Apartamentos típicos de classe média já são ofertados por meio milhão de reais. Novo nível de preços assusta famílias e empresas
Vende-se apartamento na Boa Vista, três quartos, área de lazer, duas garagens, ótima localização, em frente ao Colégio Salesiano, dois anos de construído. Preço? R$ 428.000,00. Este apartamento existe, fica no Edifício Residencial Romeira e o preço assusta os interessados. Afinal de contas, o corretor, quando informa o valor, está falando de quase meio milhão de reais para um apartamento típico de classe média recifense. O mercado imobiliário parece que ficou louco e este é um exemplo das distorções que estão acontecendo. A poucos metros dali, na mesma rua, há um edifício em fase de acabamento, cujo preço do metro quadrado é mais barato que o do usado em questão: R$ 4.156,00 contra R$ 3.384,00 do novo.
A realidade atual assusta até mesmo profissinais experientes do ramo. “Apartamento usado por R$ 4 mil o metro quadrado na Boa Vista não existe, não vejo nenhum prédio novo que valha esse preço. Se pedir não vende, mas tem aquela questão. Todo dia sai um doido de casa, então é possível vender”, comenta o corretor José Carlos Cordeiro, da DMC Imóveis. Ele entende que as distorções acontecem atualmente porque o mercado ficou perdido com o preço estabilizado de alguns anos atrás. “De repente os imóveis subiram de preço por conta dos financiamentos, da melhoria de renda, do crescimento da economia. Os imóveis novos subiram de preço e o usado acompanha”, interpreta.
O efeito inflacionário do setor preocupa os empresários, um mercado que presenciou a valorização de até 100% nos valores nos últimos dois anos. “A pressão nos preços está chegando no limiar e este limite é definido pelo o quanto as pessoas podem pagar. Por isso acredito que a escalada para os próximos meses não se dará na mesma velocidade dos últimos anos, apesar das pressões de custo e demanda. Temos uma demanda mais aquecida do que o setor pode ofertar, pois as empresas não conseguem vencer os prazos legais e burocráticos para aumentar a velocidade de lançamentos”, analisa o presidente do Conselho Consultivo da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Pernambuco (Ademi-PE), Marcello Gomes.
A questão da oferta, no entanto, é um fator que continua a pressionar os preços. De acordo com os números do Índice de Velocidade de Vendas (IVV) medido pela Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe), o estoque de imóveis novos em oferta no mercado recifense nunca foi tão baixo. Em abril – último dado disponível – estavam na prateleira 2.248 imóveis novos, um volume 53% mais baixo que o registrado no mesmo período do ano anterior, quando as empresas ofereciam 5.443 habitações novas.
Para completar, a velocidade de vendas desses imóveis, apesar de estar mais baixa em relação a 2010, ainda continua alta, com um índice de 9,6%. Em outras palavras, isso significa dizer que cada edifício novo colocado à venda no mercado local é vendido com uma velocidade de quase 10% ao mês. Ou seja, um prédio estará totalmente comercializado, na média, em pouco mais de 10 meses. A escassez na oferta pressiona o valor dos produtos novos e estes puxam também o mercado de usados.
Por conta das pressões que incluem, ainda, a entrada de novos profissionais na cidade atraídos por Suape, o corretor Sérgio Miranda argumenta que nenhum preço pedido neste mercado pode ser considerado distorcido. “Hoje nada é abuso, pois o mercado vive num momento atípico. Se chega uma pessoa que quer morar, ela paga o preço. Agora, se alguém pedir um preço muito fora da realidade, não vende. Mas se os preços chegaram a este patamar é porque há demanda. O mercado é soberano e tudo que se coloca para vender, tem saído”, argumenta.
Outro fator importante nesta equação são as áreas da cidade onde não há possibilidade de imóveis novos. Na Avenida Boa Viagem, na Rua dos Navegantes e nos 13 bairros onde há restrições de construção, houve uma sobrevalorização dos usados e uma maior especulação de terrenos vagos.
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