domingo, 11 de setembro de 2011

Em entrevista, João da Costa avalia que não há rompimento

Há dois anos e nove meses na Prefeitura do Recife, depois de enfrentar vários problemas e muitas críticas, João da Costa (PT) só tem olhos para a agenda positiva. Isso inclui a briga com seu ex-padrinho político, João Paulo, de quem ele diz estar apenas "distanciado". Nesta entrevista, o prefeito se mostrou bem humorado e mais afeito ao jogo político, mas sempre insistindo em manter o foco na gestão. A roupa de candidato à reeleição, ele diz que só vestirá quando tiver o aval do PT e dos partidos aliados.


 / Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem

JC – Como o senhor tem visto o progressivo enfraquecimento da oposição ao governo Dilma? Isso é herança do ex-presidente Lula, que tinha um estilo mais duro de tratar os adversários, ou é marca também da sua sucessora?

JOÃO DA COSTA – Isso é o resultado do que aconteceu no Brasil nos últimos dez anos. É inegável que houve grandes avanços econômicos e sociais. Lula conseguiu construir uma coalizão política que embora tenha alguns problemas, deu sustentação a essas mudanças, que beneficiaram todos os extratos da sociedade. Os empresários ganharam dinheiro e ampliaram seus negócios com o crescimento da economia. A população que não tinha emprego passou a ter. Quem ganhava menos teve aumento, quem não tinha carro comprou um. Quem era classe D e E passou à classe C e quem era C passou à B. O Brasil teve transformações profundas e visíveis. Agora, todo sistema político precisa de oposição. Mas quando se tem um projeto político e um governo com tamanho sucesso, com um líder popular como Lula, isso fragiliza a oposição quando não tem um projeto alternativo para mostrar. Qual é a alternativa da oposição à distribuição de renda para a população? E à distribuição de riqueza em nível regional? O Brasil passou a ter voz ativa em nível internacional, diminuiu a desigualdade social, ampliou o acesso à educação superior e técnica. É claro que ainda temos problemas, mas não vejo a oposição apresentar alternativas à essas conquistas que possam dar sustentabilidade a um projeto dela.

JC – O Brasil já não tem problemas demais a serem administrados, para o PT estar preocupado com o controle social da mídia? E se o partido conseguir realmente criar um "marco regulatório" da imprensa, o que a sociedade ganha? Haverá, por causa disso, menos corrupção, menos escândalos, ou eles só serão menos divulgados?
COSTA – O PT não colocou isso como centralidade política, mas como uma necessidade de um debate na sociedade como há em outras áreas. Por exemplo, não há agência estatal, mas há um acordo na área de propaganda e publicidade que regulamenta uma conduta ética das agências. Não vejo nada que impeça que, no campo das comunicações, possa haver uma regulação governamental ou uma agência formada entre os próprios veículos. Tem determinados sistemas de comunicação que têm sua própria conduta, seja de relacionamento com o Estado, seja de relacionamento político. Aquilo é uma regulação. O que se propõe é que se discuta um regulamento mínimo de conduta ética. Não se trata de censura. Mas numa democracia também há regras. Acho que é uma discussão saudável.

JC – Mas essa iniciativa deu um mote para a oposição ampliar as críticas de que o PT teria um comportamento pouco democrático no poder, que já teria cooptado os movimentos sociais, os partidos, teria anulado as oposições e agora estaria investindo no controle da imprensa.
COSTA – Não. Um discurso assim não tem base na realidade. Ontem mesmo (dia 7 de Setembro), setores da sociedade foram se manifestar contra a corrupção, e o PT não estava lá, controlando. Agora, muitos dos programas que o PT aplicou foram resultado das lutas dos movimentos sociais. A expansão do ensino público, das universidades, o ProUni, eram bandeiras da UNE. A política de cotas veio dos movimentos sociais, assim como a política de redistribuição de renda. A luta por mais emprego e pelo crescimento econômico com estabilidade era uma luta dos trabalhadores e dos próprios empresários. Tudo isso o PT aplicou em seu governo. É natural que quando se aplica um conjunto de medidas que foram propostas pelos movimentos sociais e elas são um sucesso, parte expressiva desses movimentos apoiam. Não quer dizer que represente um alinhamento automático.

