segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O sonho do Etanol

Carlos Alberto Fernandes*

A oferta de etanol não será mais estratégica para o Brasil, no médio prazo. Apesar da quebra das barreiras tarifárias sobre o etanol pelo governo americano, o Brasil fecha suas próprias portas para a exportação do nosso biocombustível à base de cana de açúcar.
Segundo o ex-governador Joaquim Francisco, “descobriu-se, que não dispomos de etanol para atender ao nosso mercado interno. Portanto, não podemos exportar o que não temos.”

Ademais, com a importação do etanol de milho dos EUA, a sétima economia do mundo foi vítima do planejamento estratégico anti-sistêmico. Nas métricas das alternativas energéticas confundiram desejos com objetivos. Sonhos com realidade. Alhos com bugalhos.

Para o mercado internacional, esse cenário abriu um flanco de avaliação irresponsável no campo da energia renovável. As demandas contra o protecionismo americano caíram sobre nós como as tragédias das chuvas de verão. E como tal, as palavras oficiais rolaram ladeira abaixo e se transformaram em meros esqueletos políticos.

Afinal, depois de mais de 30 anos de protecionismo ao etanol produzido a partir do milho, os Estados Unidos, finalmente, cederam e liberaram a entrada do produto brasileiro. Nesse aspecto, até a presidente Dilma Roussef fez discurso elogiando o fim das tarifas e dos subsídios americanos ao etanol. Teoricamente, estaria aberto o mercado dos nossos sonhos.

Mas, eis que, paradoxalmente, o governo toma um choque de realidade e coloca freios na exportação do produto. A medida teria como objetivo evitar que o etanol deixe o País por causa da oferta limitada do produto existente hoje no mercado interno.

No entanto, o maior agravante foi o início da importação de etanol de milho produzido pelos americanos para suprir nossa demanda interna. São medidas de natureza contraditória como essa que deixa perplexo o mercado internacional. E nesse aspecto, emergem questões polêmicas sobre como o país exercita o planejamento estratégico no campo da energia renovável.

De qualquer sorte, o Etanol, a exemplo do Pré-Sal, foi transformado numa questão política sem a necessária avaliação de consequências. Nesse sentido, no curto prazo, a situação é péssima para a imagem do País no exterior que se promoveu como importante produtor e potencial exportador de etanol.

Se fossem objeto de avaliação de risco pelas agências internacionais, as ações que decorrem dessas análises no Brasil seriam tratadas como hilárias. Lutar pela abertura do mercado e não ter o produto para ofertar é muito mais que uma aguda inconsistência de avaliação, na medida que pode ser tratado como blefe político.

Enfim, com relação ao etanol, o mercado se abre, mas as portas se fecham. Se para uns é um sonho desfeito, para os mais críticos, é um crime de responsabilidade.

Responsabilidade técnica, social e política.

*Economista e professor da UFRPE

fonte:blogdomagno

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