A epidemia do veículo no trânsito exacerbou a demanda que já estava reprimida por falta de novos serviços nas duas últimas décadas
A epidemia de acidentes de motos es
tá aumentando a disputa por leitos de terapia intensiva em Pernambuco, que gera sofrimento extra aos pacientes e familiares. Apesar de novos serviços abertos recentemente pelo Estado, a lista de espera permanece interminável. Na última quinta-feira (4), 75 pessoas aguardavam vaga. O número estava acima da média calculada pelo Conselho Regional de Medicina para o primeiro semestre, já considerada 70% maior que a do início do ano.
“A nota fiscal de cada moto já deveria ser entregue com o atestado de óbito”, diz a coordenadora da UTI do Hospital da Restauração, médica Fátima Buarque, que defende mais educação e fiscalização no trânsito. Vinte anos trabalhando no setor, viu o perfil dos doentes mudar nesse tempo. “Antes, a UTI era o caminho de quem vivia a evolução natural da doença, como portadores de diabete ou vítimas de AVC. Hoje, cada vez mais aumenta a quantidade de politraumatizados do trânsito, principalmente por moto.”
Além de serem em maior número, esses pacientes demandam mais atenção do sistema de saúde. “Apresentam lesões graves, traumas cranianos e de tórax, além de fraturas expostas”, avalia a médica. Segundo ela, ao contrário de outras vítimas do trânsito, que demoram em média sete dias na terapia intensiva, quem sobrevive à moto passa de 15 a 21 dias na UTI, ajudando a tornar a oferta de leitos mais reduzida.
No Hospital Metropolitano Miguel Arraes, aberto há um ano e meio em Paulista, Grande Recife, pacientes vítimas do trânsito representam 50% do público que passa por cirurgia e disputa um dos 28 leitos de UTI da unidade.
Os ouvidores da Associação de Defesa dos Usuários de Sistemas de Saúde (Aduseps), Carlos Freitas e Júlio Bezerra, confirmam a alta frequência de acidentes de moto, conhecem diariamente a angústia das famílias na entrada das emergências do Hospital da Restauração e de outros grandes hospitais estaduais. Confirmam a alta frequência de motociclistas entre pacientes que aguardam vaga em UTI.
“Não entendo por que meu sobrinho de 20 anos, cheio de vida, ainda permanece na unidade de trauma. Webson José da Silva acidentou-se em Camocim de São Félix, Agreste. Deu entrada no HR no último domingo e até a quinta-feira, quatro dias depois, permanecia aguardando a abertura de uma vaga de UTI.
O secretário estadual de Saúde, Antônio Carlos Figueira, tem argumento para a espera que não diminui. “Estamos recuperando um passivo. Em 2007 existiam 228 leitos de UTI, já chegamos a 810 e vamos ultrapassar 900”, diz. Até dezembro ele espera corrigir o déficit total, de 118 leitos.
Antes disso, quer zerar a fila da pediatria. “Mas precisamos discutir a indicação da UTI para adultos. Senão, sempre haverá gente em lista de espera”, afirma. Segundo ele, pacientes crônicos precisam ser acompanhados em assistência domiciliar ou UCI, modalidades que o Ministério da Saúde ainda não financia.
Além da epidemia de motos, o aumento da expectativa de vida, a oferta de atendimento pré-hospitalar e o maior acesso aos serviços de saúde fazem com que mais gente necessite de UTI. “Até na rede privada é difícil vaga”, diz Figueira. Por ano, o Estado gasta R$ 224 milhões em terapia intensiva.
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