A América Latina parece realismo fantástico. A posse de corpo ausente de Hugo Chávez foi um ritual não escrito na Constituição do país, nem de qualquer democracia. A sensação é de que a ficção de Gabriel García Márquez é, na verdade, uma crônica atemporal da região. O enredo vivido poderia se chamar O Governante em seu Labirinto; O Outono do Coronel; ou Ninguém vê o Coronel.
Deplorável ver o contorcionismo da diplomacia brasileira para justificar que concorda com a solução ao arrepio da Constituição venezuelana, apesar de ter liderado a suspensão do Paraguai do Mercosul.
O Itamaraty disse que não cabe ao Brasil julgar a constituição de outros países. Falta saber por que com o Paraguai foi diferente.
Ontem, o presidente em exercício anunciou que vai a Cuba se encontrar com os presidentes da Argentina e do Peru. A Venezuela passa pela inusitada situação de ter o centro do seu poder mais em Havana do que em Caracas.
O motivo que explica a paixão de uma parte do povo venezuelano por Chávez, e a sua longa permanência no poder, não está na economia. O país cresceu moderadamente, e a inflação acumulada nos 14 anos superou 1.500%. O chavismo nasceu dos erros dos partidos tradicionais e das políticas que Chávez adotou para os mais pobres.
Seus pontos fortes foram as políticas de transferência de renda e a melhoria de condições de vida nos barrios, as favelas venezuelanas. A desigualdade caiu a um dos níveis mais baixos da região. Segundo a ONU, o índice de Gini do país é de 0,41 e a taxa urbana de pobreza caiu de 49% para 29%.
Mas tudo em Chávez é contraditório. Ao mesmo tempo em que essa melhoria social acontecia, o país viveu um espantoso surto de violência urbana.
Em 1998, antes de Chávez assumir o poder, a taxa era de 20 homicídios por 100 mil, por ano. Em 2012, foram 73 por 100 mil. Em números absolutos, saiu de menos de 5.000 para 21.600 assassinatos por ano.
Leia a íntegra em A Venezuela em seu labirinto
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