sábado, 12 de janeiro de 2013

Padre Tenório, um herói esquecido

MONOGRAFIA SOBRE O PADRE TENÓRIO
por Luiz Jasmim   


Túmulo abandonado do Padre Tenório, em Itamaracá
Túmulo abandonado do Padre Tenório na Igreja Nossa Senhora da Conceição, em Itamaracá. Clique na foto para aumentar
O Padre Pedro de Souza Tenório nasceu em Recife a 29 de junho de 1779, estudou em Lisboa, e ao ordenar-se, assume a paróquia de Nossa Senhora da Conceição, na condição de Vigário, na Ilha de Itamaracá, tornando-se o mais célebre dos habitantes desta Ilha em todos os tempos, desde a fundação da Feitoria por Cristóvão Jacques, passando pelos diversos donatários da Capitania, até os dias atuais.
Seus ideais de liberdade, na mais pura acepção da palavra foram reconhecidos por Henry Koster que o conheceu pessoalmente e ao qual se refere em sua obra intitulada ”Viagens ao Nordeste do Brasil” como um mártir da mais santa e grandiosa idéia: A liberdade de sua pátria.
A Revolução Republicana eclodiu em Pernambuco a 06 de março de 1817, arquitetada inicialmente por Domingos José Martins, que tanto em sua casa no Recife como em seu engenho no Cabo, reunia pessoas de expressão da sociedade onde pregava o descontentamento, principalmente, quanto aos altos impostos cobrados na época, pela Coroa, para manter os grandiosos gastos com seu luxo e pompa. Resultando na deposição do então Governador desde 1804 – Caetano Pinto de Miranda Montenegro.
Surgindo então o Governo Provisório composto por uma junta formada por:
Domingos José Martins – Comércio
José Luiz de Mendonça – Justiça
Domingos Teotônio Jorge – Exército
Padre João Ribeiro Pessoa – Clero
Manuel Correia de Araújo – Agricultura
Padre Miguel Joaquim de Almeida Castro – Interior
E assessorada por um Conselho Consultivo composto pelo Ouvidor Antônio Carlos de Andrada; o Lexicógrafo Antonio de Morais Silva; o Vigário Geral do Bispado Dão Bernardo Luiz Ferreira e o português Manuel José Pereira Caldas.
O Forte Orange era então ocupado pela artilharia, ligada a Corte e sua rendição deveu-se exclusivamente a interferência pessoal do Padre Tenório. Que conseguiu sem derramamento de sangue, convencer o comandante da tropa, composta na sua grande maioria por pernambucanos também ansiosos pela independência, a aderir ao movimento libertário. Diante de tal bravura, o Padre Tenório foi nomeado pelo Governo Provisório, para o cargo de Ajudante-Secretário.
O movimento denominado Revolução Republicana foi debelado pelas forças da Monarquia, sendo os seus líderes presos e condenados à morte por enforcamento. Porém as sementes da Liberdade e da República estavam plantadas em solo pernambucano.
O Padre Tenório refugiou-se ainda na Ilha de Itamaracá, onde tinha muitos amigos e admiradores que o acolheram com carinho. Até que foi delatado, preso e condenado ao enforcamento. Morreu em 10 de junho de 1817 aos 38 anos. Sua cabeça e mãos foram pregados e expostos em um poste na Vila de Goiana por vários meses, até caírem e serem depositados na Igreja da Misericórdia naquela Vila, o resto do seu corpo foi atado às caudas de dois cavalos, arrastado e dilacerado, para depois ser sepultado no Cemitério da Igreja de Santo Antonio no Recife.
Em 1845, quando o Pilar se transformou em sede da Paróquia da Ilha de Itamaracá, trouxeram os despojos do mártir para a Igreja de Nossa Senhora do Pilar, onde ficou até 1905, sendo então, transferido para o Instituto Arqueológico de Pernambuco, pelo bispo Dão Luiz de Brito.
Em 17 de maio de 2005 retornam à sua Igreja de Nossa Senhora da Conceição seus restos mortais que aqui repousarão para sempre, lembrando a todos nós, o mais importante legado de sua vida:
A LIBERDADE.