JC – O senhor já foi militante da chamada esquerda radical. Hoje, ocupa um cargo que demanda muito jogo de cintura. O que restou desse seu passado militante e no que ele interfere quando o senhor precisa agir como conciliador?
COSTA – O meu passado serve para me manter com firmeza ideológica, de ideias, de querer transformar a cidade. Eu sou do PT, um partido que coordena uma frente de partidos. Eu disse, desde que tomei posse, que meu governo não seria somente do PT, mas da Frente do Recife. E estou convencido que essa coalizão de partidos é que dá sustentação política para se fazer mudanças, tanto no País como no Estado ou na cidade. É um arranjo político feito nos últimos anos, que não necessariamente tem que permanecer dessa forma. Vai depender das condições políticas em que a gente trabalha. No Recife, o PT coordena o governo, mas tem que levar em conta interesses e ideias e representação política de todas essas forças. E um governo como o nosso não é sustentado apenas por partidos. Até porque a maioria dos partidos, hoje, tem fragilidades do ponto de vista da legitimidade social. Tem peso eleitoral, mas às vezes um peso político menor. Temos que ter uma relação direta com a sociedade, para que ela dê apoio às ações do governo.

JC – O trabalho de prefeito demanda uma atividade muito intensa. A sua saúde ainda tem interferido nessa questão, ou depois do transplante renal o senhor está totalmente recuperado para enfrentar esse rojão diário?
COSTA – A saúde melhorou muito depois da cirurgia. Hoje tenho muito mais condições físicas. Acho que o meu exercício como prefeito é um exemplo para que a sociedade veja a política de transplantes com outros olhos, que incentive a prática de doação de órgãos. O transplantado pode ter uma vida completamente normal e produtiva, e eu sou um exemplo disso. A felicidade de fazer o meu trabalho, que me dá muito prazer, me dá energia. A equipe tem sentido que hoje estou mais instigado, cobrando mais, porque a minha saúde melhorou muito depois do transplante. Embora eu ache que devemos caminhar para que o exercício do poder executivo ou da política não seja exaustivo e inviabilize a saúde das pessoas. Temos que ter estrutura, retaguarda, profissionalizar a gestão para que esse trabalho seja igual ao de qualquer empresa.

JC – Em particular, como o senhor costuma reagir às críticas à sua administração? Por exemplo, quanto aos problemas de mobilidade urbana que são, hoje, a principal queixa dos recifenses?
COSTA – Eu procuro na crítica o que tem de positivo para eu corrigir. Nem toda crítica é um ataque político ao prefeito. Todo cidadão que passa por um buraco vai ficar tão chateado quanto eu fico. A diferença é que ele pode xingar a mãe do prefeito, e eu não (risos)... Mas fico preocupado do mesmo jeito, porque sou um cidadão. hoje estou muito mais atento a isso. O Recife tem mais de 12 mil ruas, e mesmo com todo o nosso esforço, não vamos estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Então, quando o cidadão nos alerta sobre um problema, encaramos como uma contribuição e tentamos corrigir. Hoje nossa velocidade de resposta aumentou muito. Saímos de 40% no começo do ano de resposta ao 156 (telefone de reclamações) para 85% agora em julho. Foi um esforço na Emlurb, mas queremos avançar. Agora, as questões de mera especulação política, com interesse de nos desgastar, eu tenho que absorver. Às vezes levo isso com bom humor, e às vezes, como um alerta.

