Literalmente os EUA montaram no Brasil
Para evitar calote em 1982, EUA exigiram apoio na Guerra Fria e facilidades no comércio
Há 30 anos, no auge da crise da dívida externa, os Estados
Unidos foram a tábua de salvação do Brasil, com a liberação de
empréstimos-ponte de US$ 1,5 bilhão no último trimestre de 1982. Essa
ajuda deu fôlego ao país, mergulhado na insolvência, até a formalização
de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) no ano seguinte, mas
o Brasil pagou um preço alto pelo apoio americano.
Documento secreto do Itamaraty no Arquivo Nacional, ao qual O GLOBO teve acesso, mostra como os EUA impuseram condições e exigiram vantagens. Este e outros documentos sigilosos e depoimentos inéditos iniciam a série de reportagens sobre o chamado “setembro negro” e a crise da dívida.
Pressionado pelo governo americano, o Brasil teve de se submeter a uma série de exigências, desde o alinhamento incondicional aos EUA na Guerra Fria à aprovação de propostas encaminhadas pela maior potência do mundo ao sistema internacional de comércio, mesmo que essas normas pudessem ferir, no futuro, os interesses brasileiros.
Em memorando secreto ao presidente-general João Figueiredo, em fevereiro de 1983, o então ministro das Relações Exteriores, Ramiro Saraiva Guerreiro, alertou o governo para o “alcance excessivo da proposta dos EUA e prováveis efeitos lesivos sobre o interesse nacional”.
A crise da dívida externa chegou ao auge após a moratória do México, em agosto de 1982, que foi seguida de uma severa restrição de liquidez nos mercados financeiros, e a brusca interrupção dos fluxos de empréstimos do sistema bancário internacional para os países em desenvolvimento. O período, conhecido como “setembro negro”, foi marcado por vários eventos: choques do petróleo, aumento das taxas básicas de juros dos EUA e a guerra entre Irã e Iraque.
O Brasil, que se sustentava às custas de uma política dependente de capital externo, até então bem-sucedida, revelou-se uma nação insolvente. Em uma reunião do FMI na cidade de Toronto, no Canadá, a equipe econômica descobriu que, após a moratória do México, o Brasil era considerado a “bola da vez” pela banca internacional. O país só conseguiu evitar um calote generalizado porque teve a ajuda dos EUA, que haviam contribuído para o caos que se instalou na América Latina, ao elevarem os juros a uma taxa de quase 20% ao ano, após uma nova crise do petróleo.
Em outubro e novembro de 1982, o Tesouro dos EUA liberou dois empréstimos secretos para o Brasil, no total US$ 1,5 bilhão, o que ajudou o país a sobreviver até começarem as negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Em visita ao Brasil, em dezembro daquele ano, o então presidente americano, Ronald Reagan, comunicou que haveria outro aporte de US$ 1,2 bilhão do Banco de Compensações Internacionais (BIS), graças à atuação dos EUA.
Documento ultrassecreto do Sistema Nacional de Informação (SNI), liberado recentemente para consulta no Arquivo Nacional, revelou que o presidente Reagan “sugeriu que sua visita poderia dar início a conversações, a nível interministerial, a propósito de temas tais como cooperação nuclear, na área industrial e militar, assim como no campo das atividades espaciais”.
Embora o Itamaraty estivesse alijado do processo de negociação da dívida, comandado pela equipe econômica, o chanceler Saraiva Guerreiro antevia uma fatura alta demais a ser paga em troca do apoio, impressão confirmada por ex-ministros da Fazenda de governos posteriores ao regime militar. No meio da crise, o ministro das Relações Exteriores recomendou ao governo “enxugar” a agenda do grupo de trabalho político-comercial entre Brasil e EUA em vigor.
Documento secreto do Itamaraty no Arquivo Nacional, ao qual O GLOBO teve acesso, mostra como os EUA impuseram condições e exigiram vantagens. Este e outros documentos sigilosos e depoimentos inéditos iniciam a série de reportagens sobre o chamado “setembro negro” e a crise da dívida.
Pressionado pelo governo americano, o Brasil teve de se submeter a uma série de exigências, desde o alinhamento incondicional aos EUA na Guerra Fria à aprovação de propostas encaminhadas pela maior potência do mundo ao sistema internacional de comércio, mesmo que essas normas pudessem ferir, no futuro, os interesses brasileiros.
Em memorando secreto ao presidente-general João Figueiredo, em fevereiro de 1983, o então ministro das Relações Exteriores, Ramiro Saraiva Guerreiro, alertou o governo para o “alcance excessivo da proposta dos EUA e prováveis efeitos lesivos sobre o interesse nacional”.
A crise da dívida externa chegou ao auge após a moratória do México, em agosto de 1982, que foi seguida de uma severa restrição de liquidez nos mercados financeiros, e a brusca interrupção dos fluxos de empréstimos do sistema bancário internacional para os países em desenvolvimento. O período, conhecido como “setembro negro”, foi marcado por vários eventos: choques do petróleo, aumento das taxas básicas de juros dos EUA e a guerra entre Irã e Iraque.
O Brasil, que se sustentava às custas de uma política dependente de capital externo, até então bem-sucedida, revelou-se uma nação insolvente. Em uma reunião do FMI na cidade de Toronto, no Canadá, a equipe econômica descobriu que, após a moratória do México, o Brasil era considerado a “bola da vez” pela banca internacional. O país só conseguiu evitar um calote generalizado porque teve a ajuda dos EUA, que haviam contribuído para o caos que se instalou na América Latina, ao elevarem os juros a uma taxa de quase 20% ao ano, após uma nova crise do petróleo.
Em outubro e novembro de 1982, o Tesouro dos EUA liberou dois empréstimos secretos para o Brasil, no total US$ 1,5 bilhão, o que ajudou o país a sobreviver até começarem as negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Em visita ao Brasil, em dezembro daquele ano, o então presidente americano, Ronald Reagan, comunicou que haveria outro aporte de US$ 1,2 bilhão do Banco de Compensações Internacionais (BIS), graças à atuação dos EUA.
Documento ultrassecreto do Sistema Nacional de Informação (SNI), liberado recentemente para consulta no Arquivo Nacional, revelou que o presidente Reagan “sugeriu que sua visita poderia dar início a conversações, a nível interministerial, a propósito de temas tais como cooperação nuclear, na área industrial e militar, assim como no campo das atividades espaciais”.
Embora o Itamaraty estivesse alijado do processo de negociação da dívida, comandado pela equipe econômica, o chanceler Saraiva Guerreiro antevia uma fatura alta demais a ser paga em troca do apoio, impressão confirmada por ex-ministros da Fazenda de governos posteriores ao regime militar. No meio da crise, o ministro das Relações Exteriores recomendou ao governo “enxugar” a agenda do grupo de trabalho político-comercial entre Brasil e EUA em vigor.
fonte:oglobo
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