segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Governo começa 2012 com planos de tornar Copa 'agenda positiva'

Brigas com Fifa e CBF e acusações ao ministro do Esporte impediram exploração política do maior evento do mundo e facilitaram ataques rivais. Agora, governo tenta enquadrar Copa como fonte de boas notícias. Testado oficialmente pela primeira vez como 'garoto-propaganda', durante inspeção da Fifa, Ronaldo diz que missão é fazer brasileiro ficar 'orgulhoso' com investimentos.

BRASÍLIA – O governo quer transformar a Copa do Mundo de 2014, que é um evento esportivo mas tem repercussão política, em agenda positiva. Em 2011, atritos com a Fifa sobre a Lei Geral da Copa, a figura do cartola Ricardo Teixeira como “face” do evento e as denúncias que derrubaram o ministro do Esporte impediram a presidenta Dilma Rousseff de tirar proveito do fato de o Brasil sediar a competição - e ainda abriram espaço para ataques adversários. Agora, o governo quer que tudo isso seja passado.

O plano foi deflagrado nesta segunda-feira (16), com a chegada do secretário-geral da Federação Internacional das Associações de Futebol (Fifa), Jérôme Valcke, e sua comitiva para a primeira inspeção de 2012 dos preparativos para a Copa. O grupo vai percorrer cidades que receberão partidas, como Fortaleza e Salvador, informando-se sobre obras de estádios e transporte e negociando pendências da Lei Geral, ainda não aprovada.

Antes das visitas, que para a Fifa seriam rotina, Valcke reuniu-se com o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, que o chamara para uma conversa que também teria o ex-jogador Ronaldo. Ao final, em entrevista, o centroavante, que foi indicado pelo governo para integrar o Comitê Organizador Local (COL) da Copa, foi testado pela primeira vez, oficialmente, como garoto-propaganda do torneio, enquanto Rebelo mandava recados políticos e buscava mostrar harmonia com a Fifa.

“Esse é o início de uma agenda positiva da Copa do Mundo”, disse Ronaldo, ao abrir a entrevista. O ex-jogador do Corinthians afirmou que vai trabalhar para ajudar a realizar a “melhor Copa de todos os tempos” e mostrar que “somos bons de bola e bons organizadores”. Garantiu que está otimista. E resumiu assim sua missão: “Fazer com que o brasileiro fique orgulhoso de receber o maior evento do mundo e investimentos que, sem a Copa, talvez demorassem anos”.

O COL tem dois membros no Conselho de Administração e ainda contará com um terceiro. Antes de Ronaldo ser incluído, por pressão do governo, em dezembro, o "rosto" da Copa era a do outro integrante já definido, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira. Uma "cara" sabidamente antipática que não contribuía para a imagem da competição.

Além da personalidade, a vida profissional do cartola também era um risco de marketing para a Copa e, por isso, um risco político para o governo. O cartola é alvo de inquérito da Polícia Federal (PF), aberto em outubro para apurar se ele lavou dinheiro e patrocinou evasão de divisas. Acuado pelas investigação, Teixeira teve de engolir Ronaldo no COL.

Na entrevista, Aldo Rebelo também não perdeu a chance de politizar o tema “Copa”, a exemplo de Ronaldo na declaração sobre investimentos. Contou ter “transmitido” à Fifa “a determinação da presidenta Dilma e do ministério do Esporte em promover todos os esforços necessários para que o Brasil realize uma Copa do Mundo à altura das expectativas do mundo e do país”.

Conhecido nacionalista e representante do Partido Comunista do Brasil no governo Dilma, Rebelo chamou a Copa de “acontecimento magno” não só do esporte, mas de toda a humanidade, por ser o “mais democrático e acessível” evento do planeta, tendo como protagonista uma paixão popular como o futebol. E ressaltou a função social que vê neste esporte no Brasil: “[Uma] Porta aberta, num país desigual e desequilibrado, de promoção de jovens talentosos.”

No cargo desde outubro em substituição a Orlando Silva, que deixou o ministério acusado – ainda sem comprovação - pela imprensa de desvios éticos, Rebelo disse que o governo tem feito a parte que lhe cabe na realização da Copa. Haveria obras “bem encaminhadas” nos estádios e “em curso” na mobilidade urbana (aeroportos, ônibus, metrô) e compromisso dos deputados de votar “em março” a Lei Geral. “[A Copa será] Um sucesso de organização”, afirmou.

Na entrevista, o francês Jérôme Volcke cumpriu o script desejado pelo governo: não alimentar - nem ressuscitar – polêmicas que marcaram 2011 sobre desentendimentos entre o governo e a Fifa. “Estamos juntos. Não há nada de errado entre os três organizadores mais importantes da Copa”, disse o cartola, referindo a governo, Fifa e COL. “Vamos para a frente. Essa é a coisa mais importante agora.”

Na próxima quinta-feira (19), governo e Fifa vão se reunir para fechar um documento sobre um dos tópicos que mais interessam aos brasileiros em relação à Copa: o preço dos ingressos. Pressionada pelo governo e pelos deputados, a entidade aceitou que haja uma categoria “popular” de ingressos, no valor estimado de R$ 50, que atenderia jovens, idosos, índios e pessoas pobres que recebem bolsa família. Mas ainda falta ajustar detalhes operacionais até a votação da Lei Geral da Copa.

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