JC – Para o senhor qual seria o melhor legado da sua administração?
COSTA – O maior legado é poder contribuir para reduzir as desigualdades sociais na cidade. Tenho um compromisso muito forte com isso. Por exemplo, temos feito uma política de habitação forte, entregamos já 16 conjuntos habitacionais e queremos entregar 5 mil habitações até o final de 2012. De reforçar a estrutura de educação infantil, de ampliar a estrutura da saúde com programas que estamos desenvolvendo. Na semana passada estivemos com a presidente Dilma inaugurando uma empresa aqui que está gerando mais de 14 mil empregos. Isso para mim é uma possibilidade para jovens do Recife terem acesso a emprego e renda. Quando vejo o faturamento do Porto Digital de um bilhão de reais este ano, empregando mais de seis mil profissionais de alta qualidade, isso nos dá esperança.

JC – Como o senhor vê a insistência dos parlamentares na aprovação da Emenda 29, que estabelece percentuais obrigatórios de despesas da União, Estados e Municípios com a saúde? O PT tem defendido a criação de um novo imposto, como era a CPMF, mas não teria que arcar com um desgaste político grande demais?
COSTA – Para o Recife, até melhora, porque já cumprimos a emenda 29. Nós já gastamos 15% do orçamento da Prefeitura só com saúde, de forma direta. E tem os custos indiretos, como drenagem, educação ambiental. Temos investido mais de 500 milhões em saneamento, mesmo com a receita não sendo nossa, porque vem da Compesa. A emenda 29 vai permitir que o Ministério da Saúde possa transferir mais recursos para os municípios. Acho que dentro do Orçamento da união e do Pacto Federativo isso pode ser trabalho, como redirecionar os recursos. A discussão que temos que fazer não é sobre essa emenda, mas se a saúde pública é prioridade para o País. Há problemas, mas há muito sucesso. Eu sou um exemplo: pouca gente sabe que meu tratamento do transplante foi todo custeado pelo SUS em São Paulo. E lá eu não sou o prefeito do Recife, sou um paciente igual a outro. E não sou prioritário. Todos são tratados com a mesma prioridade e a mesma eficiência. Se a saúde é prioridade, vamos discutir o controle e a eficiência dos gastos e discutir o financiamento. Que não precisa ser uma nova CPMF. podemos redirecionar do Orçamento da União.

JC – É possível notar um maior diálogo entre o senhor e o governador Eduardo Campos (PSB) nesta segunda metade da sua gestão. O que distanciava vocês no começo, e qual o motivo dessa aproximação? Seriam as eleições, ou há uma preocupação maior do governador em ajudá-lo administrativamente? Há alguns dias, ele anunciou uma série de obras de mobilidade urbana no Recife...
COSTA – Há, por um lado, o compromisso do governador com o Recife, que é o coração de Pernambuco, dessa nova estruturação econômica que não existe sem a participação ativa do Recife. Digo isso com dados: cada emprego gerado no setor industrial, são gerados mais dois empregos no setor de serviço no Recife. Temos uma expansão grande hoje, que demanda uma infraestrutura da cidade que seja compatível com isso. Não se tem um polo industrial, petroquímico, farmacêutico, sem ter no Recife um polo de serviços moderno, gerando emprego e renda. Então, eu vejo no governador um parceiro para construir bem o presente e o futuro de Pernambuco, que não é dissociado do Recife. Evidentemente que quando há afinidade de projetos entre prefeito, governador e presidente e os resultados são bons, a sinergia é grande e ganha todo mundo com isso. Claro que, se estamos do mesmo lado e trabalhando dessa forma, vai haver dividendos eleitorais para o governador e também para o prefeito.

JC – O senhor já foi deputado estadual e está há dois anos e nove meses como prefeito. Já dá para se considerar "político", ou o senhor ainda se vê como um técnico?
COSTA – Eu acho que, para ser um bom político hoje, tem que ter conhecimento técnico. Assim como para ser um bom gestor, tem que ser um bom político. Esse convencimento que eu já tinha antes, hoje é muito maior. Estou na fase, então, de ser um bom político.