 

 

Eu, o coronel em mim


 
Cangaceiro
Mando e desmando. Faço e desfaço
Está cada vez mais difícil manter uma aparência de que sou um homem democrático. Não sou assim, e, no fundo, todos vocês sabem disso. Eu mando e desmando. Faço e desfaço. Tudo de acordo com minha vontade. Não admito ser contrariado no meu querer.  Sou inteligente, autoritário e vingativo. E daí?
No entanto, por conta de uma democracia de fachada, sou obrigado a manter também uma fachada do que não sou. Não suporto cheiro de povo, reivindicações e nem com versa de direitos. Por isso, agora, vocês estão sabendo o porquê apareço na mídia, às vezes, com cara meio enfezada: é essa tal obrigação de parecer democrático.
Minha fazenda cresceu demais. Deixou os limites da capital e ganhou o estado. Chegou muita gente e o controle fica mais difícil. Por isso, preciso manter minha autoridade. Sou eu quem tem o dinheiro, apesar de alguns pensarem que o dinheiro é público. Sou eu o patrão maior. Sou eu quem nomeia, quem demite. Sou eu quem contrata bajuladores, capangas, serviçais de todos os níveis e bobos da corte para todos os gostos.
Apesar desse poder divino sou obrigado a me submeter à eleições, um absurdo. Mas é outra fachada. Com tanto poder, com tanto dinheiro, com a mídia em minhas mãos e com meia dúzia de palavras modernas e bem arranjadas sobre democracia, não tem para ninguém. É só esperar o dia e esse povo todo contente e feliz vota em mim. Vota em que eu mando.
Ô povo ignorante! Dia desses fui contrariado porque alguns fizeram greve e invadiram uma parte da cozinha de uma das Casas Grande. Dizem que greve faz parte da democracia e eu teria que aceitar. Aceitar coisa nenhuma. Chamei um jagunço das leis, não por coincidência marido de minha irmã, e dei um pé na bunda desse povo.
Na polícia, mandei os cabras tirar de circulação pobres, pretos e gente que fala demais em direitos. Só quem tem direito sou eu. Então, é para apertar mais. É na chibata. Pode matar que eu garanto. O povo gosta. Na educação, quanto pior melhor. Para quê povo sabido? Na saúde…se morrer “é porque Deus quis”.
Às vezes sinto que alguns poucos escravos livres até pensam em me contrariar. Uma afronta. Ameaçam, fazem meninice, mas o medo é maior. Logo esquecem a raiva e as chibatadas. No fundo, eles sabem que eu tenho o poder e que faço o quero.  Tenho nas mãos a lei, a justiça, a polícia e um bando cada vez maior de puxa-sacos.
O coronel de outros tempos ainda mora em mim e está mais vivo que nunca. Esse ser coronel que sou e que sempre fui é alimentado por esse povo contente e feliz que festeja na senzala a minha necessária existência .
___
(*) Jornalista e escritor sergipano

6 comentários:

  1. Nossa! muito bom!!! um mártir da história do Brasil e nem sequer ouvimos falar!

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  2. Sou pernambucano e nunca ouvi falar nesse padre herói quando adolescente (década de 70 e meados de 80) nas aulas de história em Recife. Que tristeza! poucos pernambucanos sabem desse fato... parabéns pelo artigo!

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  3. Olá! Você saberia me informar sobre quem eram os pais do Padre Pedro SOuza Tenório? Ele era irmão de uma de minhas quinta-avós. Estou construindo minha árvore genealógica e buscando os nomes dos pais deles. Obrigada!

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    1. procure o livro: Ouricuri história e genealogia, de Raul Aquino
      Nele consta toda genealogia da família do vigário Tenório desde a chegada de sua família no Brasil

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  4. Após sua morte, sua família refugiou em Souza na Paraiba em razão de perseguições. Sua irmã conseguiu ordenar em 1823 um neto de nome Francisco Pedro da Silva no mosteiro de São Bento em Olinda. O então ordenado Padre Francisco Pedro da Silva foi enviado para o sertão pernambucano, e com a ajuda de seus irmãos Tomás Pedro de Aquino e Ricardo Pedro de Aquino fundaram a cidade de Ouricuri - Pe. Eu faço parte da 8ª geração da familia do Vigário Tenório.

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    1. Eu também. Francisco Pedro da Silva era meu quarto-avô. Você mora em Ouricuri?
      Obrigada!

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