Carlos Alberto Fernandes*
A realidade sofre suas mutações de contexto, mas o homem se mantém o mesmo.
Os interesses pessoais continuam se sobrepondo aos interesses coletivos. E, independentemente de virtuais ideologias e de siglas partidárias, as elites políticas fazem jus a história e continuam anestesiadas aos seus círculos de importância e interesse.
Na Idade Média, com a concessão de terras baseada em vínculos pessoais ocorreu a consolidação de um novo princípio de organização social: o feudalismo. E, uma nova forma de relações institucionais: o clientelismo.
O chefe do partido negociava com o governante e com os chefes de partidos aliados quem iria ocupar os cargos estratégicos, as chefias nacionais regionais e locais. Eram os duques, os condes e tempos depois, os cavaleiros.
Dessas posições dependia uma rede de funções que os detentores dos cargos estratégicos usavam para distribuir com seus séqüitos. Estes apoiavam o governante, porque sempre esperavam em troca uma rica quantidade de cargos e de benesses.
Entre esses, existia aquele que pela sua capacidade e prestígio pessoal junto ao governante ou por ser da família, podia receber e distribuir cargos incorporando ao governo um maior número de vassalos. Eram os hábeis e virtualmente competentes.
Esta teia de relações formava um circuito fechado de súditos leais. Quem tinha feudos a conceder tinha vassalos. Quem tinha vassalos, tinha acesso a cargos, privilégios e benesses. Essa foi uma das fórmulas adotadas pelos governantes da época para consolidar o feudalismo e ampliar suas conquistas.
No entanto, o mesmo circuito fechado pode atuar ao contrário quando a sorte trai o homem que lidera. Se cometer erros em demasia, a sorte o abandona. Os seus seguidores também. Era precisamente por isso que na Idade Média se apelava tanto paraa fidelidade e gratidão.
Isso fez da Idade Média a época das querelas partidárias. A concorrência entre os legítimos e os hábeis era uma constante. O programa do partido reduzia-se invariavelmente ao líder. Ao chefe de uma rede de influências. Naquela época o mote político se confundia com o clã familiar: Capuleto, Montéquio, York ou Lencastre.
A história está aí para se compreender as raízes dos princípios que sobrevivem e dão sustentação ao nosso sistema político e a sua luta dialética para se mostrar novo e moderno. Assim, os ensinamentos políticos da história e a sua aplicação pelos governantes e por seus prepostos, não são meras coincidências.
*Economista e professor da UFRPE
fonte:blog do magno
Nenhum comentário:
Postar um comentário