segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Em reunião ministerial, Dilma fecha estratégia por PIB mínimo de 4%

Cortes no orçamento vão poupar investimentos e programas sociais. Bancos públicos terão de emprestar mais cobrando juros menores. Para ajudar indústria, setor mais afetado pela crise global, governo continuará agindo no dólar e sendo protecionista. Dilma quer evitar modesto desempenho do PIB de 2011 e terminar mandato com crescimento superior ao de Lula.


BRASÍLIA – O governo Dilma começou freando a economia, para conter a inflação. No início do segundo ano, porém, a ordem – e o discurso – presidencial é acelerar, para que o país cresça ao menos 4%, acima das expectativas do “mercado”. Para isso, o governo vai preservar investimentos e programas sociais de cortes no orçamento, quer os bancos públicos emprestando mais e com juro menor, adotará medidas protecionistas e cambiais a favor da indústria, continuará apostando no mercado interno.

O rumo do governo em 2012 foi definido pela presidenta nesta segunda-feira (23), na primeira reunião ministerial do ano e a segunda desde que ela assumiu. Com dados e estimativas a indicar que a expansão brasileira no ano passado não empolgou (cerca de 3%), a presidenta tem hoje a preocupação de evitar a repetição do desempenho. E sabendo que o cenário mundial será ainda pior, o que aumenta a responsabilidade oficial.

A estratégia governamental foi descrita à imprensa, depois da reunião, pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. A principal ação será poupar os investimentos públicos do arrocho fiscal que o governo anunciará em fevereiro no valor dos gastos aprovados pelo Congresso no orçamento 2012. Obras de infra-estrutura, do programa de construção de moradias, da Copa do Mundo de 2014, tudo escapará do corte. “O ano de 2012 será de aumentar os investimentos”, disse Mantega.

Em 2011, o governo bloqueou R$ 50 bilhões do orçamento, para esfriar a economia e brecar a inflação. Agora, o “mercado”, em relatórios e economistas que dão entrevistas, pressiona por um bloqueio de R$ 60 bilhões. Mas por outro motivo. Só com esta tesourada o governo seria capaz de cumprir a meta de pagar R$ 140 bilhões em juros da dívida pública, o chamado superávit primário.

Como o “mercado” aposta que em 2012 o país de novo vai crescer em torno de 3%, a arrecadação – que varia conforme o crescimento - não seria suficiente para o governo cumprir todas as despesas previstas no orçamento aprovado pelo Congresso. Aí teria de fazer uma opção: ou gasta ou paga juros.

Segundo Mantega, os valores apontados pelo “mercado” não merecem crédito e devem ser “desconsiderados”. Mas ele admite que vai haver cortes sim, só que com foco em gastos do dia a dia, como a presidenta avisou à equipe na reunião. “Não é um ajuste fiscal quer corta investimentos. Mas os ministérios terão de continuar com disciplina no custeio”, afirmou o ministro.

Um certo controle dos gastos públicos, na avaliação do governo, continuará permitindo que o Banco Central (BC) mantenha sua política de corte da taxa de juros iniciada em agosto de 2011, o que também contribuiria para a economia crescer mais em 2012 – ainda que haja setores críticos de uma que o BC estaria sendo “tímido” nas reduções da taxa.

A queda no juro do BC tem impacto na taxa cobrada pelo bancos nos empréstimos a empresas e pessoas comuns, mas o governo quer que o custo do dinheiro baixe ainda mais este ano, porque crédito mais barato estimula o consumo, que por sua vez anima a atividade econômica. E, para que isso ocorra, Mantega diz haver orientação para que as instituições públicas se esforcem mais para reduzir o juro ao cliente final. “O importante é aumentar ao crédito a reduzir o custo”, disse.

Baratear o crédito é uma medida que estimula o mercado interno, que o governo acredita que, hoje, tem uma certa vida própria, algo descolado do desempenho da economia em geral. E esse mercado interno também seria um trunfo poderoso para que o Brasil avance em 2012. A taxa das riquezas nacionais em 2011 foi mais ou menos a metade da verificada em 2011, mas a criação de empregos com carteira assinada caiu menos (cerca de 25%).

Segundo Mantega, a economia brasileira hoje tem essa “peculiaridade” no mercado de trabalho, que ele atribui ao modelo de desenvolvimento implementado nos últimos anos: daria mais ênfase a setores geradores de mão de obra. Por isso, disse Mantega, o Brasil continuará distribuindo renda. “A classe E está em extinção”, afirmou. “Há uma grande classe média sendo criada no Brasil.”

Uma classe média que, na avaliação do governo, estaria “confiante”, e confiança é um elemento-chave no desempenho de uma economia – quando as pessoas acham que vão continuar empregadas ou até arranjar um melhor, compram mais. E essa confiança, disse Mantega, “vai fazer girar a roda da economia” em 2012, colaborando para acelerar o crescimento.

De acordo com ele, o crescimento brasileiro este ano ficará entre 4%, o pior cenário, e 5%, o melhor. Tudo vai depender do comportamento da economia mundial. É o mesmo cenário com que Dilma trabalha desde o fim do ano passado, como contou a jornalistas durante café da manhã de confraternização em dezembro.

Segundo Mantega, os mais recentes cálculos da Fazenda mostram que o crescimento brasileiro vai ser maior ano a ano, até 2014. Ele estima que a média do governo Dilma será de um PIB expandindo 4,8%. No segundo mandato do ex-presidente Lula foi de 4,6%.

Para que essas projeções se confirmem, será fundamental a recuperação da indústria, setor que mais sentiu o golpe provocado pelas turbulências externas no ano passado. Além de esperar que o pacote de medidas anunciado ainda em 2011 comece a fazer efeito mais fortemente em 2012, o governo diz que vai seguir com decisões cambiais e protecionistas que apoiem o setor.

"Os mercados estarão mais disputados [este ano]", disse Guido. "O importante é criar condições para a indústria ter um desempenho melhor."

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