segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Quarenta e cinco anos depois, Gilberto Gil se reúne com colegas do TPN

O compositor baiano passou uma temporada no Recife em 1966




Um Gilberto Gil de 24 anos entoava os versos de Louvação para uma plateia fervorosa no placo do Teatro Popular do Nordeste (TPN). Durante dois meses de 1966, o compositor baiano viveu no Recife a convite de Hermilo Borba Filho, um dos fundadores do TPN. Na noite da última sexta-feira, quarenta e cinco anos depois, Gil voltou a se encontrar com os velhos amigos em um apartamento da zona norte da cidade e relembrou dos tempos em que lotava os 98 lugares do teatro ou: “Quando as coisas esquentavam colocávamos cadeiras e recebíamos até 110 pessoas”, disse a atriz Leda Alves.

O músico já não se lembrava da letra de Louvação (que deu nome ao seu primeiro álbum) com os mesmos detalhes, afinal de contas “não a canto há muitos anos”, no entanto, protagonizou ao lado de Leda Alves, Germano Haiut, Carlos Fernando, Paulo Ricardo e Wellington Lima um belo encontro, embalado pelos versos da mesma música que os uniu décadas atrás. “E louvo, pra começar/Da vida o que é bem maior/Louvo a esperança da gente/Na vida, pra ser melhor/Quem espera sempre alcança/Três vezes salve a esperança!”.

“Tudo acontecia lá”, lembrava o ator Germano Haiut numa roda de conversas. Ele se referia ao Teatro Popular do Nordeste (TPN), localizado na casa de número 1242 na Avenida Conde da Boa Vista, lugar no qual até o segurança era um “grande artista”. O TPN era um ambiente de resistência cravado em pleno Centro da Cidade em um dos períodos mais instáveis da nossa história política – a ditadura militar. Foi também um lugar de valorização da cultura popular, o “refugio dos condenados”, como preferiu denominar um de seus frequentadores.

“A história do teatro brasileiro passa por Pernambuco e, principalmente, pelo Teatro Popular do Nordeste (TPN), fora isso o TPN era um refúgio dos condenados. Gil fez show lá e sabe de tudo isso, foi o primeiro teatro que tinha uma livraria, uma cooperativa artística”, relembra Carlos Fernando, compositor que já trabalhou ao lado de nomes como Alceu Valença e Geraldo Azevedo.

“Passei entre seis e sete semanas no Recife, vim a convite do Hermilo, que estava atento a tudo que acontecia, o surgimento dos novos talentos de todos os lugares, especialmente do Rio de janeiro e de São Paulo. Talentos que tivessem ligados à luta e a característica da época que era a resistência e as lutas pelas liberdades: contra a guerra do Vietnã, as terríveis guerras coloniais na África. Havia todo um engajamento de jovens da literatura, da música e o TPN era esse polo, essa trincheira aqui no Recife”, relembra Gil. O músico não foi o único a ser convidado: Paulinho da Viola, Edu Lobo, Geraldo Vandré também fizeram shows no Recife nos palcos do teatro da Conde da Boa Vista.


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