JC – Qual o papel da primeira-dama, Marília Bezerra, na sua administração? Ela é mais controladora na PCR ou em casa?
COSTA – Nem aqui nem em casa. Ela é minha companheira de muito tempo, que me ajuda em tudo. Ela sempre foi militante. Eu conheci Marília num encontro do PT. É natural que eu estando no governo, ela possa contribuir também. E há uma mudança nisso. Antigamente – sem querer usar tom pejorativo – a primeira-dama se limitava a fazer ações sociais, filantropia. O papel da mulher na sociedade mudou. Fiquei muito feliz com a decisão do congresso nacional do PT, que aprovou uma política de paridade para as próximas direções partidárias, com 50% de mulheres e 50% de homens. E na sociedade já é assim. Então, é natural que, no governo, minha companheira, que é militante, contribua aqui. E nós temos uma grande parceria também em casa.

JC – Da sua gestão, qual o maior acerto e o maior erro que o senhor apontaria?
COSTA – Tivemos alguns problemas, que foram menos erros voluntários e mais de começo de gestão. Tivemos problemas, por exemplo, com o lixo, no primeiro ano, que trouxe consequências que até hoje procuramos recuperar. Aquilo impactou muito no começo. Mas acho que, como acerto, demos consistência a um conjunto de políticas que já vinham dos oito primeiros anos. Eu assumi o compromisso de continuar e ampliar esse trabalho. Um exemplo é a política habitacional. Outro, a política ambiental. O maior acerto eu diria que é termos contribuído para ampliar o espaço de participação da população na gestão. Não vejo nenhum governo hoje que tenha condições de enfrentar os problemas e os desafios de uma cidade sem um amplo processo de participação popular.

JC – Que prazo o senhor estabeleceu para externar um comportamento menos gestor e mais político, visando as eleições do próximo ano?
COSTA – As duas coisas estão juntas. A população ainda não percebeu, de forma majoritária, o meu papel de gestor. Isso eu estou tendo a oportunidade agora de fazer. Com a implantação da Via Mangue, do Projeto Capibaribe Melhor, do processo de reordenamento da cidade, das políticas de enfrentamento do trânsito, que não é um desafio só meu, mas de todas as grandes cidades brasileiras, e precisa ser enfrentado, porque no primeiro momento isso é identificado com o prefeito. Estamos fazendo ações imediatas, como a modernização dos semáforos, reestruturando a CTTU, ampliando o número de agentes de trânsito, mas também com obras grandes, como a duplicação do viaduto Capitão Temudo, a Via Mangue saindo do papel, a paralela da Imbiribeira. Sou prefeito com mandato até 2012. A roupa de candidato só se veste no momento adequado. A possibilidade de reeleição é colocada na medida em que meu governo fique melhor a cada dia. Aí, a vontade da população de continuar sob meu comando ficará maior.

JC
– Como o senhor analisa a iniciativa das oposições, de se juntarem na Mesa da Unidade para fiscalizar a sua gestão? Essas ações o preocupam?
COSTA – Oposição, num regime democrático, é necessária, na medida em que ela contribua com um projeto para o avanço. O PT, na oposição, tinha um projeto para o Brasil, assim como tinha para o Recife. Nós dizíamos o que íamos fazer, quais as nossas prioridades. Acho que é isso que a oposição tem que fazer. Quanto á tática, se estará junta ou separada, é com a oposição. Não sou eu quem tem que julgar isso.

JC – O senhor acredita que poderia enfrentar Jarbas Vasconcelos (PMDB) numa disputa pela Prefeitura?
COSTA – Chegando em 2012 e o PT e a Frente do Recife decidindo em abril, maio, ou na convenção de junho, que eu sou candidato à reeleição, não tenho que estar escolhendo adversários. A oposição, hoje, tem diversos candidatos, e que talvez eles apostem mais numa perspectiva de futuro do que no que está colocado hoje. Mas essa é uma decisão da oposição, não cabe a mim. O que eu tenho que fazer é um bom governo e ajudar a Frente do Recife a ter unidade para as próximas eleições.

