quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Por empregos, EUA aposta na classe média de Brasil, China e Índia

Obama lança plano de estímulo a turismo estrangeiro para atrair brasileiros, chineses e indianos, provenientes de 'economias emergentes com crescente classe média'. Visto norte-americano terá novas regras para sair mais rápido. Ideia é atrair dólares para gerar empregos, fragilidade de Obama na reeleição. Decisão ajuda a criar clima mais favorável para visita planejada por Dilma.


BRASÍLIA – O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, quer tirar proveito do crescimento econômico e da classe média de Brasil, China e Índia, três dos cinco BRICS, o grupo das economias emergentes mais dinâmicas da atualidade, para gerar empregos para norte-americanos. Por isso, decidiu facilitar a entrada especialmente de brasileiros e chineses no país, a fim de explorar as possibilidades comerciais proporcionadas pelo turismo.

A concessão de vistos nas embaixadas e consulados norte-americanos no Brasil e na China terá novas regras que tornarão o processo menos burocrático e mais rápido. A iniciativa faz parte de um programa de incentivo ao turismo estrangeiro anunciado por Obama nesta quinta-feira (19), numa cidade escolhida estrategicamente, por ser atração turística: a Disney World, no estado da Flórida.

Segundo uma nota oficial disponível na página eletrônica da Casa Branca, a sede de Presidência norte-americana, turistas brasileiros, chineses e indianos injetaram 15 bilhões de dólares nos Estados Unidos em 2010, com os quais estimularam a criação de milhares postos de trabalho. Dados do Departamento de Comércio indicam que cada turista brasileiro gasta em média 5 mil dólares, enquanto os chineses deixam 6 mil dólares.

No ano passado, ainda segundo o informe da Casa Branca, as seções consulares norte-americanas examinaram um milhão de pedidos de visto de chineses e 800 mil de brasileiros, crescimento de 34% e 42%, respectivamente. Com o novo programa de incentivo ao turismo, o governo Obama quer aumentar esses números em 40% em 2012.

“O número de viajantes provenientes de economias emergentes - e este é um dos alvos da iniciativa do presidente - com crescente classe média, como China, Brasil e Índia, deve crescer 135%, 274% e 50%, respectivamente, até 2016 em relação a 2010. Portanto, há uma enorme oportunidade aí”, diz a nota da Casa Branca, segundo a qual Obama pretende transformar os EUA no destino número um do turismo internacional.

Segundo a Casa Branca, a indústria do turismo representa 2,7% das riquezas produzidas nos EUA durante um ano (PIB) e emprega 7,5 milhões de pessoas. Com o programa de incentivo, um milhão de novas vagas poderia ser criado.

Reeleição e Dilma

O mercado de trabalho é um dos problemas mais delicados nos EUA desde a eclosão da crise financeira mundial em 2008. E se torna um problema ainda maior em um ano eleitoral como será 2012, em que Obama tentará renovar o mandato.

A taxa de desemprego, que em janeiro de 2008 era de 5%, dobrou até 2010. E manteve-se acima de 9% durante quase todo o ano de 2011. No fim do ano, fechou próxima de 8,5%. Como comparação, a taxa brasileira está em 5,2% (último dado disponível, relativo a novembro), a menor da história.

Relatório sobre a economia mundial em 2012 divulgado na última terça-feira (17) pela agência das Nações Unidas que estuda comércio e desenvolvimento (Unctad) prevê que a economia dos EUA vai crescer 1,5% este ano, 0,9 ponto a menos do que na projeção anterior, feita em junho de 2011.

Para a Unctad, os EUA têm problemas políticos – o Partido Republicano, adversário do democrata Obama, não ajuda o presidente, pois quer sucedê-lo – e pode até entrar em recessão.

O plano turístico de Obama lançado nesta quinta-feira (19) tem um objetivo interno, mas também tem impacto do ponto de vista diplomático, já que a presidenta Dilma Rousseff prepara uma viagem aos Estados Unidos para março. Pretende retribuir visita oficial de Obama um ano antes, apenas três meses depois de ter tomado posse.

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