Vivemos uma soma de átimos ou um presente expandido? É um dilema antigo. O presente de Kairos e o presente de Chronos. Quando me falta tempo, acredito no presente denso, profundo e expandido de Chronos. Rezo a ele pedindo que estique meu tempo… Que faça o tempo do outro passar devagar o suficiente para que o meu se encaixe no compromisso pendente.
Não que eu tenha dificuldades de lidar com o tempo. Além do mais considero, como Oscar Wilde, que a pontualidade nos rouba tempo da vida.
Quando acontece algo de extraordinário, como o silvo do raio antes da explosão, vejo o presente de Kairos mudando o curso dos acontecimentos. Kairos é o tempo de Deus. Chronos é o tempo medido.
Aquele telefonema com a boa ou má notícia. O telegrama (será que ainda existe?) que chega em destino longínquo. Em um átimo, tudo muda.
Tal reflexão é apropriada no final do ano, quando, entre outras tolices, estivemos esperando que o mundo se acabasse em um átimo.
Acontece, porém, que o mundo se acaba em um presente expandido, uma espécie de demolição diária de nossos recursos naturais. Uma soma de nossos vícios diários que vão solapando no doce silêncio de nossa complacência.
Será implacável o rumo de nossa decadência? Uns dizem que sim. Outros dizem que não. O que pode nos salvar? A política. Não é uma resposta fácil, por tudo que ela significa e, principalmente, não significa.
A política tem sido o curso sagrado de nossa perdição. Sagrado no sentido de que guardamos respeitável distância dos acontecimentos de nossa política. Como se não quiséssemos nos imiscuir naquilo sórdido que é a política.
Porém, ela – a política – segue inexorável, controlando nosso presente expandido. Manipulando os cordéis do tempo. Imperando com seus interesses. Condimentando a realidade com pitadas de satisfação para o povo.
Leia a íntegra em Ainda estamos na pré-história da política
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