por Fernando Lyra
Em 90 quilômetros de estrada não havia um só toque de verde. Era o início dos anos 1970 e eu estava em campanha para deputado federal. Visitávamos Petrolândia, no interior de Pernambuco. E meu primo Zé Humberto dirigia um Fusquinha azul. O calor e a falta de vida e de verde nunca me saíram da memória.
A seca é tema de debates e campanhas há tantos anos. O Dnocs, a Sudene e o Ministério da Integração se dedicam ao assunto. Sem falar nos estudos e pesquisas de especialistas e cientistas. E nenhuma solução definitiva.
Tive um momento de grande esperança no Ceará, quando da reestruturação da Sudene, sob o comando do presidente Lula e com a presença inesquecível de Celso Furtado, um dos ícones, senão o maior, do conhecimento e da preocupação com o quadro do Nordeste brasileiro.
Hoje, leio sobre a criação de comissões especiais do Congresso com o objetivo de cobrar do governo medidas especiais de combate à seca e para investigar o atraso nas obras da transposição do Rio São Francisco e da Transnordestina. Os parlamentares visitarão os locais afetados para acompanhar as consequências da seca. Quantas comissões já foram criadas? Câmara dos Deputados, Senado Federal, Ministério Público? Manchetes praticamente iguais às de ontem, do ano passado, das décadas passadas. Não tenho as respostas, mas todos vemos o que os especialistas podem fazer quando há vontade política e recursos disponíveis.
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Israel é um exemplo muito citado, mas não deixa de ser maravilhoso ver as imagens cheias de frutos que o deserto israelense produz. E Las Vegas, cidade milionária incrustada no meio do deserto? E torna maior ainda o golpe das imagens do nosso sertão, da nossa incompetência em resolver um problema com solução. É inadmissível que ano após ano o sofrimento se repita.
É mandacaru e macambira. Vida sem água, resistente e brava, espinhosa e árida. É fato noticiado todo ano. Do Maranhão ao norte de Minas Gerais. Sebastião Salgado fotografou os tons marrons e os olhos tristes e famintos de homens e animais. A arte imortaliza o sofrimento, a resiliência e a força do povo sertanejo. Artistas de todos os tipos choraram e cantaram, pintaram e contaram. Mas, novamente, nenhuma solução.
É difícil resolver algo a partir de pressupostos equivocados. A principal dificuldade que o País enfrenta está no próprio enunciado, no enfoque de combate à seca. Um fenômeno climático sistemático não é para ser combatido. Alguém imaginaria combater o gelo na Sibéria? Deve-se, sim, criar melhores condições de convivência com ele.
O mais importante com relação a esse problema é que existem técnicas adaptadas às condições do Semiárido. O renomado agrônomo cearense Guimarães Duque, por exemplo, desenvolveu um método para a agricultura de sequeiro que foi objeto de muitas homenagens, mas pouca ação para colocá-lo em prática.
E também, ao contrário do que se pensa e se divulga, existe água suficiente no Nordeste. Só que, pelo modelo econômico do latifúndio e do capitalismo tropical, a água também é pessimamente distribuída. Concentração de renda, concentração de terras, concentração do controle das águas, eis os pressupostos da tragédia que se renova.
Falta não apenas a vontade política mencionada. É necessária também a permanente mobilização popular. Enquanto o povo nordestino aceitar passivamente a perpetuação de práticas assistencialistas e do clientelismo que assume novas formas, mas mantém sua essência no trato da estiagem, o quadro dantesco se repetirá. Enquanto a solidariedade pontual e os bálsamos emergenciais continuarem a prevalecer, nada vai mudar de verdade.
Hoje a sociedade civil se organiza. Doação de alimentos, água e roupas ajudam. Mas e amanhã? Amanhã o resto do Brasil volta-se para outra causa e o sertanejo para sua realidade seca e permanente.
A realidade descrita por Rachel de Queiroz, no seu romance O Quinze, e por Graciliano Ramos, em Vidas Secas, espalhando pelo mundo verde as agruras do Sertão e do seu povo forte e sofrido, vai se eternizando. É verdade que ganha toques de modernidade. A moto substituiu o jumento. As comitivas de retirantes e de paus de arara não existem mais.
O sofrimento toma novas formas. Os prejuízos ganham novos critérios de mensuração. É a seca com ares de século XXI. Ecoa na consciência nacional, como atestado da incompetência generalizada, o canto de Luiz Gonzaga composto na década de 1950: “Seu doutor, uma esmola/para um homem que é são/ou lhe mata de vergonha/ou vicia o cidadão”.
Os artistas fizeram e fazem sua parte. Resta ao povo nordestino e aos seus representantes fazerem ouvir, bem alto, as vozes e os gemidos da seca. Não apenas em tom de lamento, mas, principalmente, de firme reivindicação.
fonte:carta capital
Renan, o indestrutível, por Josie Jeronimo
Seis anos depois de deixar a presidência do Senado acossado por denúncias de corrupção, Renan Calheiros manobra nos bastidores e se torna favorito para comandar o Congresso
Josie Jeronimo, ISTO É
Há seis anos, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) deixou a presidência do Senado pela porta dos fundos. Acusado de ter despesas pessoais pagas por uma empreiteira, Renan teve suas contas devassadas, perdeu musculatura política e não lhe restou outra saída senão renunciar ao posto.
Conseguiu, porém, evitar a cassação do mandato em plenário e, agora, é considerado nome certo para comandar o Congresso até 2014, ano da corrida presidencial.
Convencido do seu amplo favoritismo, Renan procurou fugir dos holofotes nos últimos dias. Só uma catástrofe tira a sua vitória. Como maior bancada do Senado, o PMDB tem a prerrogativa de indicar o novo presidente.
Além de não possuir adversários em condições de derrotá-lo no interior do partido, Renan conta com a simpatia de legendas da oposição, como o PSDB, partido que ajudou a fundar na década de 1980.
No apagar das luzes de 2012, senadores da chamada ala rebelde do PMDB até ensaiaram lançar uma candidatura alternativa. Foram cogitados os nomes dos senadores Luiz Henrique (SC) e Waldemir Moka (MS), mas
eles recuaram, cientes da falta de votos para superar Renan.
“Só entro na disputa se tiver a certeza da vitória”, blefou Luiz Henrique, praticamente jogando a toalha.
A recuperação de Renan e sua volta ao comando do Senado, seis anos depois de ser defenestrado da principal cadeira do Congresso, confirmam a máxima de que a Casa é uma espécie de associação entre amigos. O político disposto a atender aos anseios do “clube” se credencia politicamente até ser alçado ao poder.
Na lógica desse modelo, só pode alcançar o posto máximo do Senado quem for capaz de conciliar os interesses – muitas vezes escusos e nem sempre salutares para a democracia – de todos.
Conhecedor dos meandros e subterrâneos do Legislativo, Renan soube trilhar esse caminho com desenvoltura.
Sempre no topo, só uma catástrofe pode tirar a vitória de Renan
A retomada da força política de Renan ficou clara durante a CPI de Carlinhos Cachoeira, quando o governo precisou de seu partido e ele atuou para evitar maiores transtornos para aliados do Planalto durante as investigações. Teve êxito na iniciativa.
Leia a íntegra em Renan, o indestrutível
fonte:blognoblat
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