quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

China, Brasil e o espelho retorcido, por Bruno Lima Rocha


No sábado dia 12 de janeiro Beijing, capital da China e cidade imperial, bateu recordes absolutos de poluição atmosférica. Lembrando os piores dias de Cubatão, o ar ficou irrespirável superando em quarenta vezes os índices toleráveis pela humanidade.
Como já escrevi aqui em outras ocasiões, nada disso é novidade e faz parte do paradoxo contemporâneo.
Desde que implantaram como razão de Estado o lema de Deng Xiao Ping (Enriqueçam!), o país de Mao Zedong não mede esforços para o crescimento econômico e o desenvolvimento – a qualquer custo - das forças produtivas. O problema reside aí.
Inicialmente através de Zonas de Processamento de Exportações (nos anos 1980), depois com a progressiva liberalização da economia (embora ainda sem a abertura do mercado de capitais), o capitalismo chinês aproximou dois extremos complementares.
Por um lado, aplica de forma exemplar a premissa neoliberal de que as liberdades econômicas estão acima das liberdades políticas. Por outro, as formas de contenção das democracias liberais de pouco ou nada valem.
Dentre estas, o pacote de leis ambientais, que embora melhorem a qualidade de vida dos cidadãos, em último caso, reduzem a produtividade e os ganhos em escala. Entre o lucro e a vida, os mandarins convertidos em empresários selvagens fizeram sua escolha.
Já a democracia brasileira arrumou uma “solução” para este mesmo problema. Temos outro tipo de paradoxo, menos sincero. Aqui se combinam a mais avançada legislação ambiental do mundo com um selvagem crescimento do agro-negócio e da extração de matérias-primas.
Liderada pelas commodities soja e minério, a balança comercial brasileira ancora o crescimento nacional. Dependemos da venda de produtos primários sem valor agregado.
A conta é salgada, tanto em termos de dependência da apreciação destas mercadorias como para os biomas brasileiros. O desenvolvimentismo nacional não leva em conta o fator cultural e nem as formas de vida.
Projetos como Jirau ou Belo Monte materializam o conceito. Para completar a tragédia, os colunistas conservadores classificam quem defende o uso racional dos bens não duráveis de “eco chatos”.
Elogia-se o crescimento chinês em seus piores aspectos enquanto aqui se consolida uma irresponsável plataforma de exportação primária. A biodiversidade é considerada o ativo mais importante nos discursos oficiais, mas nunca é prioridade nas políticas de desenvolvimento.
É esta a convicção do Executivo. O cenário internacional dos emergentes é como um espelho retorcido.

Bruno Lima Rocha é cientista político

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