JC – A direção nacional do PT recentemente dificultou a realização de prévias internas para a escolha dos candidatos. Isso o deixou mais aliviado ou considera seu espaço para 2012 consolidado?
COSTA – Eu não vejo que se colocou dificuldades para as prévias. Vejo uma maturidade maior. O estatuto diz que qualquer filiado pode ser candidato, e tendo mais de um, pode ter prévias. Mas o PT participando de governos, isso causava certas dificuldades, como foi no caso de Eduardo Suplicy disputando a indicação com Lula, que era candidato à reeleição. Era uma prévia desnecessária. Então, a nova resolução diz que, quando o partido está no governo e dois terços decidem que não haverá prévia, a decisão é levada ao encontro do partido. Isso preserva a democracia interna. Então, não é questão de me deixar aliviado, porque isso não foi feito para mim, mas para o partido.

JC – Há quem diga que o senhor passou a primeira metade da gestão preocupado demais com a herança recebida de João Paulo e lutando para se desvencilhar dela. O senhor considera que já imprimiu sua marca no Recife?
COSTA – Primeiro, eu não procurei em nenhum momento me desvencilhar de uma herança que eu construí. Não é uma herança política só de João Paulo, porque eu era secretário. Então, eu contribuí com ela. João Paulo tem uma grande contribuição, e eu reconheço isso sempre. Agora, é um resultado político de outros companheiros também, do PT e de outros partidos, porque ninguém ganhou isso aqui sozinho. Nós ganhamos com o apoio do PSB, com o apoio de Miguel Arraes em 2000, com o apoio de Eduardo depois. Com o apoio do PDT, do PTB, do PCdoB. É uma herança coletiva e eu tenho que ter responsabilidade com ela e com a população. Acho que eu tenho, como gestor e como político, uma marca que esteja identificada com o que eu penso, como eu vejo a cidade. Quero deixar uma marca de modernidade, de planejamento do futuro. Por exemplo, quando eu penso em Via Mangue, não penso que ela vai ser concluída dentro dos meus quatro anos de mandato. Ela vai além. Quando vamos a Brasília buscar recursos para novos projetos, eles vão começar agora e não vão acabar em 2012. Tenho que pensar no futuro da cidade para que ela chegue preparada para quando a refinaria estiver pronta, a Fiat estiver pronta e outros projetos também. Então, Pernambuco vai vivenciar, daqui a três sou quatro anos, um apogeu econômico como nunca teve. E aí as pessoas perceberão que deixei a minha marca ao planejar a cidade.

JC – No início do seu mandato, eu lhe perguntei se o senhor pretendia formar um grupo político para comandar, dentro do PT, como têm o senador Humberto Costa e o ex-prefeito João Paulo. Já deu tempo de montar esse grupo?
COSTA – Montar um grupo político no PT nunca foi o meu objetivo. O PT vive uma transição, um momento diferente. Há uma grande unidade sobre as estratégias do partido, há um distensionamento. Eu tenho conversado com muita gente dentro do PT sobre o que eu penso sobre o partido, seu papel junto com os aliados, com a cidade e o país. E isso vai criando uma sintonia com algumas pessoas que pensam como eu. mas não tomou forma de grupo político ou tendência. Acho que a forma como as tendências funcionam hoje no PT não faz mais sentido. Vai haver uma nova forma de organização interna. Esse engessamento de blocos nas disputas internas do partido não faz mais muito sentido. Se há um consenso, essas coisas são secundarizadas. Não vou montar grupo só para disputar aparelhos dentro do PT. Quero me relacionar com correligionários que pensem numa política do PT para Recife, para Pernambuco, para o Brasil. Isso eu estou conversando com muita gente, e às vezes você vai atraindo um círculo de pessoas que lá na frente pode ser que se transforme em algo mais consistente, mas não é meu objetivo político.

