quarta-feira, 22 de junho de 2011

Literatura elétrica

Criador de revista literária americana que circula em formato impresso, ebook, iPad, iPhone e PDF por e-mail fala sobre o futuro dos livros
Scott Lindenbaum, criador da revista literária Electric Literature. Foto Divulgação


RIO - O manifesto "Literatura, plugada", publicado ano passado na revista "Publishers Weekly", referência do mercado editorial americano, começava no tom apocalíptico que domina as discussões atuais sobre o futuro dos livros: "Era uma vez um fazendeiro chamado Noé, que percebeu um mudança assustadora de clima..." Diante das transformações iminentes trazidas pelas tecnologias digitais, que arca seria capaz de salvar o meio literário da extinção?, perguntavam-se os autores do texto, os jovens americanos Andy Hunter e Scott Lindenbaum. Recém-saídos da faculdade, onde editavam uma revista literária, eles apresentavam no manifesto uma ideia mais prática e menos grandiloquente ("uma jangada"), a partir de sua experiência com o então recém-criado projeto "Electric Literature".

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Revista de contos trimestral que circula em diversos formatos (impresso, ebook para Kindle, aplicativo de iPad e iPhone, arquivo PDF por e-mail), a "Electric Literature" será apresentada por Lindenbaum no debate "Novos espaços para a literatura", parte da série Oi Cabeça, que acontece nesta quarta-feira, às 19h30m, no Oi Futuro Flamengo, com entrada franca. Participam do debate o editor Paulo Werneck, do caderno Ilustríssima da "Folha de S. Paulo", o jornalista e escritor Sergio Rodrigues, que mantém o blog literário Todoprosa , e o editor Carlo Carrenho, do boletim "Publishnews", sobre o mercado editorial brasileiro.

Exemplares em diversas plataformas da revista Electric Literature, co-fundada por Scott Lindenbaum, que vai participar do evento Oi Cabeça, no Rio. Foto Divulgação


Em entrevista ao GLOBO por telefone, de Nova York, Lindenbaum explica as bases da "jangada" que construiu com Hunter. Criada em 2009, a "Electric Literature" procura usar as novas tecnologias para solucionar as duas maiores dificuldades desse tipo de publicação: a distribuição e a remuneração dos autores.

- Publicamos em todos os formatos viáveis, porque acreditamos que hoje não faz sentido impor às pessoas uma forma de ler. Amo os livros, e ainda faço a maior parte de minhas leituras na poltrona com um deles, mas quando estou no trem quero poder ler no meu telefone. Queremos chegar aos leitores onde eles estiverem - diz Lindenbaum.

Atualmente na quinta edição, a "Electric Literature" traz cinco contos por número e já publicou autores contemporâneos importantes, como os americanos Michael Cunningham, Rick Moody e Lydia Davis, e o espanhol Javier Marías, entre outros. O segredo da distinta lista de colaboradores, além da persistência (Hunter dirigiu seis horas para convencer pessoalmente Jim Shepard a participar do número de estreia), é o pagamento generoso de US$ 1.000 por conto. A revista garante esse valor economizando em impressão e distribuição, calcula Lindenbaum.

Com circulação média de 8 mil exemplares por edição, a revista vende no site Electricliterature.com edições em papel por US$ 10, num esquema de impressão sob demanda que permite tiragens menores e mais baratas, e edições digitais por US$ 5 (disponíveis também em Kindle, tablets e smartphones). Oferecidos em várias plataformas, os contos só não estão disponíveis no próprio site da revista.

- Não somos uma revista on-line. Não publicamos no site, porque quem acessa a internet espera conteúdo gratuito, e temos o compromisso de pagar bem aos nossos autores. Se as pessoas aceitam pagar para baixar toques de celular, podem pagar por boa literatura.

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