festejo com
seu capitalismo dilacerante, que olham o povo de cima para baixo; mas
não aquece o coração da humanidade e, em meio às luzes que acendem
árvores, edifícios e pontes, nos bancos das praças ornamentadas, quando o
movimento das ruas dá lugar à madrugada fria e solitária, embaixo das
marquises do abandono no centro antigo da miséria, debaixo de lonas de
plástico preto (que não se chama lar), os excluídos da festa comercial
só podem esperar por uma sopa que aplaque a fome visceral que os come
perene e lentamente. Mas, e o espírito? Como apaziguar o fundamento que,
soprado no barro que somos, pela divina inspiração,deu-nos a
consciência humana.
O que se ver? o quadro da política, imersa
num rio caudaloso de escândalos de corrupção que, um após outro, parecem
não ter limites de cinismo, mas é tão-só porque esse quadro merece uma
abordagem mais profunda que o tema aqui – O Natal – não deve deixar
encoberto; e não deixará! Afinal essa podridão é fator secular em nosso
País, que acentua as desigualdades sociais. É preciso se fazer um
conserto entre todas instâncias políticas, judiciárias, governamentais,
da sociedade civil organizada, e, principalmente, um novo “concerto” em
nossos corações e mentes para que nessa época e em todos os dias do ano,
possamos olhar o irmão, abraçá-lo ou estender as mãos, cumprindo o
mandamento que Jesus Cristo anuncia: O Amor.
Ontem, cruzando o
Recife num táxi, parado em mais um engarrafamento, no rádio tocava uma
música: “Então é Natal! E o que você fez?...” Entre os carros, uma
criança maltrapilha, de olhar apagado e perdido, estendia a mão
vagarosamente, com a pouca esperança de ser atendida por algum
motorista, ou pelo Papai Noel que não vem nunca.
Portanto,
afirma-se: igualmente aos palhaços dos circos que se apresentam nas
cidades do interior, que hoje não tem espetáculo.Hoje nenhuma alma
ambiciosa é irmã de DEUS.E finalizando vou no que afirmou o queridíssimo
poeta Geraldino Brasil, em seu poema:”...enquanto houver uma criança
assistindo ao domingo de outra criança,perdoe-me Deus, mas nem eu quero
entrar nos reinos dos céus.”E com este cenário que se assiste,
diga-se:Pode mandar a morte que eu tenho coragem de vivê-la.O caixão
será o berço da manjedoura.A injustiça a cova.E busque-se um NATAL para
sempre e para todos.
Flávio Chaves, Membro da Academia
Pernambucana de Letras-APL, Federação Nacional de Imprensa-FENAI, União
Brasileira de Escritores-UBE,Associação Brasileira de Imprensa-ABI,
Associação da Imprensa de Pernambuco-AIP, ABRAJI,professor, escritor,
poeta e jornalista.
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