JC – Hoje, o senhor colocaria o rompimento com João Paulo no campo pessoal ou no campo político?
COSTA – Da minha parte nunca esteve no campo pessoal. E eu até diria que também nunca esteve no campo político, senão nós estaríamos em partidos e grupos diferentes. Nós tivemos divergências sobre como encaminhar o processo administrativo na prefeitura, que se transformou num distanciamento. Então, no meu ponto de vista, estaria nesses termos: um distanciamento, apenas. E nesses termos cabe a nós criar condições para voltar a conversar, já que fazemos parte do mesmo projeto político. Nada do que eu fiz aqui é diferente do que foi feito antes. Eu procurei dar continuidade e avançar em algumas coisas. É a mesma frente, são os mesmos compromissos. Houve aprofundamento na política habitacional, na política ambiental, no orçamento participativo. Hoje temos condições de retomar uma política de manutenção e conservação da cidade melhor que antes, em função de problemas financeiros que enfrentamos. E captamos muitos recursos, como nunca aconteceu no Recife. Captamos um bilhão de reais para obras de infraestrutura urbana, saneamento, pavimentação, macrodrenagem. O governo federal está liberando 800 milhões de reais para obras de mobilidade urbana. E tem a Via Mangue. Quando se soma tudo, há uma carteira de projetos de quase dois bilhões de reais que foram captados no meu governo. Isso está começando no presente e vai estar materializado daqui a três ou quatro anos. E porque foi pensado antes. Isso tudo é um projeto político que começou em 2001 e eu dei continuidade no meu governo. Então, não há afastamento político.

JC – Da forma como o senhor fala, não parece que o senhor aposta numa saída de João Paulo do PT para disputar a eleição por outro partido. Acha que ele fica no PT mesmo?
COSTA – Eu acho que, por toda a história. Nós construímos juntos nossa trajetória no PT. Se não fosse o PT no Brasil a partir da década de 80, um ex-operário como João Paulo ou um ex-militante do movimento estudantil de esquerda não estariam hoje governando o Recife. Foi a história do PT, foi a mudança na sociedade brasileira, foi a estruturação de movimentos sociais populares que nos permitiram estar aqui. E nós somos devedores dessa história, somos filhos dela. Acho muito difícil romper com isso para construir outra coisa. Essa história quer que a gente continue junto, amadurecendo e transformando as coisas. Não se trata da figura de João da COSTA ou de joão Paulo. Somos frutos de um processo que quer que continuemos juntos.

JC – Se ele ficar, o senhor aposta no apoio dele à sua reeleição?
COSTA – Vamos discutir isso no próximo ano. Então, vai haver o tempo necessário, que não é agora. No próximo ano, eu como condutor do processo, junto com o governador, que coordena frente no Estado, vamos procurar todos os partidos e forças políticas para construir a unidade, para que não se desarrume o que está dando certo. Se João Paulo for para outro partido que faça parte do nosso campo – o que eu não acredito – ele será chamado da mesma forma. E não acredito que ele vá para um partido que não faça parte do nosso campo. Isso nunca faria parte da história de João Paulo. Eu continuo acreditando que, com todas as dificuldades, ele ficará no partido. Até porque, o PT sempre foi assim. Nós divergimos, temos escaramuças, mas exercitamos as diferenças dentro do partido. Não existe nada tão rico na política como o PT. E o que construímos nos últimos dez anos no Recife nos deu uma força política grande na cidade. Nós somos protagonistas de mudanças importantes. Eu tenho duas diretrizes comigo para 2012. Primeiro, responsabilidade com tudo o que fizemos e com o futuro. E depois, diálogo. Estabelecer conversas francas, abertas, com todos os que fazem parte dessa frente política que nos permitiu fazer tantas mudanças. Sem o apoio dessa frente, o PT Não teria feito sozinho tudo isso. E esse é um sinal de amadurecimento do PT, saber que podemos coordenar uma frente, mas que o conjunto dessas forças é que nos dá sustentação política. E temos que ter muita responsabilidade com isso.

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