Um ano após a enchente que devastou cidades da Mata Sul pernambucana, os esforços do poder público continuam na região, mas muitas pessoas ainda sofrem com o rastro de destruição deixado pelo Rio Una
Gente morando em abrigos, bairros inteiros isolados e estudantes assistindo aula em salas improvisadas. Um ano após a enchente que devastou cidades da Mata Sul pernambucana, os esforços do poder público continuam na região, mas muitas pessoas ainda sofrem com o rastro de destruição deixado pelo Rio Una. Durante a semana, a reportagem do JC visitou três dos municípios atingidos pela cheia de 18 de junho do ano passado e que quase foram varridos do mapa pela fúria da água – Palmares, Barreiros e Água Preta. A equipe verificou que em muitos locais parece até que a enxurrada aconteceu nesta sexta-feira (17).
Nesses 12 meses, entulhos foram retirados das ruas principais, a primeira etapa de um novo hospital já funciona em Palmares e 139 famílias que perderam tudo na tragédia ganharam novas casas. No entanto, tem gente que só ficou com a roupa do corpo e ainda espera por um teto, como o agricultor Amaro Francisco de Souza, 61 anos, morador de Água Preta.
Há um ano, ele mora na cozinha da maternidade da cidade, abrigo onde residem outras vinte famílias. “Já estou quase perdendo a esperança de me mudar. Ninguém vê casa sendo construída. Ano passado, nessa época, a gente estava numa boa. Agora, é só sofrimento”, lamentou o agricultor, em entrevista durante a semana.
Amaro Francisco morava no bairro de Jiquiazinho, completamente destruído pelas chuvas de junho de 2010. “Começaram o serviço das casas fora do tempo e depois pararam por causa da enchente deste ano”, destacou. Da cozinha da maternidade, o agricultor não sabia que 84 famílias de Palmares e 55 de Barreiros estavam prestes a ganhar sua novas casas, em evento com a presença do governador Eduardo Campos realizado nesta sexta.
De acordo com o chefe do Executivo estadual, até o fim do ano, casas serão entregues em Água Preta. O terreno já passou pela terraplenagem, mas por causa do tempo chuvoso, os imóveis só devem começar a ser erguidos no fim de agosto. “Em Água Preta, estamos construindo uma nova cidade. O terreno é super acidentado, que é um outro desafio dessa região. Mas quando o verão permitir, as obras vão embalar e vamos entregar casas em Água Preta ainda este ano”, garantiu.
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Já na Vila Baeté, em Barreiros, os moradores têm casa, mas permanecem isolados desde o ano passado, quando a ponte que ligava a comunidade ao Centro da cidade foi arrastada pela água. Dependem hoje de barcos. Na Prainha, a situação é a mesma. “Vi essa cidade ser construída e destruída. Logo após a enchente, apareceu um monte de gente prometendo ajudar. Agora, um ano depois, estamos sem ponte, vivendo da ajuda dos outros”, desabafou o comerciante Genaro Mendes de Souza, 72, que desde a cheia do ano passado, não conseguiu reabrir o bar de propriedade dele e destruído na cheia.
Para o padre José Gusmão, 55, que evitou tragédia maior ao tocar o sino da igreja para alertar para a enxurrada que estava por chegar, a cidade está abandonada. “A cidade está parada. Saúde, educação são precárias desde a enchente. Ano passado foi ano de eleição e muita gente apareceu aqui. Depois, abandonaram Barreiros de novo. E o que está sendo feito está emperrado na burocracia”, lamentou o religioso.
No hospital da cidade, destruído pela chuva e que funciona atualmente improvisado em uma unidade psiquiátrica de difícil acesso, pacientes são atendidos em um terraço. Recebem soro sentados em uma cadeira. No setor de observação, doentes que aguardam transferência para outra unidade dividiam, na última segunda-feira, a sala com um cadáver enrolado em um lençol.
À margem do Una, ribeirinhos que não voltaram para suas casas deixaram para trás o que agora são ruas-fantasmas. No meio do mato, onde antes eram casas na Rua Doutor Costa Maia, no bairro da Pedreira, em Palmares, agora sobraram apenas placas com o nome e telefone dos proprietários, em caso do governo resolver indenizá-los pelo prejuízo.
Mas uma pessoa resiste na Doutor Costa Maia. Resgatada de helicóptero após passar mais de oito horas no teto da residência com a família na enchente de 2010, a aposentada Josefa Teixeira da Silva, 79, é só esperança. “Meu filho, o pior já passou. Tô morando aqui sozinha nessa rua porque não recebi nada do governo e não tenho para onde ir. Mas espero ainda ganhar uma casa, que não dá para morar mais na beira do rio”, afirmou a aposentada, que tem como quintal da casa onde mora a calha do Rio Una.
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