domingo, 5 de junho de 2011

Imóveis menores e mais caros

Construtoras admitem a redução e dizem que não tem outro jeito. Construir apartamentos com os mesmos tamanhos médios de 15 anos atrás é economicamente inviável por causa do preço do terreno

Quem vai comprar um apartamento atualmente se espanta com o tamanho dos imóveis. Os clientes olham com desconfiança e não se imaginam vivendo num espaço tão pequeno. As salas perderam ambientes, os quartos encolheram, a cozinha ficou menor e a dependência de empregada completa virou artigo de luxo. As construtoras admitem a redução e dizem que não tem outro jeito. Construir apartamentos com os mesmos tamanhos médios de 15 anos atrás é economicamente inviável por causa do preço do terreno.

“Os terrenos estão caríssimos e as pessoas ainda preferem morar em bairros nobres como Casa Forte, Boa Viagem, Graças. Então o jeito foi diminuir o tamanho do apartamento para que o preço não ficasse tão alto a ponto do imóvel não ser vendido”, diz o diretor da Hábil Engenharia, Fernando Cabral. A empresa já ergueu prédios de luxo com apartamentos de um por andar com quase 300 metros quadrados. Hoje, esse tipo de imóvel é coisa rara no mercado imobiliário. Difícil de encontrar até no endereço mais nobre do Recife, a Avenida Boa Viagem.

Antigamente, todo lançamento na via tinha que ser um por andar. Agora muitos prédios já trazem duas unidades por pavimento. Além do preço do imóvel, o valor do condomínio inviabiliza esse tipo de privilégio. Em alguns casos mais nobres, a taxa mensal de condomínio das unidades exclusivas por andar chega a custar R$ 3 mil.

Como o preço do metro quadrado está muito valorizado no Recife, o aumento foi de 40% nos últimos anos, os apartamentos pequenos estão caros. Não é difícil encontrar lançamentos com 60 metros quadrados acima de R$ 250 mil. Valor que deixa muita gente espantada. Em um bairro nobre, os apartamentos com três quartos, uma suíte (perfil de apartamento mais procurado no mercado) e tamanho hoje considerado “gigante” (100 m²), já passam dos R$ 400 mil.

“As unidades de três quartos, com uma suíte, geralmente medem entre 60 e 80 m² hoje. As opções com 100 m² são raras. Há 20 anos, esse tamanho era comum e os apartamentos do tipo chegavam a ter 130 m²”, diz o corretor Eduardo Feitosa. O engenheiro de softwares Igor Ebrahim vai morar em um apartamento, no Rosarinho, de apenas 55 m² que custou R$ 190 mil. O imóvel será a nova casa dele, da esposa e do filho do casal (2 anos). Ele passou a infância em um apartamento de 100 m² e hoje vive nos 150 m² da casa dos pais.

Como Recife não conta mais com muita oferta de terrenos, as pessoas só vão encontrar lançamentos com mais espaço nos municípios vizinhos, como Olinda e Jaboatão dos Guararapes. “Muita gente vai ter que se acostumar a viver em outras cidades da região metropolitana para ter mais espaço. Hoje um imóvel com 150 metros quadrados já chega a custar R$ 600 mil em alguns bairros do Recife”, informa Cabral. Segundo ele, agora é muito comum os prédios terem três ou quatro unidades por andar, às vezes até mais, para diluir o preço do condomínio. “Para a classe média, o valor da taxa tem que girar entre R$ 400 e R$ 600. Mais do que isso fica difícil pagar em dia”.

As construtoras passaram a aproveitar todos os espaços para desenvolver produtos mais funcionais. “Antigamente, não tinha apartamento de quatro quartos com menos de 250 m². Agora você encontra com menos de 200 m². Foi preciso maximizar o aproveitamento do terreno para compensar o preço dele”, diz a superintendente da Marketing da Queiroz Galvão, Carol Boxwell.

O conceito de área de lazer também mudou muito ao longo dos anos. O pacote básico de antigamente com piscina, salão de festas e playground ganhou contornos quase desmedidos por causa dos denominados condomínios clubes. Foram criados espaços de lazer inusitados como garage band, cinema e até lava-jato. Tudo para compensar o espaço (ou a falta dele) dos apartamentos.

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