sexta-feira, 1 de julho de 2011

Julho começa em meio a boatos

Como neste mês haverá cinco fins de semana completos, surgiu na internet informação de que seria fenômeno registrado só a cada 823 anos. Mas isso é muito comum

Foto: Alexandre Severo/JC Imagem

Mês com 31 dias e associado às férias de inverno no Brasil, julho começa hoje e, este ano, ganhou mais um predicado. Nas redes sociais ele aparece como um caso raro do calendário gregoriano porque terá cinco sexta-feiras, cinco sábados e cinco domingos. O fenômeno, dizem os estudiosos apócrifos da internet, acontece uma vez a cada 823 anos. Puro boato.

O fim de semana extra de julho - com cinco sextas, cinco sábados e cinco domingos - vai se repetir toda vez que o sétimo mês do ano começar numa sexta-feira. E com intervalos bem menores do que os apregoados oito séculos. Aconteceu em 1977, 1983, 1988, 1994 e 2005. Depois de 2011, volta a aparecer no calendário de julho de 2016, 2022 e 2033.

Na verdade, nem é privilégio de julho. É comum a todo mês de 31 dias. Março teve cinco sextas, sábados e domingos em 2002. O mesmo ocorrerá em 2013, 2019 e 2024. Janeiro apareceu assim em 1999 e 2010. Será igual em 2016. No calendário de maio de 1998 e de 2009 havia cinco sextas, sábados e domingos. Em 2015 também.

Nem é preciso recuar ou avançar tanto no tempo para confirmar. Mas há arranjos diferentes. Maio deste ano, por exemplo, teve cinco domingos, cinco segundas-feiras e cinco terças-feiras. Vá lá, segunda-feira é um dia meio antipático. Ninguém sai por aí comemorando uma segunda-feira a mais. Bem melhor ter cinco boêmias sextas-feiras.

Agosto vindouro, com seus 31 dias, também não deve agradar muito. Terá cinco segundas-feiras, cinco terças-feiras e cinco quartas-feiras. E para não ficar enfadonho, quem quiser continuar a brincadeira basta pegar o calendário de 2011 e dar uma espiada nos outros meses de 31 dias - janeiro, março, maio, outubro e dezembro.

A encarregada de serviços gerais Girleide Lucena, 44 anos, vai tirar férias a partir desta sexta e não tinha notado que o mês permite cinco fins de semana. "Nem reparei, que coisa ótima", comemorou. Mas ao saber que voltará em agosto, com suas cinco segundas-feiras, comentou: "eita, danou-se, logo o dia nacional da preguiça. Vou receber de bom humor os cinco fins de semana de julho, para enfrentar com bom humor as cinco segundas de agosto".

CORRENTE - Para os judeus ortodoxos, cristãos adventistas e testemunhas de Jeová, o mês de julho proporcionará um sábado a mais a ser dedicado às orações. Os adventistas guardam o sábado para lembrar que Deus descansou no sétimo dia da sua criação, como está escrito no livro do Gênesis. Entre os judeus, o sábado é um momento de repouso espiritual e também funciona como um intervalo na labuta diária.

Julho (ou qualquer outro mês de 31 dias) com cinco sextas, sábados e domingos se repete com intervalos de cinco, seis e 11 anos. O ano bissexto, quando fevereiro tem 29 dias, interfere nos espaçamentos.

"Não há nenhum mistério ou magia nisso, assim como não há qualquer fundamento para o intervalo de 823 anos", diz o estatístico da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Cristiano Ferraz. Na avaliação do professor, o 823 deve ter sido escolhido de propósito, para causar impacto. "Um número redondo, como 500, levantaria dúvidas", observa.

O fato vendido como raro, reforça, é apenas uma corrente de internet, geralmente feita para capturar e-mails e favorecer a aplicação de golpes. "Quando a pessoa passa a mensagem adiante, novos endereços vão se somando à lista. Esse é o objetivo de quem espalha correntes. O melhor é deletar", alerta. Para Cristiano, o ano bissexto é muito mais interessante do que as cinco repetições de dias nos sete meses mais longos do ano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário